Bolsonaro e Narloch precisam engolir seus preconceitos e serem mais viados
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Resumo da notícia
- Piada do presidente, revelada por Mônica Bergamo na "Folha de S. Paulo", é reflexo de masculinidade frágil
- Na CNN, Leandro Narloch associa homossexualidade a promiscuidade e esquece que heteros podem ter mesmo comportamento
- Governo e emissoras precisam de maior responsabilidade ao abordar LGBTs
Nesta quarta-feira (8), a coluna de Monica Bergamo, na "Folha de S.Paulo", publicou uma nota com relatos de pessoas próximas a Jair Bolsonaro (sem partido). Segundo elas, para o presidente, usar máscara seria "coisa de viado". Não bastasse a fuga ao básico da questão - segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), usar máscaras salva vidas -, a expressão ainda contém homofobia da pesada.
Afinal, no que fere a virilidade de alguém o simples fato de colocar um tecido sobre o rosto para evitar o contágio por um vírus que pode ser letal? Mais do que a demonstração da frágil masculinidade do responsável por governar o país, a expressão ainda arranja uma falsa desculpa para a responsabilidade de combater o coronavírus. A surpresa, no entanto, é nenhuma, uma vez que vem de um presidente que, depois de afirmar ter testado positivo, tirou a máscara perto de jornalistas.
Para Bolsonaro, é "coisa de viado" ser inteligente e ouvir a OMS - e a esmagadora maioria dos médicos - sobre a necessidade do uso de proteção. Para ele, é "coisa de viado" prezar pela própria vida e pela vida de quem está ao redor. Para Bolsonaro, usar máscara é frescura e frescura é "coisa de viado". Para o presidente que deveria governar para todos, ser viado é demérito.
E o militar não é o único. Na CNN, Leandro Narloch deu as seguintes declarações sobre a permissão de que homossexuais doem sangue. "Não há dúvida de que homens gays têm uma chance muito maior de ter Aids" e ainda usou expressões como "gays que têm comportamento promíscuo". O mais curioso em comentários como este é que, raramente, se fala em comportamento promíscuo de heterossexuais. A Narloch falta se informar melhor sobre o básico para falar de diversidade: não existe "opção sexual", mas, sim, orientação.
O discurso de Narloch reforça uma ideia ultrapassada de grupos de riscos, o que não existe. O que há é comportamento de risco, possível de ser detectado entre homossexuais e heterossexuais. O comentarista ainda cita uma pesquisa apontando para a contaminação por HIV entre LGBTs, mas ignora outras parcelas da sociedade. Perde, portanto, a chance de prestar um serviço e alertar também para o contágio na população mais idosa - e heterossexual - ou entre mulheres e mais jovens. Entre idosas, por exemplo, houve aumento de 21,2%, segundo dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde.
Se esse governo ou mesmo comentaristas fizessem esse alerta ou campanhas de conscientização talvez o resultado fosse diferente. As emissoras, aliás, deviam entender que é preciso maior responsabilidade para lidar com LGBTs. Há muito tempo deixou de ser engraçado dizer que alguém "queima a rosca" em rede nacional. Aliás, para qualquer "brincadeira" funcionar, as duas partes precisam rir dela. Não é o caso.
O que Bolsonaro e Narloch têm em comum é uma visão antiga da homossexualidade. Para eles, a orientação sexual só pode ser atrelada a conceitos como promiscuidade ou frescura. Falta a ambos encararem o óbvio: LGBTs merecem direitos equânimes. Ninguém precisa esperar por mais de 30 anos para conseguir a possibilidade de salvar vidas e doar sangue. Ninguém precisa ser ofendido por usar máscara e proteger a todos ao seu redor. Que Bolsonaro e Narloch engulam seus preconceitos e sejam mais viados.
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