Dublado em português, "Deus Ex" brilha na narrativa e tropeça na ação
A história de Adam Jensen, um ex-segurança de uma empresa especializada em biotecnologia, ganhará sua continuação no dia 23 de agosto. É quando chega para "Deus Ex: Mankind Divided", game para PC, PlayStation 4 e Xbox One.
Sequência direta de "Deus Ex: Human Revolution", jogo de 2011, "Mankind Divided" retrata uma sociedade em crise, onde humanos "normais" e usuários de próteses cibernéticas - as chamadas "augmentations" - têm dificuldade para conviver em harmonia. O resultado disso é a segregação e o medo: as cidades passaram a ter guetos que abrigam esses humanos modificados e oprimidos.
O contra-ataque de uma parcela desta população ocorre por meio de grupos terroristas, responsáveis por ataques cada vez mais sangrentos e que não poupam nem mesmo seus iguais.
Futuro não muito distante
Cabe a Jensen, agora um agente da Interpol, capturar um grupo terrorista responsável por esses ataques ao mesmo tempo em que, secretamente, tenta desvendar quem está por trás da organização Illuminati. Esse grupo criou um sistema para controlar usuários dessas próteses, o qual é usado de maneira abusiva para manipular a opinião pública contra esse tipo de tecnologia.
Apesar de se passar em um futuro distópico e com elementos cyberpunks, o grande trunfo narrativo de "Deus Ex: Mankind Divided" é adotar temas e ambientações não muito distantes da atualidade - estamos a apenas 13 anos de 2029, data na qual o game se passa.
"O fato de se passar em um futuro próximo é algo que ajuda a gerar interesse dos jogadores", afirma o diretor de gameplay do game, Patrick Fortier. "Tratamos de temas complexos e atuais, como o medo de quem é diferente e a segregação. Se criamos um game que faz com que a pessoa, após jogar, fique pensando no assunto abordado e faça relações com o seu cotidiano, então nosso objetivo foi alcançado", afirmou.
Essa proximidade com o mundo real é um dos grandes trunfos do jogo. É possível traçar diversos paralelos com os fatos da atualidade, como o aumento do número de refugiados de guerra sendo obrigados a iniciar uma nova vida na Europa - onde, ao menos pelas primeiras horas, "Mankind Divided" se passa -, ataques terroristas mais frequentes e a ascensão de líderes políticos radicais, capazes de reunir seguidores com discursos rasos que apelam para o ódio em relação ao diferente e para uma suposta "divisão" da sociedade.
Os brasileiros poderão aproveitar bem essa história complexa, uma vez que o jogo será lançado no Brasil com dublagem em português. Na versão testada, porém, tanto as falas quanto as legendas em nosso idioma se mostraram um tanto artificiais em relação ao idioma original do game.
Não é um jogo de tiro
Durante o teste de uma versão preliminar do jogo, feito por UOL Jogos em San Francisco, nos Estados Unidos, bastaram poucos minutos para perceber que "Deus Ex: Mankind Divided" não se trata de um game de tiro convencional. Ele até tenta se aproximar de títulos do gênero e tem alguns acertos - oferecendo três mapas de controle distintos, sendo dois mais próximos do que vemos nesse tipo de jogo -, mas a mescla de aventura, RPG, stealth, exploração e ação pende para os quatro primeiros itens desta lista.
"Fizemos alterações para tornar o sistema de combate mais ágil e balanceado, o que torna o game mais confortável para novos jogadores que estão acostumados com jogos de tiro", afirma Fortier. Isso de fato ocorre e tem como maior exemplo o ato de mirar com uma arma. Dependendo do tipo de controle utilizado, sai de cena o sistema de mira por meio de um botão "liga/desliga" e passa a vigorar o uso de um dos gatilhos para essa ação.
Ainda que a Eidos Montreal, estúdio responsável pelo game, tenha feito avanços neste aspecto, a pretensão de unir elementos tão distintos acaba por gerar alguns tropeços.
De acordo com a produtora, a versão testada ainda passará por aprimoramentos em um dos seus pontos críticos, que é a inteligência artificial dos inimigos. Foi comum ocorrerem situações nas quais os adversários deixavam de ver Jensen ao seu lado, mas eram capazes de ouvir o mínimo ruído a vários metros de distância.
O mesmo vale para os comandos: se marcam uma evolução em relação a "Human Revolution", eles ainda mostram uma necessidade de afinação justamente na hora dos combates, quando são mais exigidos. A mira parece ser leve demais e carece de precisão, algo que aparenta ser um tanto incoerente uma vez que controlamos um agente com capacidades que vão além das de um humano incomum.
Nesse ponto, diminuir a sensibilidade dos comandos no menu do jogo e utilizar de maneira mais intensiva o sistema de cobertura em elementos do cenário ajudou um bocado, mas não resolveu o problema.
Vá por onde quiser
Outro ponto latente de "Deus Ex: Mankind Divided" é a liberdade. Além das missões principais que permitem avançar na história, é possível passar diversas horas fazendo atividades paralelas. As side quests são extensas e exploram a relação de Jensen com o mundo em que vive, além de permitir desdobramentos que aprofundam ainda mais o jogador na realidade do game. Elas são um ponto alto do jogo e passam longe de ser entediantes ou deslocadas da trama principal.
Essa liberdade também é encontrada na hora de se decidir como jogar. É possível adotar uma abordagem direta, batendo de frente com os inimigos, ou então se esgueirar por cantos escondidos do cenário - acredite, quase sempre haverá um duto de ventilação estratégico para ser explorado de maneira a evitar tiroteios. Caso o confronto seja inevitável, também é possível escolher entre armamentos incapacitantes ou letais.
"Queremos que o jogador escolha a forma de jogar com a qual se sinta mais confortável e mesclar diversos elementos em um único game dá essa liberdade", explica Fortier.
A possibilidade de personalizar as habilidades de Jensen - ou ainda jogar sem elas - também tem seu papel nesse plano. É possível ter um personagem mais apto ao combate ou que utilize artimanhas para não ser detectado, por exemplo. No mais, um elemento presente no game anterior também tem grande importância no título: a possibilidade de hackear computadores, portas ou terminais de segurança. A habilidade permite diversas ações, seja encontrar informações sobre a trama do jogo ou desbloquear caminhos ocultos, e tem papel fundamental para o avanço no game.
O aspecto visual também agrada e, se não é brilhante nesse quesito, "Deus Ex: Mankind Divided" certamente pode ser considerado um jogo bonito. Há uma mescla de áreas abertas e ambientes subterrâneos que se aproximam mais da temática cyberpunk. Na maior parte do tempo, o jogo roda liso - houve algumas quedas de taxa de quadros na versão testada, para PC, porém a produtora se disse ciente do problema e apta a corrigí-lo até o lançamento.
Para quem tem pressa
Paralelo ao game principal, há o novo modo Breach. Com visual estilizado e proposta mais casual, ele é definido por Fortier como "uma forma de jogar 'Deus Ex' quando você não está com tempo para se aventurar pela trama principal".
Nele, o jogador é um hacker disposto a invadir redes de empresas - e obter recompensas por isso. "É uma espécie de gamificação da mecânica de hackear terminais presente no jogo principal", explica a responsável pelo modo, Fluer Marty. Basicamente, o jogador atravessa corredores e desbloqueia caminhos ao acessar pontos de interação que representam, por exemplo, arquivos de um computador.
Esses arquivos demoram um tempo para serem acessados e ter seu conteúdo extraído - como se o a criptografia que os protege estivesse sendo quebrada. Há combate contra inimigos espalhados pelos corredores e, caso o jogador seja descoberto - por alguma espécie de programa antivírus do sistema - inicia-se uma contagem regressiva para que ele escape.
Nesse modo, é possível comparar o tempo de cada fase com os obtidos pelos amigos e também comprar itens com dinheiro real para facilitar o progresso, ainda que isso não seja mandatório.
Entre erros e acertos
Essa mistura de pontos positivos e negativos poderá ser um problema para a meta da Eidos Montreal de tornar "Deus Ex: Mankind Divided" atraente para quem não é iniciado na franquia e tende a frustrar quem busca um jogo mais próximo de um título de ação convencional.
Excetuada a parte de ação, porém, o título se mantém cativante, em especial pela história complexa e recheada de momentos fortes e a liberdade de escolha dada aos jogadores. O modo Breach também se mostrou uma adição interessante à fórmula da série e, se bem desenvolvido após o lançamento, poderá ampliar a vida útil do título.
Salvo algum tropeço de última hora, é improvável que o game desagrade sua base de fãs, uma vez que ela encontrará todos os elementos positivos do jogo anterior. Quem é novo na série, porém, terá que se armar de um bocado de paciência e uma dose de readaptação para aproveitar o que o "Deus Ex: Mankind Divided" tem de melhor a oferecer.
*Viagem a convite da Square Enix
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