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'Balada de Gisberta': quem foi mulher trans que inspirou música de Bethânia

Gisberta Salce morreu em 2006, em Portugal Imagem: Coletivo Panteras Rosas/ Reprodução

De Splash, em São Paulo

28/06/2024 04h00

"Balada de Gisberta", música interpretada em primeira pessoa por Maria Bethânia, carrega por trás a história da transexual brasileira Gisberta Salce.

A canção, que foi composta pelo português Pedro Abrunhosa, foi gravada pela artista no álbum "Amor Festa Devoção" (2010).

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Gisberta ficou conhecida em 2006, quando, aos 45 anos, foi assassinada por um grupo de 14 adolescentes na cidade do Porto, em Portugal. O ataque foi motivado por transfobia. Ela era uma mulher trans, soropositiva, estava em situação irregular no país e vivia nas ruas.

A brasileira foi torturada durante uma semana pelos adolescentes, com idades entre 12 e 16 anos, em um edifício abandonado — local em que vivia. Atiraram-lhe pedras à cabeça e espancaram-na com pedaços de madeira, chutes e pontapés. Foi torturada sexualmente.

Gisberta virou símbolo do movimento LGBTQIA+ Imagem: Coletivo Panteras Rosas/ Reprodução

Os jovens retornaram ao prédio no dia 21 de fevereiro, conforme consta nos autos do processo que analisou o caso. Ao chegarem no local, a brasileira não respondia a qualquer estímulo. Ela continuava na mesma posição. Concluíram que estava morta.

No dia seguinte, os adolescentes decidiram atirá-la no fundo de um poço. Gisberta, no entanto, estava viva. Ela morreu afogada, segundo concluiu a autópsia. Após uma suposta crise de consciência, um dos rapazes confessou o crime a uma das professoras e a polícia foi chamada.

Os responsáveis pelo crime foram condenados a internação, 13 deles a um ano e um mês em centros educativos. O mais velho, que à época tinha 16 anos, recebeu pena de oito meses de prisão. A Justiça concluiu que Gisberta morreu afogada.

Quem era a brasileira

Gisberta Salce Imagem: Coletivo Panteras Rosas/ Reprodução

Gis deixou o Brasil aos 18 anos por medo da violência contra travestis e pessoas trans, segundo reportagem do jornal português Observador. Segundo relatório da Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), de 2023, o país segue em primeiro lugar no ranking de nações que mais matam pessoas trans e travestis no mundo.

Ela saiu da capital paulista em direção a Paris, mas também conheceu outras cidades europeias até conseguir se estabelecer em Portugal. Foi babá e se apresentou em casas noturnas dublando cantoras como Daniela Mercury e Ivete Sangalo.

Brasileira enfrentou dificuldades nos últimos anos de vida, conforme reportagem do jornal português. Ela teria entrado em depressão após a morte de seus dois cães e passado a consumir drogas. Precisou recorrer à prostituição e com o passar do tempo, contraiu HIV.

Movimento LGBTQIA+

Pessoas homenageiam Gisberta na rua em que ela vivia e foi morta, no Porto Imagem: Reprodução/Instagram

Gisberta virou símbolo da luta contra a transfobia no país. O crime motivou a primeira Marcha do Orgulho LGBT de Porto, em 2006.

De acordo com o Gerador, plataforma portuguesa independente de jornalismo, a morte dela também levantou debates em relação à forma como a imprensa tratava casos da mesma natureza. À época, a brasileira chegou a ser chamada de "homem de mamas" pelos jornais locais.

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