"MediEvil" volta do túmulo sem conseguir a redenção que precisava
Das principais franquias da Sony lá do primeiro PlayStation, "MediEvil" talvez seja a mais convencional. É só olhar para bizarrices como "Twisted Metal" e "PaRappa the Rapper" para sentir a diferença. Quando as desenvolvedoras ainda tateavam o 3D, com polígonos grosseiros, câmeras problemáticas e interface poluída, o criador de "James Pond", Chris Sorrell, queria mesmo misturar fantasia medieval e todo seu amor pelo cineasta Tim Burton. Daí surgiu "MediEvil".
Esta nova versão, na verdade, é um segundo remake, já que a franquia havia ressuscitado no PSP com "MediEvil Resurrection" (2005). Ela segue a onda recente de reproduções preto-no-branco de títulos como "Crash Bandicoot", "Spyro the Dragon" e, para manter as coisas dentro de casa, "Shadow of the Colossus". Assim como os jogos citados, o novo "MediEvil" tira um pouco da poeira acumulada pelos anos, mas perde toda e qualquer oportunidade de aprimorar a obra original.
Sir Dan, o esqueleto destrambelhado
Lá pelos idos do século XIII, o feiticeiro Zarok vivia entediado. Era um mundo muito feliz e pacífico. Para equilibrar as coisas, criou seu exército particular de criaturas das trevas. E assim começou uma guerra pelo reino de Gallowmere, cujo campeão e protetor, Sir Dan Fortesque, foi justamente aquele atingido pela primeira flecha disparada. Bem no olho.
Outros campeões venceram a guerra. O rei, amigo pessoal de Dan, o condecorou herói e a paz voltou. Mas só por 100 anos, quando Zarok ressurge, exumando cadáveres aos montes, o que inclui Sir Dan, agora nada além de um esqueleto em armadura de prata. Eis aí nosso salvador e protagonista, com chacotas cortantes de seus colegas de profissão no Saguão dos Heróis. É engraçado controlar um perdedor em busca de redenção.
Despertado de seu descanso (quase) eterno, Sir Dan, de espada e escudo em riste, parte por Gallowmere para dar um basta nos planos nefastos de Zarok e provar seu valor aos seus camaradas. "MediEvil" continua impressionando pelo arsenal diversificado, apesar de o combate ser bastante simples, até mesmo nas batalhas contra chefões. Espadas mágicas, martelos de combate, balestras, arcos e até um capacete de dragão capaz de cuspir fogo e resistir a lava são ganhos quando você leva cálices até o Hall dos Heróis.
Para ter um cálice, é preciso ceifar a vida dos monstros, levando suas almas até os recipientes sagrados. Na época, já era uma forma válida de incentivar o combate, e continua aqui, como todo o resto. De novo mesmo, só uma câmera sobre os ombros de Dan, algo nos moldes do novo "God of War" e que não funciona. Mesmo. Melhor esquecer.
A trama de "MediEvil" não tem nada de memorável, e nem faz questão de ser, mas se preocupa em arrancar algumas risadas desconjuntadas vez ou outra. E até que funciona, com a boa localização para nosso idioma, tanto nos textos quanto dublagem, cumprindo bem seu papel. Deram voz a Daniel dessa vez, mas o cavaleiro não é nada brilhante, e rolam até constrangimentos de leve, seja pelas sentenças do diálogo que não se encaixam, ou pela esquisitice do papo mesmo.
A trama de 'MediEvil' não tem nada de memorável, e nem faz questão de ser, mas se preocupa em arrancar algumas risadas desconjuntadas vez ou outra
Cópia de papel-carbono do além
"MediEvil" tem lugar cativo em meu coração, mas também resgata a fúria das profundezas.
Ao jogar a nova versão, me lembrei muito mais dos momentos desmotivadores, como refazer fases inteiras porque precisei de um único item que havia deixado para trás. Porque sim, "MediEvil" é bem mais que um hack'n slash puro e simples - o jogo pega emprestado até de adventures, com inventário e itens específicos para serem utilizados em momentos também específicos. Tipo o cofre na casa do prefeito de Gallowmere, guardando um artefato mágico capaz de abrir aquele alçapão daquela floresta de demônios de sombras.
Eu tinha me esquecido de como a dificuldade do jogo é absurdamente desconjuntada, indo do ridiculamente fácil até o frustrante ao extremo - atenção para aquela fase do porto, cheia de plataformas estreitas e zumbis obesos. "MediEvil" tem um esquema estranho de checkpoint, gravando suas poções de vida no momento em que começa cada nova fase. Morrer significa voltar ao início dessa fase específica, e isso força revisitações a lugares passados para encher essas poções. Meio tedioso.
A dificuldade do jogo é absurdamente desconjuntada, indo do ridiculamente fácil até o frustrante ao extremo
Aliás, é bom puxar da memória, pois quanto mais você se lembrar do jogo original, menos problemas terá com essa nova versão, pois é tudo idêntico, ipsis litteris mesmo: desde o posicionamento dos inimigos até a frustração dos trechos de plataforma e por aí vai. Da trilha sonora, excelente e orquestrada, como foi com "Resurrection", aos diálogos, jocosos, é tudo como antes.
O maior apelo deste novo "MediEvil" é, sem dúvida nenhuma, seu visual. É aquele filme de terror para crianças, perfeito para a semana de Halloween. E a inspiração cumpre seu propósito: os jardins, florestas e design geral dos personagens são muito "O Estranho Mundo de Jack", com um climão terrível/paspalhão para quem curte "Beettlejuice". As gárgulas até tentam soar assustadoras e tal, mas sem sucesso. São só adoráveis. Com exceção das comerciantes, que acabam com suas peças de ouro rapidinho.
No entanto, preferiria ter mantido "MediEvil" na lembrança. Jogar agora, de novo, foi como rever aquele filme querido de quando era moleque: a magia se desfez. Só fico feliz quando penso que, talvez, uma nova audiência abrace calorosamente o esquelético cavaleiro atrapalhado, Sir Daniel Fortesque. Mas funcionaria melhor se tivessem espanado as teias de aranha desse esqueleto.
O novo "MediEvil" conserva o clima de "terror para toda a família" do jogo de PlayStation (1998), e melhora ainda mais o clima com dublagem em português brasileiro. Para quem é novo nesse território, é uma ótima chance de conhecer um mundo e personagens curiosos. Quem guarda boas lembranças do jogo original, porém, pode se decepcionar, já que a aventura de Sir Dan não envelheceu tão bem como a gente gostaria.
Lançamento: 25/10/2019
Plataforma: PS4
Preço sugerido: R$119,90
Classificação indicativa: 12 anos
Desenvolvimento: Other Ocean Emeryville
Publicação: Sony Interactive Entertainment
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