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Rafael Leick

REPORTAGEM

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Praia nudista, rua colorida, baladas, sauna gay: como é a Toronto LGBTQIA+

Casal se beija na Nathan Philips Square, em Toronto - Rafael Leick
Casal se beija na Nathan Philips Square, em Toronto Imagem: Rafael Leick

Colunista do UOL

09/05/2023 04h00

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Quando a gente pensa em cidades LGBTQIA-friendly, geralmente vêm à cabeça destinos do Estados Unidos ou europeus e, aqui para viajantes do Brasil, ainda aparecem alguns destinos latinos. Mas a cidade mais diversa do mundo, dentre as que já visitei, fica um pouco fora deste circuito.

Toronto é a (não) capital turística do Canadá — a capital oficial é Ottawa, cabe dizer — e respira diversidade. Entre seus cerca de 3 milhões de habitantes, quase metade não nasceu canadense. Isso por si só, já promove um ambiente mais diverso e inclusivo.

Mas há vários centros urbanos pelo mundo que também têm uma grande circulação de imigrantes e turistas, como Londres e Nova York, você pode dizer. E isso é verdade. Mas estas cidades têm uma vida e alma muito própria e que as pessoas se adaptam ou não.

Com Toronto, me parece um pouco diferente. A sensação que dá é que há uma simbiose e as pessoas que chegam emprestam um pouco de si para a cidade e ficam com um pouco dela. E com tantos pedacinhos diferentes, a diversidade corre nas veias e funcionamento de Toronto.

A comunidade LGBTQIA+ tem um arco-íris cheio de energia e bastante colorido que pulsa tanto sua vida diurna quanto noturna.

Toronto, no Canadá - Tourism Toronto - Tourism Toronto
Toronto, no Canadá
Imagem: Tourism Toronto

Toronto LGBTQIA+

Além das celebrações da Pride Toronto, que costumam acontecer em junho, o pote de ouro deste arco-íris fica no bairro Curch-Wellesley, também conhecido como The Village, Gay Village ou gaybourhood ("bairro gay"). O cruzamento das ruas Church e Wellesley dá nome ao bairro.

O maior fervo costuma acontecer na Church Street, com os principais bares e baladas da cidade e até a mais conhecida sauna gay. É também lá que fica o The 519, uma organização com um espaço físico transformado em centro comunitário de apoio e acolhida à comunidade LGBTQIA+ que é meio que parte do parque Barbara Hall, que, por sua vez, tem um memorial para a comunidade trans e outro em homenagem aos que perderam sua vida para a aids.

Faixas de pedestre coloridas na Church Street - Rafael Leick - Rafael Leick
Faixas de pedestre coloridas na Church Street
Imagem: Rafael Leick

Em algumas das baladas desta rua também foram gravadas cenas da clássical série gay, "Queer as Folk".

Caminhando pela Church Street, é impossível não sentir o impacto das muitas bandeiras do orgulho penduradas em frente de quase todo estabelecimento e no logotipo das marcas que têm loja ali, como Starbucks e The Body Shop, por exemplo. Nem pet shop fica de fora. E olha que visitei Toronto em dezembro, no começo do inverno, fora do período da Parada.

No Canadá, assim como nos EUA, o Halloween é uma celebração de grande peso cultural. E a maior e melhor festa de rua de Halloween do país — Church Street's Halloween Night Party ou Halloween Gay Party — também acontece no Village. São de 3 a 6 quarteirões fechados somente para circulação de pedestres com suas fantasias.

Outra área friendly da cidade é a ponta oeste da rua Queen Street, também conhecida como Queer West Village. É lá que fui ao meu primeiro drag brunch da vida, um show de drag queens no fim da manhã, por volta da hora do almoço, no restaurante do Gladstone Hotel.

Em Toronto, é normal sentir o impacto da comunidade LGBTQIA+ - Rafael Leick - Rafael Leick
Em Toronto, é normal sentir o impacto da comunidade LGBTQIA+
Imagem: Rafael Leick

Pelado em Toronto

Se você visitar Toronto nos meses de verão — diferente do que eu fiz —, poderá ainda dar close sem roupa na praia. A praia Hanlan's Point Beach é clothing optional (ou seja, a nudez é opcional) e é a praia onde a comunidade LGBTQIA+ costuma se reunir para curtir o calor na Toronto Island, uma ilha no meio do Lago Ontário.

Para chegar lá, o ferry sai do cruzamento da Queens Quay e Bay Street.

Mas se a sua intenção de tirar a roupa não for para tomar sol sem ganhar marquinha, há algumas saunas gays espalhadas pela cidade. A principal é a Steamworks, que também fica na Church Street.

Toronto, no Canadá - Tourism Toronto - Tourism Toronto
Toronto, no Canadá
Imagem: Tourism Toronto

História de aceitação da diversidade

Apesar da concentração da vida LGBTQIA+ no Church-Wellesley, a cidade toda — ou o país todo, arrisco dizer — é bastante acolhedor à comunidade.

Claro que nem sempre foi assim. Mas, em 1967, Pierre Trudeau, pai do atual primeiro-ministro Justin Trudeau, apresentou um projeto de lei que culminou na descriminalização da homossexualidade no país dois anos depois.

Passados quase cinco décadas, seu filho já era o primeiro-ministro gato que conhecemos e foi o primeiro em exercício a participar da Pride Toronto. Também pediu desculpas publicamente à comunidade LGBTQIA+ na Câmara dos Deputados. Além disso, também iniciou processos de reparação histórica para as pessoas que, por LGBTfobia institucional, tinham sido indevidamente acusadas de crimes como sodomia, atentado violento ao pudor e (prepare-se) relações anais.

Toronto - Rafael Leick -  - Rafael Leick - Rafael Leick
A tradicional folha que está estampada na bandeira canadense
Imagem: Rafael Leick

Em 2019, circulou no país uma moeda especial de dólar canadense comemorando os 50 anos da descriminalização da homossexualidade.

Entre os direitos garantidos à comunidade LGBTQIA+ no Canadá estão o casamento homoafetivo, adoção, reprodução assistida, servidão às Forças Armadas e educação livre de preconceitos.

O Canadá também é um dos poucos países do mundo que reconhece um terceiro gênero nos documentos oficiais. O passaporte de pessoas trans não-binárias, por exemplo, pode vir com uma marcação de gênero neutro em vez do tradicional masculino ou feminino.

Leia mais sobre Toronto no Viaja Bi! e o roteiro LGBTQIA+ pela cidade.