'Meu padrasto tentou me matar': agrogays reinventam homem do campo
Influenciadores digitais vêm ganhando destaque nas redes sociais desafiando a imagem tradicional do homem do campo. Eles mostram, por meio de posts, que a diversidade sexual também está presente no universo agro —quebrando estereótipos e promovendo inclusão. É o caso dos criadores de conteúdo Jorge Santos e Odorico Reis.
Jorge, que se denomina "agrogay", viralizou após participar de uma reportagem da Globo. Desde então, ele faz sucesso respondendo comentários homofóbicos de forma bem-humorada. O trabalhador rural, que acumula mais de 222 mil seguidores no Instagram, usa o humor para mostrar que a "diversidade também está dentro do agro".
Eu estou representando muitos jovens da minha idade que moram na roça, que não têm o privilégio e a oportunidade de se abrir da forma que eu me abro com os peões nas redes sociais. Eu falo abertamente. Não tenho medo e nem vergonha de nada. Jorge, agrogay
Já Odorico, que se intitula "Agrogay Internacional", destaca que, no início, marcas que vendiam a imagem tradicional do agro não lhe davam espaço. Hoje, no entanto, ele é um dos influenciadores com mais parcerias na festa de Barretos —maior rodeio da América Latina.
Vejo que é uma evolução junta de autoaceitação. Só que isso passa por dores, então nada melhor do que uma terapia. Salvou a minha vida fazer terapia [...] A gente está construindo um marco de respeito, de acolhimento. Odorico
Ele lembra que um dos primeiros a adotar a expressão "agrogay" foi Ivan Rangel. O influenciador é mineiro e soma mais de 169 mil seguidores no Instagram. "Ele fazia esses conteúdos e trazia essa temática do agrogay, trabalhou na roça, na fazenda, e me identifiquei também. Ele foi uma das pessoas em que me inspirei."
'Meu padrasto tentou me matar'
A jornada de ambos os influenciadores é marcada por desafios e superação. Jorge relata ter sofrido homofobia por parte do padrasto, incluindo agressões físicas. Ele foi expulso de casa e morou em um orfanato antes de ser adotado aos 16 anos. A reaproximação com a família aconteceu após o padrasto se mostrar arrependido.
Ele [padrasto] era muito agressivo, muito bruto. Eu estou falando do passado dele. Hoje, ele não é assim mais [...] Inclusive, ele já tentou me matar com um machado. Pus a mão na frente do machado, inclusive. Não sei se vai dar pra vocês verem. Eu tenho uma cicatriz gigante aqui.
Odorico também enfrentou rejeição familiar ao se assumir gay aos 18 anos. Ele conta que a mãe tentou suicídio e que também teve pensamentos suicidas devido à falta de apoio. No entanto, o criador de conteúdo encontrou acolhimento no "mundo", o que motivou a família a repensar a postura.
Os meus pais foram contra. E meu pai, como é alcoólatra, foi pior ainda. Ele tinha mais coragem de fazer as coisas. Corria atrás de mim com faca. Minha mãe tentou se suicidar no dia que descobriu. Eu salvei ela com uma botinada. Foi desesperador. Eu falo até com a voz trêmula. É difícil falar sobre essas coisas.
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Quero receberAo mesmo tempo em que lidam com ataques, ambos os influenciadores também recebem mensagens de carinho de pessoas LGBTQIA+ do meio agro. Eles se tornaram referência para jovens que ainda enfrentam dificuldades de aceitação.
Quando eu abri publicamente para o mundo inteirinho que eu tenho HIV, recebi tanta mensagem de apoio, tanta mensagem de carinho [...] Então, eu sei que não estou sozinho. É nessa parte que eu lembro daquela frase: 'ninguém solta a mão de ninguém'. Jorge Santos
Essa é a parte mais linda que tem na internet, é como a gente chega próximo às pessoas e todas elas se sentem como se fossem um amigo pessoal. Quando eu falo agrogay, eu estou falando de um monte de pessoas, de um monte de histórias. Odorico Reis
Os agrogays destacam a importância da representativa e da inclusão. Ao mostrarem as próprias vidas e dores, esses influenciadores ajudam a desconstruir a imagem do "agroboy" e a criar novos espaços para ser e estar no mundo. Eles inspiram jovens LGBTQIA+ do campo a se aceitarem e a buscarem direitos.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por email, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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