Abuso, HIV e preconceito: Billy Porter faz história como fada madrinha
De Splash, em São Paulo
03/09/2021 04h00
Billy Porter não se importa com os haters.
Aos 51 anos, o ator que interpreta 'Fab G' na nova versão de "Cinderela", disponível no Prime Video, diz que aprendeu a ignorar as inevitáveis reações negativas ao seu trabalho. Após três décadas de carreira, ele torce para que as pessoas aprendam a respeitar as individualidades.
Billy Porter, em entrevista para Splash
Mas por que Billy Porter incomodaria?
Vencedor do Tony Awards de 2013, o "Oscar dos Musicais", por "Kinky Boots", ele ficou conhecido do público brasileiro com a série "Pose". Durante as três temporadas, ele interpretou o extravagante Pray Tell, um MC dos ballrooms em Nova York da década de 1980.
Agora, de volta às telas como a nova versão da fada madrinha no conto de fadas estrelado por Camila Cabello, Porter continua desafiando as convenções de gênero —o que ele começou a fazer ainda na época em que interpretou Lola no musical da Broadway.
Desde então, as aparições de Porter em tapetes vermelhos têm sido, no mínimo, marcantes. Suas roupas costumam ser uma mistura de artigos vistos como tradicionalmente femininos e masculinos, criando um resultado que transita suavamente entre os dois gêneros.
Por isso, quando foi convidado para "Cinderela", o ator entendeu que a fada madrinha —ou melhor, "Fab G"— não estava presa a um gênero: "A magia é espiritual", explicou para Splash.
O conceito, embora subjetivo, é uma continuação da trajetória de Porter, que teima em não atender às expectativas.
Em maio, Porter rompeu um silêncio de 14 anos e revelou ser HIV positivo. O segredo foi mantido desde 2007 porque o ator temia ser marginalizado —considerando uma indústria que nem sempre olhou para ele com bons olhos: "Sou da geração que devia ter mais consciência e, mesmo assim, aconteceu."
Porter, em declaração ao portal The Hollywood Reporter
Durante o confinamento da pandemia do covid-19, Porter e seu marido se isolaram em uma casa em Long Island, e foi neste período que ele reavaliou os próprios traumas, após anos de terapia:
Agora, Porter enxerga que "Pose" foi o momento em que começou a ser levado a sério como ator, e o que lhe abriu novas portas.
E, se "Pose" foi sua chance de trabalhar a própria história via Pray Tell —ali, o ator foi capaz de dizer coisas que gostaria de ter tido coragem de dizer anos antes—, com "Cinderela" ele traz uma extensão desse mesmo projeto: o que ele quer é abrir mentes e corações através de sua arte.
"Sempre fui uma pessoa interessada em moda, sempre forcei os limites, de dentro do paradigma tradicionalmente masculino", ele explica. "Não sabia que isso era algo que existia em mim. Sou grato por poder viver para ver o dia em que a minha verdade e a minha autenticidade podem fazer diferença."
Mesmo após 14 anos se escondendo, Porter raramente perde a compostura de showman, e agora sabe que sua jornada tem um propósito:
Billy Porter para Splash