Novo "Deus Ex" é parque de diversões para jogadores curiosos e criativos
Quando foi lançado, em 2011, "Deus Ex: Human Revolution" deixou a impressão de que poderia ser muito mais do que realmente foi. A receita básica estava lá: história e ambientação envolventes, protagonista convincente e mecânicas interessantes.
O título, porém, esbarrou justamente em sua execução: a jogabilidade sofria de uma crise de identidade, transitando entre ser mais próxima da encontrada em jogos de tiro tradicionais ou ser totalmente inovadora, assim como a árvore de habilidade de Adam Jensen se mostrava inútil, por exemplo, em batalhas contra inimigos mais poderosos.
É com esse retrospecto que "Deus Ex: Mankind Divided", segundo título dessa nova fase da série iniciada em 2000, precisa lidar. Em um primeiro momento, a missão parecia simples: com uma base sólida, bastaria corrigir os defeitos. A Eidos Montreal, contudo, foi além, a ponto dos jogadores precisarem de poucas horas do jogo para perceber que o game supera o anterior em todos os pontos - e isso também vale em relação à versão preliminar testada por UOL Jogos há cerca de um mês.
Cyberpunk de raiz
O eventos retratados em "Mankind Divided" são sequência direta do que houve no game anterior. E, para evitar afastar os jogadores que não completaram ou experimentaram o antecessor, o novo jogo traz uma sequência cinematográfica de cerca de 12 minutos que conta tudo que ocorreu em "Human Revolution". É um resumo muito bem feito, sendo recomendado inclusive para quem lembra da aventura anterior de Adam Jensen.
O super agente, por sua vez, retorna com todos os aprimoramentos obtidos ao final de "Human Revolution". Essa condição, porém, não dura muito e em pouco tempo os jogadores se encontram evoluindo as habilidades de Jensen. Para isso utiliza-se um item chamado Praxis Kit, obtido ao subir de nível ou encontrado durante as missões.
O jogo se passa em uma versão cyberpunk de Praga, capital da República Checa, em 2029. É uma cidade movimentada, com diversos setores e que transmite uma atmosfera que mescla conceitos tecnológicos, contrastes sociais e um estado de repressão por parte do governo. Em decorrência dos acontecimentos do final de "Human Revolution", a humanidade encontra-se em um momento delicado de sua história: há uma divisão muito clara entre humanos normais e aqueles que utilizam próteses mecânicas, chamados de "aprimorados".
Esse segundo grupo acabou sendo colocado à margem da sociedade, situação perfeita para o crescimento do preconceito e o consequente surgimento de extremistas de ambos os lados. É um cenário que permite traçar paralelos com a época atual, especialmente quando vemos discursos de ódio e ideias extremas ganhando cada vez mais força.
Jensen, agora agente da Interpol, tem que lidar com essa situação. Ao passo que ele próprio possui aprimoramentos em seu corpo - responsáveis, inclusive, por ele estar vivo -, há momentos em que fica clara a hesitação do protagonista em defender este ou aquele lado da história. Um ponto curioso é ver que, por mais que ele trabalhe com o intuito de garantir a segurança das pessoas, sejam elas 100% humanas ou não, o agente acaba sendo vítima do preconceito que dominou a sociedade retratada, como em abordagens policiais.
Assim como no antecessor, a história de "Mankind Divided" é intrincada e conspiratória. Revelar quaisquer detalhes aqui seria um desserviço para quem pretende jogar o game, restando dizer que o nível, nesse ponto, continua bastante alto.
Aquilo e mais um pouco
Outro aspecto que mostra sua evolução desde o início é a jogabilidade. De cara, o jogador pode escolher entre três mapas de controle distintos, sendo um idêntico a "Human Revolution", um original de "Mankind Divided" e outro que imita os comandos de um jogo de tiro em primeira pessoa. Há configurações de sensibilidade para a câmera e a movimentação, permitindo que os jogadores façam ajustes finos de acordo com os seus gostos.
Considerando os dois mapas de controle inéditos, o ganho em jogabilidade é notável. A ação fica mais ágil e precisa e tanto atirar quanto usar as habilidades especiais de Jensen é algo simples. O ponto negativo fica por conta do ataque físico. Sempre que é usado, ele inicia uma cutscene que acaba quebrando o ritmo da ação. Golpes do tipo também gastam energia de Jensen, o que faz com que eles não possam ser usados com frequência.
A estrutura de missões e cenários aprimoram o visto em "Human Revolution". Há atividades principais, que dão seguimento à história do jogo, e missões paralelas. Ambas, porém, se diferem pouco quando falamos em duração, complexidade e alternativas: salvo raras exceções, elas costumam ser demoradas e podem ser completadas de maneiras distintas, mesmo que todos os seus objetivos não sejam atingidos.
Por falar em missões, não há uma forma correta de abordá-las. Jogadores ávidos por neutralizar inimigos podem procurar o enfrentamento - o que torna o jogo mais difícil, uma vez que Jensen não resiste a muitos tiros e, frequentemente, está em desvantagem numérica. Jogadores criativos, por sua vez, poderão encontrar caminhos alternativos pelos tradicionais dutos de ventilação e, com isso, atingir pontos privilegiados. Essa liberdade permite, por exemplo, vencer boa parte dos desafios sem que seja disparado um único tiro e escolher entre tornar Jensen um agente letal ou que poupa vidas.
A possibilidade de hackear terminais eletrônicos, câmeras e outros dispositivos retorna sem grandes alterações e continua sendo um recurso útil. A curiosidade, nesse ponto, pode render frutos aos jogadores que decidirem invadir computadores, cofres e salas trancadas: é possível conseguir diversos itens e também documentos e e-mails que aprofundam a história e o contexto do jogo. É fácil passar horas e horas fazendo isso.
Ponto criticado no jogo anterior, o encontro com chefes foi praticamente abolido de "Mankind Divided". É mais comum, ao final de alguma missão, Jensen ser cercado de inimigos ou então ser alvo de alguma armadilha. Há também encontros com antagonistas que acabam sendo resolvidos na base do diálogo, quando escolher respostas certas de acordo com a personalidade do interlocutor pode fazer com quem Jensen atinja seu objetivo no momento.
Quem quiser uma experiência mais direta - e rápida - poderá encontrar uma diversão descompromissada no modo Breach. Ele nada mais é do que a mecânica de hacking transformada em um minigame de ação. Os jogadores encontram-se em um cenário fechado e competem para ver quem consegue extrair dados de servidores no menor tempo possível. Caso seja detectado por sistemas de segurança, é preciso enfrentar soldados adversários. A jogabilidade, por sua vez, funciona de maneira praticamente idêntica à vista no game principal.
Bonito, mas poderia ser melhor
Como já dito no início dessa análise, a versão cyberpunk de Praga é bonita, com seus letreiros digitais e movimentação de seus moradores criando uma ambientação que combina muito bem com a proposta do jogo. "Deus Ex: Mankind Divided" pode não ser o jogo mais bonito que você verá, mas passa longe de ser feio.
A parte sonora também é competente, mas aqui cabe uma ressalva: a dublagem em português soa bastante artificial e, muitas vezes, a entonação utilizada não combina com o momento. Quem não compreende o inglês, mas não tem preguiça de ler, ficará mais satisfeito ao deixar o áudio original e ativar as legendas em nosso idioma.
O grande tropeço do jogo no aspecto técnico diz respeito às quedas da taxa de quadros quando se corre pelas áreas abertas do mapa, ao menos na versão testada, para PlayStation 4. Não chega a atrapalhar a experiência, mas gera um certo incômodo.
Entre prós e contras, é possível falar que "Deus Ex: Mankind Divided" finalmente faz jus ao potencial dessa nova fase da série. Com uma história muito atraente e capaz de gerar um grande senso de satisfação nos jogadores que se dispuserem a explorar suas mecânicas, é um game facilmente recomendável e que abre muito bem um segundo semestre repleto de novidades.
As particularidades do game, porém, podem fazer com que ele não agrade a todo tipo de jogador. Quem procura uma experiência mais voltada para a ação ou um desenvolvimento de história mais simples e ágil tende a se frustrar com o título. Por outro lado, quem já é fã da série ou está disposto a investir seu tempo em um game mais profundo certamente não se decepcionará com o jogo.
"Deus Ex: Mankind Divided" terá versões para PC, PlayStation 4 e Xbox One e será lançado no dia 23 de agosto.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.