Não entendeu nada da coroação? Saiba o significado dos ritos da cerimônia
A coroação do rei Charles 3º e da rainha Camilla aconteceu ontem (6) na Abadia de Westminster, em Londres.
A cerimônia, que não acontecia há 70 anos, pode ter deixado muita gente confusa com seus ritos e tradições milenares.
Se você também não entendeu o que rolou, Splash explica os momentos mais importantes do evento:
Antes de mais nada, é importante saber que a coroação é uma cerimônia religiosa e é basicamente igual há mais de mil anos. A primeira coroação na Abadia de Westminster aconteceu em 1066, há 957 anos.
É a investidura formal do rei e simboliza a "sacralização" do poder do monarca pela igreja. "A igreja queria ter o apoio dos reis e o rei tem, então, essa vantagem de ter sua figura mistificada. Ele é um representante de Deus, ele é um escolhido de Deus, são as monarquias de direito divino. Em termos de ritual, isso acontece na coroação", explica Francisco Vieira, professor de história, a Splash.
Ela é dividida em cinco etapas: reconhecimento, juramento, unção, investidura e coroação, entronização e homenagem.
Reconhecimento
Nesse momento, o rei Charles 3º foi apresentado ao povo, uma tradição que vem dos tempos medievais. De pé, posicionado atrás da cadeira da coroação, ele se virou para os quatro lados da Abadia — os quatro pontos da bússola — para ser reconhecido pelo povo como o "indubitável rei".
Os presentes na cerimônia exclamaram "Deus salve o rei Charles" a cada vez que o rei se virou e trombetas soaram a cada vez que o monarca foi reconhecido.
Juramento
Aqui, o Arcebispo de Canterbury, que conduz a cerimônia, perguntou se o rei estava disposto a fazer o juramento. Em um momento inédito, o Arcebispo afirmou que a Igreja da Inglaterra "procurará promover um ambiente em que pessoas de todas as fés e crenças possam viver livremente".
O rei pôs as mãos sobre a Bíblia e fez o juramento de "governar o povo com justiça e misericórdia", e "defender a Igreja Anglicana da Inglaterra e a Igreja Presbiteriana da Escócia".
Unção
Este é o momento mais "sagrado" da coroação e, por isso, foi protegido por uma tela. Não foi possível ver a unção nem na Abadia e nem nas transmissões.
"Ele deixa de ser um homem comum, ele vai agora passar a ser uma figura mística. Isso é o que diz a tradição, a lógica da monarquia. [...] É um momento muito sagrado, é um momento íntimo, é um momento da conexão do rei com Deus", diz Vieira.
A tela usada por Charles homenageia a Comunidade das Nações. O desenho nela bordado tem o formato de uma árvore com 56 folhas — cada uma delas representando os 56 países membros da Comunidade das Nações.
O Arcebispo derrubou óleo sagrado de uma ampula em uma colher. A ampula foi feita em 1661 para a coroação de Charles 2º. Já a colher é o objeto mais antigo usado na coroação — seu primeiro registro é de 1349, mas ela possivelmente foi usada nos anos 1100 na unção de outros reis e, depois, sobreviveu à Guerra Civil.
O Arcebispo ungiu o rei com o óleo fazendo uma cruz em sua cabeça, depois no peito, por fim, nas mãos enquanto recita uma oração.
Investidura e coroação
Aqui, o rei vestiu uma túnica dourada, a Supertunica, e recebeu objetos que representam seu poder: o Orbe, o Anel da Coroação, robe, estola, os cetros, braceletes e luvas.
Em seguida, o Arcebispo posicionou a Coroa de Santo Eduardo na cabeça do rei. Essa é a primeira e única vez que Charles usará essa coroa. Os presentes entoaram a frase "Deus salve o rei".
A Coroa de Santo Eduardo foi feita em 1661 para a coroação de Charles 2º. Ela pesa mais de dois quilos, é feita de ouro maciço e decorada com rubis, ametistas, safiras, granadas, topázios e turmalinas. Seu gorro é de veludo, decorado com uma faixa de arminho.
Entronização e homenagem
O rei, então, seguiu para o seu trono para receber as homenagens. Tradicionalmente, essa etapa seria mais longa, mas houve apenas a "homenagem de sangue real".
William, príncipe de Gales, recitou a homenagem: "Eu, William, príncipe de Gales, juro minha lealdade a vós, e fé e verdade vos trarei como seu suserano de vida e membros. Que Deus me ajude." Em seguida, ele tocou a coroa e deu um beijo no rosto do pai, que agradeceu.
O Arcebispo, então, convidou os presentes na Abadia e o público que assistia à coroação a prestar sua homenagem ao rei, caso desejassem, em uma "reflexão privada" ou em voz alta. Neste momento, presentes na Abadia juraram fidelidade ao rei.
Coroação de Camilla
Depois da coroação de Charles, Camilla foi coroada em uma cerimônia mais simples. A rainha foi ungida, investida, coroada e entronizada, sem precisar passar pelo reconhecimento e pelo juramento.
Camilla usou a coroa da rainha Mary, feita em 1911. É a primeira vez na história recente que uma rainha "recicla" uma coroa em vez de ordenar a produção de uma nova.
Algumas mudanças foram feitas na coroa antes de Camilla usá-la, como a inclusão dos diamantes Cullinan III, IV e V, retirados do maior diamante já encontrado e que faziam parte da coleção pessoal de joias da rainha Elizabeth 2ª, além de outras alterações para "refletir o estilo" da nova rainha.
Por fim, o rei e a rainha fizeram a comunhão antes de deixarem a Abadia de Westminster em procissão ao Palácio de Buckingham.
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