O caso dos comissários que contrabandeavam ao Brasil remédios contra a Aids
Com Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer e Ícaro Silva no elenco, "Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente" vai retratar a epidemia de Aids no Brasil nos anos 1980 e 1990. Filmada no Rio de Janeiro, a produção da HBO conta a história de comissários de voos que contrabandeavam AZT — único remédio usado contra a doença naquele momento — para salvar vidas. Ainda não há data de lançamento.
Dirigida por Marcelo Gomes e de Carol Minêm, a produção é inspirada em acontecimentos reais. Na história que será contada em cinco episódios, tudo começa quando Fernando (Massaro), um comissário de bordo que testa positivo para o HIV, tem a ideia de contrabandear AZT para uso próprio. Aos poucos, porém, entende que o problema é muito maior do que sua própria saúde e que ele precisa pensar e agir pela comunidade.
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Em conversa com Splash, Marcelo Gomes conta o que o público precisa saber para ver a série: "É uma história sobre pessoas que estavam saindo de uma ditadura militar pesada e que queriam viver. Uma juventude cheia de desejo de viver intensamente. É quando surgem os clubes LGBTQIA+ e as pessoas começam a se assumir em termos de sexualidade. Nesse momento, vem a epidemia terrível de Aids, que faz a sociedade ficar dez vezes mais conservadora do que já era. Essas ondas de conservadora vêm e vão, como tivemos nos últimos quatro anos."
Essa história é linda. É sobre vida, liberdade e solidariedade. Para os jovens de hoje é interessante saber como aquelas pessoas reagiram a um processo de conservadorismo imenso e preconceito profundo com as pessoas que eram HIV positiva, que eram estigmatizadas pela sociedade e como surgiu essa rede de solidariedade. Essa rede de solidariedade salvou vidas e ajudou a enfrentar o governo para exigir uma política de saúde pública em relação ao HIV.
Marcelo Gomes
Personagem de Bruna Linzmeyer, a comissária Leia vai ao encontro do que disse o diretor, garante a atriz. "Leila tem muito brilho e sustenta muitas coisas que estão desmoronando em volta dela, sem deixar a peteca cair. Ela se envolve em grandes loucuras fora da lei para proteger as pessoas que ela ama."
A série joga luz a um período sombrio da história e que é pouco falado, avalia Ícaro Silva. O ator pontua que a produção tem a missão de honrar o legado de todos os que partiram diante da omissão do estado e do preconceito que a Aids gerou "com muita violência" nos anos 1980 — e ainda gera. Apesar de ser uma infecção que pode contaminar qualquer pessoa, pessoas LGBTs foram estigmatizadas como portadoras da doença nos anos 1980 e 1990, por isso, pouco se fez para combatê-la a princípio.
A série leva consigo esse tema e tem essa missão. É uma série que conversa com muita gente que não se vê tão representada e fala do legado desses que foram, por muito tempo, invisibilizados e rejeitados na época. Tem um resgate do legado de muita gente da comunidade LGBTQIAPN+ que talvez estivesse aqui se não fosse a omissão e o preconceito.
Ícaro Silva
Debate segue atual
Quarenta anos depois dos primeiros relatos de Aids, mais de 10 mil pessoas ainda morrem no Brasil em decorrência da doença anualmente, segundo dados mais recentes do Ministério da Saúde. Isso acontece, geralmente, pela falta de informação e tratamento, ainda que o Brasil realize testagens e distribua remédios gratuitamente na rede pública de saúde — sendo referência internacional no assunto.
Além do resgate histórico sobre a epidemia de Aids no Brasil, Johnny Massaro acredita que a série pode ajudar a colocar o tema em debate — a partir do roteiro de Patricia Corso e Leonardo Moreira, que contou com a consultoria da infectologista Marcia Rachid, referência quando o assunto é HIV.
É importante a gente atualizar o que é viver com HIV hoje em dia. Muitas pessoas não sabem, mas você pode viver com HIV e não desenvolver a Aids a partir do momento que você está em tratamento. A expectativa de vida de quem vive com HIV hoje é maior que a das pessoas que não vivem com vírus justamente porque têm um acompanhamento médico constante.
Johnny Massaro
O trio de protagonistas pertence à comunidade LGBTQIA+ e, além de representatividade, leva às telinhas as especificidades desse grupo que representa parte da população brasileira. "O público está sedento por histórias LGBTs e essas histórias precisam ser contadas por nós. É muito importante que a gente faça parte da construção dessa narrativa que foi negligenciada por anos e, agora, está tomando mais espaço. Mas não é uma série de nicho. O Brasil inteiro está muito sedento", acrescenta Bruna.