Dissecando "The Division", é fácil separar quais partes do game vieram de "Assassin's Creed", "Far Cry", ou "Watch Dogs". Com a base da fórmula de mundo aberto da Ubisoft de lado, o que resta é o mesmo esquema de "mini MMO" que "Destiny" galgou, mas não conseguiu alcançar.
O surpreendente é que esse verdadeiro monstro de Frankenstein foi costurado com muito cuidado. Todas as suas partes funcionam conforme o planejado - fruto dos cálculos precisos da Ubisoft, que mira cativar aqueles que "Destiny" decepcionou.
"The Division" funciona tão bem que, no vácuo, daria até para fingir que ele é uma ideia realmente original, e não uma quimera de tudo o que o gênero de mundo aberto fez desde 2007.
O game já está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC, totalmente dublado em português do Brasil (em uma das melhores traduções que a indústria já produziu).
Parte de uma agência secreta de especialistas de combate, o jogador é chamado para entrar em Manhattan após um vírus dizimar boa parte da população de Nova York e lançar os sobreviventes no caos.
O objetivo do agente é instaurar e fortalecer uma base de operações e abrigos de segurança para civis, coletando pessoal e recursos necessários para a restauração da ordem na metrópole. Paralelamente, ele pode investigar o mistério por trás da terrível epidemia viral.
Na prática, o jogador age atirando contra grupos de inimigos e protegendo-se atrás dos tradicionais murinhos. Armas e equipamentos podem ser substituídos por outros encontrados pelo mundo, e novas habilidades obtidas por pontos de experiência e melhorias na base de operações.
Missões, missões paralelas e encontros, que são facilmente localizáveis no mapa do game, criam diferentes condições para o sucesso do jogador: defenda um refém, carregue um transformador do ponto A ao ponto B, investigue tal objeto. Mas a pequena variedade não muda a essência da ação: "The Division" é repetitivo por natureza. Grupos de inimigos surgem um após o outro, até que todos morrem e é possível prosseguir.
Para jogadores solitários, a monotonia chega rápido. Como um jogo de ação, "The Division" é muito mais limitado e fraco do que "Far Cry" ou "Assassin's Creed". A graça da experiência, como em "Destiny", está em enfrentar missões ao lado de amigos, combinando diferentes habilidades para montar diferentes estratégias de combate.
Como no shooter da Bungie, jogadores dividem os chamados "espaços sociais", onde é possível comprar itens e montar grupos. Fora dali, apenas membros de um mesmo time se encontram.
Diferente do shooter da Bungie, "Division" tem uma história coerente, personagens com motivações claras, e muito conteúdo. A Manhattan pós-apocalíptica é interessante, repleta de detalhes e de coletáveis que contam sua história (no próprio jogo, e não escondidos em um site).
Ao invés de errar e depois consertar, a Ubisoft parece ter observado com muita cautela todos os tropeços de "Destiny". Em um game tão grande, os menores detalhes fazem toda a diferença: dá para recrutar estranhos para formar grupos e enfrentar qualquer conteúdo de "Division", por exemplo - algo que até hoje "Destiny" não faz.
É claro que a comparação entre os dois games nem sempre é direta. A mecânica de tiroteios em primeira pessoa de "Destiny" é praticamente impecável, enquanto os "tiros entre murinhos" de "Division" já foram feitos de maneira melhor antes. Um jogo se passa no espaço, com cenários bastante inventivos; o outro, em um mundo realista. Mas é fato que "Division" oferece mais e respeita mais seu jogador do que "Destiny".
Ainda assim, há muitos pontos que "Division" precisa melhorar. O equilíbrio da força dos inimigos em missões enfrentadas por jogadores de níveis diferentes, por exemplo, é um problema que precisa ser remediado com urgência.
Exatamente como em "Far Cry", dá para argumentar que a Nova York destruída é desperdiçada em um game que te leva de ponto a ponto no mapa, com GPS e tudo mais, sem que você nunca precise realmente explorar o cenário.
A interace, repleta de menus e opções escondidas, devia ser mais redondinha. Às vezes coletar um item ou interagir com um objeto no cenário confunde e demora mais do que devia.
Os confrontos passivo-agressivos entre jogadores na Zona Cega, onde vale tudo, são empolgantes. Mas parece que falta ação do "terceiro elemento" - o próprio game - na ação, que praticamente sempre acaba com os soldados controlados pelo computador ficando em segundo plano como meras decorações.
Felizmente, do mesmo jeito que "Destiny" melhorou muito com a expansão "O Rei Possuído", é bem provável que "The Division" ganhe o mesmo tratamento ao longo dos próximos meses. É o ponto positivo de um jogo que obriga até mesmo quem joga sozinho a estar sempre conectado à internet.
Nota: 8 (Ótimo)
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