"Final Fantasy XV" equilibra clássico e moderno em RPG imperdível
Não vou negar: é muito estranho falar sobre "Final Fantasy XV" como um game que existe e pode ser jogado de verdade, do início ao fim.
Anunciado em maio de 2006, na época com o nome de "Final Fantasy Versus XIII", o jogo enfrentou um complicado desenvolvimento de mais de uma década. Ganhou novo nome e deixou de ser título exclusivo do PlayStation 3 para aparecer em versões no PS4 e Xbox One.
Mais impressionante do que ver um projeto tão conturbado virar realidade é constatar que ele honra o pesado fardo que carrega e cumpre bem a difícil missão que lhe foi confiada: promover, de forma incontestável, o retorno de "Final Fantasy" à elite dos RPGs.
O jogo consegue se equiparar ao brilho de RPGs ocidentais, como “Witcher 3”, “Fallout 4” e “Skyrim”, e deve influenciar bastante outras obras japonesas.
A receita para isso é simples, mas realizada com competência e ingredientes de alta qualidade.
"FFXV" é um RPG com os clichês mais marcantes da série, apoiando-se fortemente na tradição do gênero que ajudou a consagrar nos anos 80.
Além disso, é também um game de ação com mundo aberto cheio de personalidade e tarefas para cumprir e um sistema de luta ousado e frenético, inspirado em “Kingdom Hearts”, mas ainda cheio de novidades.
Para quem já é fã da série, seja lá qual for seu episódio favorito, não há o que questionar: “Final Fantasy XV” é uma experiência imperdível, que revive o encanto da grife. Já para novatos, nunca houve oportunidade melhor para conhecer a série: as mudanças e novidades deixam tudo acessível o bastante sem deixar de lado elementos tradicionais importantes.
Tudo isso com legendas em português do Brasil, algo que nunca tinha acontecido no lançamento de um episódio principal de “Final Fantasy”.
História velha, roupas novas
A história de "Final Fantasy XV" se confunde com o momento que a série vive. O reino de Lucis está em guerra contra o império de Niflheim e o confronto já se estende por muitos anos. Um acordo de paz está para ser assinado e em celebração à aliança o príncipe Noctis se casará com Lunafreya, princesa de Tenebrae, reino dominado por Niflheim.
Algo dá errado e Noctis se vê obrigado a embarcar em uma jornada épica para recuperar o trono. No caminho, tem a companhia dos inseparáveis amigos Gladiolus, Ignis e Prompto. Trata-se de um conto clássico de amadurecimento, sobre as dificuldades de encarar as responsabilidades da vida adulta.
Em uma história que se desfia ao longo de cerca de 30 horas, o grupo encara uma verdadeira coletânea de grandes momentos dos episódios anteriores da série e tantos outros RPGs e histórias de fantasia.
Falando assim pode parecer ruim, mas na verdade é algo excelente. A história é revelada de forma envolvente, os eventos são encadeados de forma eloquente e empolgante. Além disso, ao jogar seguro em relação aos pontos-chave de desenvolvimento da história isso abre espaço para a personalidade do jogo brilhar ainda mais. É uma história sem grandes reviravoltas originais, mas muito bem contada.
O final não traz nenhuma surpresa, mas é muito emocionante por conta do envolvimento com os personagens. O que importa de fato é a jornada, e não tanto o destino.
O mundo de "Final Fantasy XV" mistura fantasia medieval com tecnologia contemporânea de forma natural e encantadora. Monstros e magias convivem ao lado de carros e telefones celulares.
Prompto, o mais fanfarrão da turma, carrega consigo uma antiga câmera analógica com a qual registra momentos bacanas da aventura (que você pode salvar em um álbum e compartilhar em redes sociais no mundo real).
No lugar de tavernas, restaurantes à beira da estrada. Em vez de uma airship, o luxuoso carro Regalia, presente do rei Regis, pai de Noctis. Em vez de castelos, suntuosos prédios comerciais. Pode parecer estranho, mas a modernidade acentua o lado mágico: quando algum monstro aparece ou feitiços são invocados o impacto é muito maior.
A camaradagem entre os membros do quarteto 'boy band' também é outro ponto brilhante. Os amigos conversam entre si o tempo todo, sobre fatos recentes na história, alguma paisagem diferente pela qual passaram e até amenidades, como o clima e refeições. Detalhe sutil que ajuda você a se importar com os personagens e a história.
Lição de casa bem feita
Tecnicamente, "Final Fantasy XV" segue a risca tudo que se esperava dele, mas não sem alguns vacilos. O jogo é lindo e mostra ambientes detalhados, mas a taxa de quadros por segundo nem sempre é a mais suave, resultando em alguns movimentos incômodos de câmera.
Os combates são extremamente divertidos e claramente feitos para ambientes abertos. Noctis voa frenético de um lado para o outro, usando uma ampla variedade de lâminas e armas de fogo e poder de teletransporte. Enquanto isso, o trio de amigos luta por conta própria, sendo que o jogador pode ativar algumas habilidades especiais deles.
Um elemento estratégico interessante é que Noctis pode se prender a cantos do cenário e atacar de lá. Quanto mais longe for a origem do ataque, maior o dano causado. Em descampados e grandes arenas isso funciona muito bem, mas a confusão é demais em corredores e salas pequenas - felizmente, situações que pouco acontecem no game.
Magias e invocações (as sempre populares summons) marcam presença, mas em momentos pontuais. Poderes mágicos existem no mundo do game, mas não são populares - não são todos que podem utilizá-los. Assim, a variedade de magias e summons não é tão grande, mas sempre que são usadas o impacto é absurdo e pode mudar rumos de batalhas difíceis.
A receita de bolo para um jogo de mundo aberto também é executada sem grandes surpresas, mas a roupagem de “Final Fantasy” ajuda a renovar a experiência batida enquanto também garante boa longevidade ao jogo.
Levei cerca de 30 horas para terminar a história principal, mas os extras certamente garantem no mínimo o dobro do total de tempo no jogo. Quem nunca se empolgou muito com “Final Fantasy”, mas conferir este episódio por conta do mundo aberto vai se sentir bem à vontade e satisfeito com a quantidade de missões para cumprir.
O mundo apresentado em “FFXV” não é tão grande quanto em outros episódios, mas é extremamente denso e cheio de cantinhos para explorar. Rodar as estradas com o Regalia, explorar o mato com Chocobos ou conversar com as pessoas nas cidades leva a muitos tesouros, paisagens bonitas e oportunidades de ganhar mais experiência e deixar seus heróis mais poderosos.
A última masmorra e a batalha final passam a impressão de terem sido feitas às pressas, já que são experiências pobres que praticamente não se aproveitam de todas as outras características legais exploradas no jogo, mas não estragam o jogo - afinal, quem chegou até elas já investiu tempo o bastante na história para querer chegar ao final. Acabam sendo mais oportunidades perdidas do que exatamente erros ou problemas do jogo.
Em tempo, sobre a trilha sonora, nada a se preocupar: desde o início nas mãos da lendária Yoko Shimomura (de “Street Fighter II”, “Super Mario RPG” e “Kingdom Hearts”, dentre tantos outros), o trabalho é soberbo, com citações sutis a temas clássicos e peças originais que transmitem bem a gravidade da trama. Na dúvida, procure pela faixa-tema, “Somnus”, revelada ainda na época que o jogo se chamava “Versus XIII”.
Por fim, trabalho impecável também de localização. Pela primeira vez um episódio principal de “Final Fantasy” sai com legendas em português do Brasil e o trabalho é muito bem feito, conseguindo capturar bem o estilo mais informal e divertido dos moleques, a formalidade da realeza e ajudando a navegar pelos diversos menus e diálogos do game.
O retorno do rei
“Final Fantasy XV” marca uma nova fase para a série. Valeu acompanhar e esperar este jogo por mais de uma década.
O misto de tradição e modernidade promovido pela Square Enix no jogo funciona bem e tem tudo para agradar tanto fãs saudosistas quanto encantar uma nova geração de pessoas que nunca se aventuraram em um “Final Fantasy”.
Ao lado de RPGs ocidentais brilhantes, como “Witcher 3” e “Skyrim”, o jogo oferece uma aventura vasta, que não deixa de lado a tradição para também renovar a brincadeira com elementos de mundo aberto, algo que deve acabar influenciando uma nova leva de RPGs japoneses.
Enquanto na geração passada a série “Final Fantasy” brigou para se manter nos trilhos e não perder a lealdade dos fãs, “FFXV” mostra que a Square Enix conseguiu assimilar críticas para criar um título imperdível.
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