Além de luxúria e drogas: por que série "Halston" é importante este ano?
Há uma semana, a série "Halston" estreou na Netflix com o intuito de nos tornarmos mais íntimos da história de Roy Halston Frowick, estilista norte-americano conhecido por alavancar a moda norte-americana nos anos 1970. A trajetória pessoal do artista é explorada em diversos âmbitos: as amizades influentes, a dependência de drogas, as relações amorosas e a vida com HIV; mas é importante destacar sua importância para os holofotes da moda virados à Europa.
Coincidentemente (ou não), em 2021, depois do cancelamento no ano anterior, o Met Gala trará duas exposições, "Na América: Um Léxico da Moda" e "Na América: Uma Antologia da Moda", que também servirão como inspiração para os looks dos famosos — a cantora Billie Eilish, o ator Timothée Chalamet, a poetisa Amanda Gorman e a tenista Naomi Osaka copresidirão o evento.
Uma das ideias, segundo Andrew Bolton, curador do Instituto de Figurinos do MET, é mudar o estereótipo que ronda a moda dos Estados Unidos, geralmente associada a roupas esportivas e utilitárias.
"Queríamos muito conscientemente que essa fosse uma celebração da moda americana, cuja comunidade sofreu muito durante a pandemia", disse à imprensa. "Há jovens designers dos Estados Unidos na vanguarda de discussões sobre diversidade, inclusão, sustentabilidade, e consciência criativa. Acho isso incrivelmente emocionante".
O tema é relevante, se partirmos do princípio de que a maioria das grifes que conhecemos são europeias: Gucci, Dior, Channel, Valentino, Yves Saint Laurent, entre outras. "É um ano de luz para a moda norte-americana", opina o consultor para negócios de moda Matheus Teixeira para Nossa.
É difícil saber como as celebridades se vestirão esse ano e quais grifes levarão ao red carpet. Mas, provavelmente, o sportwear e o jeans devem marcar presença".
Matheus Teixeira
Qual a importância de Halston?
Como é mostrado na série, o estilista desde a infância já demonstrava seus interesses e aptidões para a moda. Filho de um contabilista norueguês e de uma dona de casa americana, foi a partir de matérias-primas rústicas de onde morava, em Iowa, nos Estados Unidos, que começou a criar chapéus para a mãe. "Você é muito maior do que este lugar", diz a intérprete de Hallie Frowick na trama da Netflix.
O boom na sua carreira aconteceu, de fato, depois que a ex-primeira dama Jackie Kennedy, símbolo de moda à época, apareceu usando um de seus chapéus, o modelo "pill box", em 1961. Além dela, a amizade com grandes personalidades da época, como a vencedora do Oscar Liza Minelli, impulsionaram sua carreira.
Para traçar sua carreira além do acessório, Halston passou a criar uma identidade para a atriz e cantora norte-americana com roupas inspiradas no disco, além de vestidos fluidos — que perduraram ao longo dos seus trabalhos e designs.
Se por um lado as suas silhuetas apareceram fluidas e cheias de movimento, por outro, o seu design depurado e minimalista contagiou o guarda-roupa feminino com um novo pragmatismo.
"Provavelmente, limpei a moda americana. Aliás, tratavam-me por Mr. Clean. Na realidade, foi só livrar-me de todos os detalhes que não serviam para nada — dos laços que não atavam, dos botões que não apertavam, dos fechos que não fechavam, dos vestidos de trançar que não trançavam", disse ele em entrevista à revista "Vogue", em 1980.
Sempre detestei coisas que não funcionam."
Uma de suas criações mais marcantes e que se popularizou em massa entre as mulheres norte-americanas foi o vestido-camisa de camurça. A releitura do suede foi feita depois que ele notou como o tecido se danificava com o contato da água, ou seja, em dias chuvosos seria impossível utilizá-lo.
Auge e queda
A "Batalha de Versalhes", idealizada por uma das criadoras da Semana de Moda de Nova York, foi um dos seus momentos de glória.
Conhecida por ser "a noite que mudou a história da moda", o confronto entre cinco grandes designers de moda norte-americanos (Oscar de La Renta, Halston, Bill Blass, Anne Klein e Stephen Burrows) de um lado e, do outro, os cinco maiores estilistas franceses (Christian Dior, Yves Saint Laurent, Hubert de Givenchy, Pierre Cardin e Emanuel Ungaro), foi concebida como uma arrecadação de fundos para a restauração do palácio do rei Luís XIV.
Favoritos e em casa, os europeus trabalharam com um orçamento maior e apresentaram a qualidade refinada esperada. Foram os americanos, no entanto, que agitaram os mais de 700 convidados presentes com desfiles cheios de energia e surpresas, a maior delas sendo as dez modelos negras que cruzaram a passarela de maneira nunca antes vista.
Depois de vender seu nome para a Norton Simon por US$ 16 milhões, o leque do estilista foi ainda além: criou um perfume, sucesso de vendas na época, ampliou suas criações para o mercado de bolsas, móveis e roupas de departamento.
Eu quero vestir todas as mulheres dos Estados Unidos."
Com isso, a exclusividade da Halston, um dos pontos que podem tornar uma grife valiosa, passou a ser dissolvida entre o público. Junto a isso, a compra da Norton Simon pela Esmark fez com que ele perdesse o controle criativo da própria marca — decisão tomada em consequência das polêmicas pessoais que cercavam o designer, como o uso de cocaína e o gasto de dinheiro em festas luxuosas.
O designer morreu em março de 1990 em São Francisco, nos EUA, aos 57 anos, após se afastar das colunas sociais para uma viagem de carro pela costa da cidade.
Com inúmeras tentativas de retomar o estrelato da marca, atualmente, ela ainda existe como Halston Heritage no comando do grupo Xcel Brands, sem projeção na moda internacional.
Halston x Calvin Klein
Um dos maiores "inimigos" de Halson era Calvin Klein. Ao contrário da persona exuberante do estilista retratado pela Netflix, o também norte-americano Calvin Richard Klein prioriza o minimalismo — ia na direção contrária de roupas com babados e grandes tecidos fluidos. O conforto e praticidade eram seus pilares.
Calvin se inspirou no guarda-roupa masculino, onde deu os primeiros passos na moda, para criar suas coleções para as mulheres.
Mantendo-se fiel ao minimalismo, uma das principais criações do estilista foi a sua linha de jeanswear, que se tornou um clássico da moda nos anos 1980. A atitude de colocar as calças jeans em um desfile foi considerada ousada, pois esse tecido não era muito utilizado pelas grandes grifes.
As calças jeans Calvin Klein atingiram seu auge na década de 1980, quando a atriz Brooke Shields protagonizou uma campanha da marca. A grife chegou a vender 400 mil peças por dia.
Tanto em "Halston" como no livro "Halston: An American Original", há histórias de que Halston foi persuadido pela Norton Simon a criar peças jeans para disputar no mercado contra Calvin Klein — o que não veio a acontecer.
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