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OPINIÃO

Faltou consideração a artistas brasileiros no primeiro dia do Lolla 2023

Lollapalooza Brasil 2023 acontece entre sexta, 24, e domingo, 26. - Mariana Pekin/UOL
Lollapalooza Brasil 2023 acontece entre sexta, 24, e domingo, 26. Imagem: Mariana Pekin/UOL

Yolanda Reis

de São Paulo, para Splash

25/03/2023 04h00

Um calor de 32°C esquentava a cabeça das pessoas na fila para o Lollapalooza 2023 de ontem. Algumas estavam ali desde a noite anterior, ansiosos para assistir a Lil Nas X, Billie Eilish e mais. Qual não foi a decepção ao perceber como os portões, supostamente com horário de abertura às 11h, estavam fechados até quase 12h, horário do primeiro show.

Uma das consequências mais visíveis desse atraso foram os shows praticamente vazios dos primeiros artistas. As imagens da plateia rala viralizou online, e muitas pessoas acharam estranho. Mas, além do atraso, existe um fator muito importante para a ausência do público: uma organização injusta do line-up.

O Lollapalooza é um dos maiores festivais do Brasil e do mundo, e reúne uma carta de artistas fenomenal. São diversas horas de música dos maiores artistas atuais, música para todos os gostos. Mas tem uma questão: começa às 12h de uma sexta-feira invariavelmente quente. Muita gente prefere esperar mais para chegar - perder alguns shows de artistas menores, sim. Porém, essas pessoas não chegariam mais cedo para ver um show maior?

O festival se organiza assim: os artistas vão ficando, ao longo do dia, cada vez mais famosos e cada vez mais internacionalizados — mas vale notar que, no Lolla, todo artista já é grande. Quando chega no fim, os headliners gringos fecham a noite, são sempre duas atrações de destaque no dia. E tudo bem, o objetivo é curtir até o final mesmo. Mas por que não existe a ideia de curtir desde o começo - e, mais importante, curtir todos e ouvir algo desconhecido por você?

Imagine o contrário: um artista maior, como Kali Uchis ou até mesmo Lil Nas X, abrindo o Lollapalooza. Imagine quanta gente não estaria lá — e ficaria até de noite para assistir à Billie Eilish. Nesse meio tempo, esse pessoal conheceria outros artistas e daria muito mais palco para os artistas brasileiros, porque dificilmente alguém iria embora no meio. Isso sem contar a renda extra que a cerveja de R$ 15 daria nessas horas. Não parece fazer mais sentido?

Em vez disso, uma artista fez um show para 10 pessoas que correram para a grade assim que os portões abriram - provavelmente para assistir à Billie ou ao Lil Nas X. Essas mesmas pessoas estariam lá se o show fosse de um artista com mais visibilidade - junta de outras dezenas de milhares. Mas tinham 10.

LollaGBTQIA+

A sexta-feira do Lollapalooza 2023 foi extremamente radiante e com as cores do arco-íris. Os palcos reuniram um monte de gente da comunidade LGBTQIA+ - e sem nenhum medo de demonstrar e exaltar o amor.

Lil Nas X, abertamente gay, subiu no palco com diversos bailarinos masculinos em roupas bem curtas. Entre franjas e brilho, chegou a aparecer com uma tanga e polainas azuis, enquanto trocava danças e carinhos com os colegas de palco. Tudo bem gay, assim como muita gente do público, agitando bandeirinhas de arco-íris.

Pedro Sampaio também não ficou atrás. O DJ brasileiro anunciou no palco que é bissexual., chamou Pabllo Vittar (que até mostrou o bumbum) para dançar, cantou "Toda a Forma de Amor" com uma foto de Lulu Santos ao fundo. Nos telões, takes do público dando beijos LGBTQIA+.

Kali Uchis foi mais discreta, mas não ignorou. Também bissexual, teve dançarinas mulheres mostrando afetos entre elas. É importante que essas demonstrações fiquem cada vez mais naturais e normalizadas em ambientes como o Lollapalooza, nos quais as pessoas se sentem mais livres e confortáveis para serem elas mesmas.

Dia dos jovens

O primeiro dia foi o mais jovial desta edição do Lollapalooza. Começando por Billie Eilish. Aos 21 anos, ela é a headliner mais nova da história do Lollapalooza Brasil. Ela também esbanja o jeitinho Geração Z. Subiu ao palco de marias-chiquinhas, tênis e camisetão.

Ela é um dos nomes mais novos do pop, e Kali Uchis e Lil Nas X, outras grandes atrações da noite, seguem na mesma linha. Estes artistas atraíram um contingente mais novo para a plateia, na casa dos 20 e poucos.

Provavelmente será a noite mais jovem deste Lolla, dado que o sábado terá muito público remanescente será de quem comprou ingressos para assistir Blink-182, que estourou mais ou menos na época que a Billie Eilish nasceu. O Blink cancelou o show, e Twenty One Pilots assumiu - o que rejuvenesceu a plateia (que cancelou a apresentação e foi substituído por Twenty One Pilots, cujo sucesso é relativamente mais recente. Mesmo assim, a banda tem 34 anos, combinando mais com a demografia da banda cancelada.

O último dia rejuvenesce com L7nnon, mas tem como contraste Os Paralamas do Sucesso. E os headliners da noite, Drake e Cigarretes After Sex também tem uma carreira bem consolidada e longeva, atraindo um público diferente do de Lil Nas X e Billie.