Empresária explora "cultura de hostel" em viagem de um ano pelo mundo
Depois de morar muitos anos em uma república e fazer uma viagem para a Argentina, onde pôde ver de perto a cultura de um hostel, a empresária e historiadora Marina Moretti, 38, abriu com duas amigas o Ô de Casa Hostel, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. "Colocamos no HostelWorld e nunca mais deixamos de ter hóspede", relembra.
Mais de uma década de vivência constante com pessoas de outras nacionalidades e a rotina agitada desse tipo de hospedagem despertaram ainda mais vontades e, em 2017, junto com sua namorada, ela começou uma volta ao mundo de pouco mais de um ano, passando por 30 países e com compromisso de documentar com fotos e relatos cada lugar que dormiam ao longo da viagem.
Durante esse período, foram quase 200 lugares, incluindo camas em hostels, redes, trens, avião e barco. Tudo relatado no Instagram Rolê Dêlas (@role_delas).
O plano era conhecer países 'periféricos'. Eu queria saber como era a hospitalidade em lugares com condições financeiras parecidas com o Brasil", conta.
A proposta também incluía desvendar os restaurantes e sabores de cada país ao longo do período sabático, já que sua companheira é cozinheira.
"Tem hostel em tudo que é lugar"
A viagem começou em Istambul, na Turquia, seguiu para o leste europeu, Rússia e chegou até o Cazaquistão. E foi neste último que Marina se surpreendeu com a hospitalidade, belezas naturais e até infraestrutura dos hostels na região.
Segundo a empresária, mesmo não sendo tão explorado ainda pelo turismo, o país da Ásia Central pode surpreender, e muito, os viajantes que buscam lugares diferentes e com boas hospedagens. "O hostel lá era muito mochileiro e o lugar é absurdamente rico, além de ter pessoas bem receptivas", afirma.
Ela conta ainda que o viajante que deseja economizar e ter experiências com certeza achará um hostel espalhado em cada continente.
Tem hostel em tudo quanto é lugar. Na Mongólia mesmo, ficamos em um bem legal e as pessoas trocavam dicas sobre os tour nos desertos. Tinha bastante troca", conta a empresária.
Quando não era possível ficar nesse tipo de hospedagem, dormiam nas casas de pessoas e outros locais — uma vez pernoitaram até em um barco nas Filipinas.
O roteiro das duas também incluía lugares como Tailândia, Índia, Sri Lanka, Singapura e outros destinos da Ásia.
Pior e melhor hostel
A ideia era mudar de hostel a cada dois dias, para vivenciar experiências e conferir a infraestrutura de cada lugar. E foi no continente asiático que a empresária e sua namorada elegeram o seu favorito.
Depois de passar por centenas, o The Yard, em Bangcoc, na Tailândia, entrou para a lista de melhor hostel. Para Marina, o espaço é diferenciado por causa do lado intimista.
Sem exageros, foi o melhor hostel que fiquei na vida. A dona do local me levou para passear de carro e eles pegavam na mão ali. Não é o hostel de milhões, mas é uma referência. Quero muito voltar", relembra saudosa.
Já o pior foi em Singapura, que Marina prefere não divulgar o nome para não expor o local. Ela conta que o hostel era caro e não condizia com os serviços oferecidos pelo espaço.
Brasil tem potencial "hosteleiro"
Embora o país não seja a principal referência em hostels pelo mundo, Marina conta que, aos poucos, o Brasil tem ganhado espaço no mercado e a zona "hosteleira" nacional tem muito a oferecer para os viajantes e até empresários. "É possível ensinar tolerância, pluralidade, conflitos".
Ela ressalta ainda que o Brasil é um país com cara de hostel, principalmente pelo clima e pessoas hospitaleiras.
Mas para criar hostels com padrões internacionais, ainda há um grande caminho, já que por aqui o orçamento dos empreendedores é bem menor do que em lugares da Europa e Estados Unidos, por exemplo. Segundo ela, tem empresários que possuem mais cinco milhões de dólares para investir em um espaço.
"No Brasil, você precisa ter uma boa ideia, precisa ter grana e as dificuldades são muito maiores, né? A gente tem muito menos apoio governamental e muito menos turismo", reforça.
Outro problema de muitos empreendedores, segundo Marina, é não entender que esse tipo de hospedagem é uma empresa e precisa ser encarada dessa forma. Além disso, não é só abrir um lugar e chamar de hostel, e sim, deixar o local com cara e a com vibe de hospedagem para os mochileiros e pessoas que desejam economizar — tudo isso sem perder o conforto e ainda com bons serviços.
Acho que por aqui ainda falta um pouco esse conhecimento de cultura viajante mesmo. Tem gente que abre e acha que vai bombar, mas nunca viajou, nunca saiu da sua própria cidade. Tem que ter uma referência da cultura internacional também", afirma.
Inspirações colocadas em prática
Depois de viajar por diversos países, Marina voltou ao Brasil e aplicou quase tudo que aprendeu e vivenciou pelos hostels que dormia. Uma das ações foi a instalação de "pods", camas com mais privacidade, que possuem cortina e luz. A ideia, ainda pouco popular em estabelecimentos brasileiros, foi baseada, principalmente, nos hostels asiáticos.
Além das mudanças estruturais, ela implantou brincadeiras nos bares, fortaleceu a imagem nas redes sociais e focou na segurança.
Eu estava com a visão fresca do viajante. Tudo que eu sentia falta implantei e melhorei no meu", afirma.
As ideias deram tão certo que rendeu ao hostel diversos prêmios: o de "melhor hostel do Brasil", em 2019, pela HostelWorld, o sexto melhor hostel do mundo para viajantes solo masculino e o nono melhor do mundo para viajantes solo. No TripAdvisor, desde 2019, é o número 1 na categoria hospedagens especializadas na cidade de São Paulo.
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