Mochileiro viajou pela Argentina por quase dois anos com apenas R$ 1500
Já era o seu segundo emprego na área de turismo quando Eduardo Santos, 30 anos, chegou a iniciar uma faculdade — na época escolheu o curso de Marketing — mas não demorou muito tempo para ver que o que ele queria mesmo era sair viajando pelo mundo.
"Dudu", como é chamado pelos amigos e nas suas redes sociais como @duduhpelomundo, chegou a trabalhar como agente de aeroporto em Salvador, sua cidade natal, e depois virou agente de viagens de uma operadora de turismo local. Mas foi durante um mochilão de férias pela Argentina em 2016, que ele pensou em largar tudo e viajar pela América do Sul.
"Fiquei 20 dias fazendo um mochilão pela América do Sul apenas de férias, e já voltei ao Brasil com a missão de pedir demissão, mas fui surpreendido. Na época, meu chefe me chamou assim que eu cheguei e precisou me demitir, era tudo o que eu precisava para poder conseguir um dinheiro a mais e voltar para a Argentina".
Dudu não conseguiu juntar muito dinheiro, só tinha apenas R$ 1.500 guardados, que, segundo ele, seriam suficientes para começar a sua aventura de viajar pela América do Sul novamente.
"Eu tinha o sonho de morar na Argentina por um tempo indeterminado, tinha perdido o emprego e estava com o dinheiro, então resolvi ir assim mesmo, e comprei as passagens parceladas que seriam pagas com o dinheiro de alguns 'bicos' que eu havia conseguido fazer".
Aprender um novo idioma
Dudu encontrou em uma plataforma de voluntariado chamado Worldpackers a oportunidade de não precisar pagar acomodação em Buenos Aires, já que a estadia seria o seu custo maior por lá. A ideia do voluntariado é você trocar as suas habilidades por acomodação. E foi o que aconteceu com o mochileiro, que conseguiu ser aceito em uma vaga de recepcionista em um hostel na cidade.
"Eu nunca tive experiência em hostel, era o meu primeiro voluntariado e comecei a trabalhar na recepção, e sem falar nenhum idioma. Porém, eles não exigiam que eu falasse outra língua e, com o tempo acabei, aprendendo muita coisa inclusive falar espanhol".
O esforço para conseguir um trabalho na capital argentina para pagar suas necessidades era diário. Dudu acabou encontrando no câmbio de moedas uma opção de conseguir se manter por lá. "Tinha muitos estrangeiros chegando diariamente no hostel, e eles precisavam fazer o pagamento da estadia em espécie. Então eu passei a ser um agente de câmbio".
Foi com esse sonho que ele viajou por quase toda a Argentina, e conheceu o Uruguai com apenas o dinheiro que ele havia levado no bolso.
Em quatro anos, ele já acumula dezessete experiências em voluntariados na América do Sul e no Brasil, sendo que ele morou durante dois anos na cidade de São Paulo sempre trocando seu trabalho por hospedagem, e duas das suas experiências na sua cidade natal de Salvador.
Descoberta do HIV
Foi em um dos seus últimos voluntariados que o jovem influenciador acabou descobrindo o diagnóstico do HIV, em 2020, em Salvador.
Era carnaval e fui para rua comprar um acarajé. E quando cheguei, eu olhei ao lado e tinha aquelas tendas de saúde fazendo alguns testes e exames, inclusive o do HIV, e resolvi fazer. Mas o que eu não esperava era que minha vida iria mudar completamente naquele dia".
Ele assegura que a partir do diagnóstico muitas coisas mudam caso ele precise fazer novamente um mochilão, principalmente por conta dos medicamentos que ele toma diariamente para controlar o vírus.
"Quero no ano que vem realizar o meu outro sonho de fazer outro mochilão, e dessa vez na Europa, mas eu preciso entender que tenho que planejar toda a minha medicação para o tempo que estarei fora do país, e dar continuidade ao tratamento", afirma.
Racismo nas viagens
O mochileiro relembra que em uma das suas passagens pela capital argentina foi uma das suas piores experiências de preconceito.
"Eu frequentava muito o comércio local, e me lembro que certa vez eu estava dentro de uma farmácia, quando entrei e o segurança passou a me acompanhar atrás, me senti constrangido. O mesmo aconteceu em um supermercado, quando eu vi aqueles olhares dos funcionários como se eu estivesse praticando algo ilícito".
Segundo ele, a discriminação racial ele sentiu mesmo fora do Brasil. "Já tive apenas uma situação que me deixou envergonhado quando eu trabalhava em São Paulo, mas acredito que na Argentina era muito pior, acho que isso já é enraizado na cultura deles. Espero que isso nunca aconteça mais".
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