Sapatos à base de cacto e alfaiataria: o que marcou a abertura da SPFW
Depois de dois anos promovendo edições virtuais, a São Paulo Fashion Week retornou na tarde de ontem (15) ao parcialmente presencial. A marca responsável por esse recomeço foi a P. Andrade, comandada por Pedro Andrade, que assume também a PIET, e Paula Kim, sua esposa e uma das fundadoras da Lapô. Ambos assumem a direção criativa das peças, a partir de uma troca orgânica entre eles.
"O presencial, para nós, foi essencial por várias questões. Estávamos já com aflição de tanto "on-line"... Sabemos da importância desse formato digital, mas fazia muita falta a troca e experiência sensorial e as nossas roupas, na P. Andrade, definitivamente não são para o Instagram", disseram os dois para Nossa.
Trabalhamos durante mais de um ano nessa coleção e no lançamento da marca através do desfile para que fosse um momento único. Nesse ponto, o presencial foi muito importante e emocionante para nós".
O evento aconteceu na Pinacoteca, em São Paulo, e teve a instalação projetada pelo artista Tom Escrimin como plano de fundo. Esse cenário remete a um parque arqueológico intocado, caracterizado por uma atmosfera remota que preserva histórias e segredos ainda a serem descobertos.
Depois de descerem a passarela de metal que cruzava o local, os modelos desfilavam as roupas entre as grandes rochas pretas e caminhavam sobre as pedras que compunham o ambiente.
As roupas usadas por eles deram a visão do que o novo mundo pós-pandêmico vai nos oferecer. A alfaiataria, possivelmente uma das maiores tendências nos últimos tempos, marcou presença. Assim como o tão falado conforto, impresso por meio de jaquetas puffers e calças mais largas, com as barras tocando o chão.
Para Pedro e Paula, o desejo era falar sobre artistas e movimentos brasileiros, inspirando-se em grandes nomes da arquitetura, das artes plásticas e do design brasileiro. "Mostrar um Brasil visto de uma nova perspectiva", em resumo.
Entre os nomes citados pela dupla, como inspiração, estavam Affonso Eduardo Reidy, Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha — sendo esse último, inclusive, um dos responsáveis pela reforma mais recente da Pinacoteca, onde o desfile aconteceu. O arquiteto morreu em março deste ano.
Além disso, a flora brasileira também foi fonte de inspiração, que través das formas e características de vegetações típicas brasileiras, encontraram o contraste entre a leveza o aspecto "bruto" da arquitetura moderna.
Para as estampas, por sua vez, a marca convidou o artista plástico Walmor Corrêa para representar o estudo sobre contos brasileiros e sua relação com a natureza, por meio de estampas que narram a história de personagens do folclore, sob uma perspectiva quase científica.
Dessa forma, a coleção une alfaiataria com tecnologia e elementos esportivos, prezando pelos recortes, texturas e formas.
Pautada pela inovação, a marca utilizou materiais sustentáveis, como fibras recicladas, biodegradáveis e elementos bio-based, como por exemplo os sapatos a base de cacto. Quem também marcou presença, entre os calçados, foram os tabi boots, conhecidos popularmente por separar os dedos — como apresentou anteriormente a francesa Maison Margiela.
A paleta de cores navegava por diversos tons de cinza, até chegar no verde, refletindo a junção entre a arquitetura e a natureza de forma sutil, referenciando o mobiliário brasileiro moderno.
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