Catástrofe em 'Babilônia': Por que Gilberto Braga morreu com mágoa da Globo
Gilberto Braga morreu aos 75 anos na última terça-feira após complicações de uma infecção sistêmica. Novelista aclamado por crítica e público, foi responsável por sucessos históricos como "Dancin' Days" (1978), "Vale Tudo" (1988) e "Celebridade" (2003), que além do estouros de audiência entraram para o hall das novelas mais importantes da nossa teledramaturgia.
Os feitos de Gilberto não foram poucos e as homenagens que recebeu foram à altura de sua importância, mas o autor também foi conhecedor de um fracasso em especial que marcou o fim de sua carreira, e pelo qual sentiu profunda mágoa da Globo pelas intervenções que foram feitas: "Babilônia" (2015).
A novela estrelada por duas vilãs, interpretadas por Adriana Esteves e Glória Pires, estreou com grande expectativa. Foi lançada como uma aposta pelo aniversário de 50 anos, um marco importante para a emissora. Entretanto, o que era para ser uma grande comemoração terminou em crise nos bastidores.
"Babilônia" enfrentou resistência logo no início, com rejeição, por exemplo, ao beijo entre as personagens de Nathalia Timberg e Fernanda Montenegro. O enredo também não ajudava e os números decepcionavam. Saiu do ar como a novela de pior audiência da história da Globo no horário das 20h/21h.
Depois de encomendar as primeiras pesquisas de opinião, a emissora colocou em prática uma operação para salvar "Babilônia". De acordo com notícias da época, de veículos especializados em cobertura de televisão, cenas inteiras foram reeditadas, tramas foram cortadas e readaptadas. Nada funcionou e a novela teve o fim antecipado em mais de um mês.
Gilberto Braga, que se manteve em silêncio em meio ao caos, falou publicamente pela primeira vez em uma entrevista para o jornal "O Globo", em maio de 2015. Considerou a situação "catastrófica" e "calamitosa".
Até agora eu sofro a humilhação pública diária de perder para a novela das 19h, 'I love Paraisópolis' — Gilberto Braga para "O Globo".
Há culpado para o fracasso?
A trama de "Babilônia" foi escrita por Gilberto Braga e teve como co-autores Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Em depoimento ao blog de Cristina Padiglione, da Folha de S. Paulo, João Ximenes afirmou que Gilberto não queria encerrar a carreira com um fracasso.
Em uma declaração forte, o escritor diz que Gilberto não pode ser responsabilizado pelos erros que minaram a novela: "Passaram-se seis anos e sinto a urgência de pôr os pingos nos is: o fracasso artístico e de audiência de 'Babilônia' não pode ser atribuído a Gilberto e sim à intervenção mal-intencionada que destruiu completamente a espinha dorsal da novela".
João Ximenes não deu nomes, mas o diretor de dramaturgia da Globo na época de "Babilônia" era Silvio de Abreu, que deixou a emissora em 2020. Em uma entrevista ao UOL, em 2015, Abreu disse que não existia crise na novela, mas reconheceu falhas. Deixou claro, nesta entrevista, que não mexeu na história criada por Gilberto Braga.
Está tudo ótimo e [a novela] está sendo reformulada pelos autores. Eles apostaram numa série de coisas que não deram certo e tiveram que reformular. Estão adiantando a história e reescrevendo, e não eu. Eles estavam contando a história mais lentamente e agora estão acelerando mais. O enredo é o mesmo — Silvio de Abreu, em maio de 2015, ao UOL.
Novela no lixo
Gilberto Braga, como disse João Ximenes Braga para Padiglione, tentou emplacar uma nova produção após "Babilônia". O último projeto foi uma adaptação de "Feira de Vaidades", com Denise Bandeira, inspirada na obra de William Makepeace Thackeray.
Cerca de oitenta capítulos foram escritos, mas a novela, que deveria ocupar a faixa das 18h, acabou descartada pela Globo. O motivo do cancelamento, segundo João Ximenes, teriam sido os custos elevados para produzir uma novela de época em um ano de crise econômica por conta da pandemia.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.