Por que a princesa Diana é revolucionária até hoje?
Colaboração para Splash, em São Paulo
01/07/2021 19h08
Se Lady Di ainda estivesse viva, o mundo estaria celebrando seu aniversário de 60 anos.
Quase 24 anos após sua morte, a Princesa do Povo ainda é tópico quente. Por causa dela, a 4ª temporada de "The Crown" foi das mais badaladas. Foi ela que virou assunto após o rompimento de Meghan e Harry com a Coroa. Seria a história se repetindo? O que faz de Diana Frances Spencer tão poderosa?
Para além das quebras de protocolos reais vistas na série da Netflix —que também aparecem em documentários como "The Story of Diana" (2017) e "Diana: In Her Own Words" (2017)— Diana talvez tenha sido uma das primeiras grandes vítimas de um certo jornalismo de celebridade predatório.
Alvo de curiosidade desde antes do anúncio oficial de seu noivado com o príncipe Charles, hoje o que se sabe é que, quanto mais aumentava sua exposição na mídia, mais emocionalmente fragilizada ela ficava.
Mas a marca que Diana deixou é a de uma pessoa que usou essa mesma exposição, muitas vezes indesejada, para iluminar assuntos de interesse público que eram vistos como tabu.
Isso vai além de seu status de ícone da moda e seu corte de cabelo sensação. Diana foi a responsável por aproximar a realeza, estrutura altamente antiquada, e o povo. Suas quebras de protocolos criaram um canal de acesso e transmitiam uma mensagem simples, mas eficaz: ela é "gente como a gente".
Alguns protocolos quebrados pela princesa eram mais banais.
Por exemplo, em 1981, ela passou a usar vestidos pretos para ir a eventos em geral. Até então, a cor só podia ser usada por membros da família real em funerais. Em outras ocasiões, apareceu publicamente com as unhas vermelhas, contrariando a ordem vigente até hoje de optar por cores discretas.
O simples fato de ela ter um trabalho antes de se casar era visto como algo disruptivo.
Outras divergências causadas por Diana, no entanto, tocavam mais profundamente em tabus sociais, embora as suas escolhas de vestimenta continuem sendo subversivas mesmo em 2021.
Uma regra bastante tradicional entre as mulheres da família real era a necessidade de usar luvas em qualquer tipo de aparição pública. Diana prontamente abandonou a orientação e optou por um contato mais direto com seus apoiadores.
O ato ganhou importância sobretudo na luta contra os estigmas da transmissão da Aids.
A repercussão foi essencial para que certos tabus ao redor de portadores do vírus fossem, aos poucos, sendo rompidos na esfera pública. Ao longo de sua vida, Diana seguiu usando sua visibilidade a favor da causa.
A franqueza com a imprensa também fez com que Diana falasse abertamente sobre os problemas de seu casamento e até mesmo de seus distúrbios alimentares.
Na infame entrevista concedida a Martin Bashir, da BBC, em 1995, ela revelou a sua luta contra bulimia, resultado do estresse de manter a imagem do casamento intacta. A pura honestidade da declaração é um dos motivos por que seus filhos, hoje, advogam pela importância da saúde mental.
Ao longo de sua vida pública, sobretudo após o divórcio, Diana passou a se dedicar cada vez mais a causas sociais. Um dos momentos mais marcantes neste sentido é de janeiro de 1997, quando ela caminhou através de um campo minado parcialmente livre, na Angola.
Na ocasião, Diana se encontrou com sobreviventes de explosões e buscava chamar atenção para o trabalho de organizações dedicadas a acabar com as minas terrestres. É claro, as imagens repercutiram no mundo todo e o ato foi considerado essencial para a abolição dos explosivos.
O fato de Diana fazer posicionamentos considerados à frente de seu tempo é de certa forma um ato de rebeldia. Seu envolvimento com causas sociais e a honestidade sobre as questões pessoais, também. Afinal, tudo isso escancarou fragilidades que a monarquia teria preferido não mostrar.
Muitos dos trabalhos apoiados por Diana foram adotados posteriormente por William e Harry, mas até hoje a "princesa rebelde" é o grande ponto fora da curva da família real britânica. É impossível especular o que ela estaria fazendo em 2021, mas seus esforços de mais de duas décadas ainda dão frutos.