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Jogador de vôlei recusou Olimpíada para ficar no balcão de farmácia

Samir Sellami, jogador de vôlei da Tunísia  - EFE/EPA/ANDRZEJ GRYGIEL
Samir Sellami, jogador de vôlei da Tunísia Imagem: EFE/EPA/ANDRZEJ GRYGIEL

José Ricardo Leite

Do UOL, em Katowice (Polônia)

10/09/2014 06h00

Problemas de lesão, indisciplina, corte ou até a frustrante não qualificação. Muitos esportistas já derramaram lágrimas por terem que acompanhar da TV de casa o momento que pode ser considerado o mais especial para um atleta que não é do futebol: disputar uma Olimpíada. Eles dariam o que fosse para vivenciar o clima da vila olímpica, ver atletas do mundo todo, duelar contra os melhores e ter a chance de uma medalha.

Mas nem todo mundo pensa dessa maneira e há quem tinha essa chance nas mãos e simplesmente não quis ir. Claro que com seus motivos e explicações. É o caso do levantador da seleção da Tunísia de vôlei, Samir Sellami, capitão da equipe que disputou o Mundial de vôlei da Polônia e foi eliminada no domingo.

O jogador é um velho de guerra do time e já disputou os Jogos de Atenas, em 2004 e dois Mundiais. Mas decidiu abandonar o barco da seleção tunisiana que estava classificada para a Olimpíada de Londres, em 2012, para cuidar de sua farmácia na cidade tunisiana de Sfax.

Ele é formado há seis anos e preferiu ficar no balcão de seu estabelecimento porque não achou uma pessoa qualificada que pudesse ocupar seu lugar durante as semanas de disputa. Nem pensou na ideia de fechar o estabelecimento naquele período para não perder dinheiro. Acabou vendo da tela de casa seu time jogar. 

"Infelizmente não pude ir mesmo. Aquele era um momento complicado para o meu negócio e eu não tinha uma pessoa de confiança que pudesse tomar conta. Hoje a situação é diferente, já posso rodar com a minha seleção nas competições porque consegui contratar uma pessoa", avisa Sellami.

"
Tenho um assistente agora que cuida lá. Mas é um trabalho de muita responsabilidade. Não posso chegar lá e deixar qualquer pessoa tomando conta. Agora confio nesse assistente que lá está", explicou o jogador.


Nem mesmo ver as imagens da Olimpíada o fez se arrepender da decisão. O levantador fala com firmeza e convicção quando afirma que aquilo era o melhor a se fazer naquele momento. Ressaltou que já sabia como era o gosto de estar na competição.

"Não me arrependo não, porque sei como é estar nas Olimpíadas e participei na de Atenas. Mas isso é a vida, às vezes você consegue aproveitar uma chance, outras vezes não. Depois disso consegui voltar ao time nacional e sigo curtindo o voleibol e a minha vida esportiva."

Mkaouer Fethi foi o técnico do time no Mundial e durante boa parte do tempo em que Sellami participou da seleção. Apesar de, obviamente, ter se dado mal por perder o capitão em uma competição importante, o treinador parece que nem fez tanta força para demovê-lo de ideia na época. Deu até certo apoio.

"Não há o que fazer. Infelizmente nós somos amadores no voleibol da Tunísia. Eu não posso tentar impedir alguém de ganhar seu próprio dinheiro. Quem vai pagá-lo, eu? É a realidade que vivemos no esporte por lá. Tenho um outro jogador que faz faculdade de educação física e depois vai treinar. Infelizmente o continente africano não tem se desenvolvido nesse esporte", falou.

A Tunísia foi a última colocada do Grupo B do Mundial de vôlei, perdendo todos os seus jogos para Brasil, Alemanha, Finlândia, Cuba e Coreia do Sul.