O maior vilão de Final Fantasy VII Remake não está presente no jogo e é mais forte do que Sephiroth: o monstro da expectativa. A criatura se alimentou por anos com os desejos do fãs e, quanto maior ficava, maiores eram as chances de se tornar uma decepção.
Afinal, há todo o peso de o jogo original ser um dos RPGs mais importantes da história e o próprio remake ter uma fama de lenda, daquelas que muitos só vão acreditar quando jogarem de fato. Que ironia uma fantasia virar realidade e ainda mais saber que Final Fantasy VII Remake é, sim, um bom jogo. Parece até milagre.
Remake, mas só do começo
O primeiro milagre de Final Fantasy VII Remake é o da muliplicação, ao transformar as primeiras sete, oito horas do game original em uma aventura completa de mais de 40 horas. Ou quase completa, porque o jogo que chega agora em 10 abril é só a primeira parte do projeto do remake de Final Fantasy VII, com o restante ainda sem data.
A premissa continua a mesma e apresenta o conflito do grupo ecoterrorista Avalanche contra a megacorporação Shinra, que está explorando os recursos do planeta em nome do progresso. A temática ambiental, inclusive, é mais reforçada no remake.
Final Fantasy VII Remake se limita ao que acontece em Midgar no jogo original. Os eventos marcantes estão todos lá: da destruição do reator Mako até a invasão ao prédio da Shinra e a fuga da cidade
Final Fantasy VII Remake se limita ao que acontece em Midgar no jogo original. Os eventos marcantes estão todos lá: da destruição do reator Mako até a invasão ao prédio da Shinra e a fuga da cidade.
A vantagem do remake é justamente reimaginar esses acontecimentos, apresentando-os de formas diferentes e até mesmo com finais inesperados, o que vai surpreender muitos fãs e também gerar controvérsias.
Até por essas diferenças na história, mesmo Final Fantasy VII tendo mais de 20 anos de idade, spoilers da trama podem estragar muito a experiência de quem jogou o original. Esta análise também contém o mínimo de spoilers sobre o remake.
Entre altos e baixos
Uma das preocupações com o remake era que ele acrescentasse muita coisa besta e irrelevante para inflar as horas de jogo. Dos 18 capítulos em que o remake é dividido, pelo menos dois deles realmente caem nesse erro. São os episódios "filler" de um anime.
No geral, Final Fantasy VII Remake é um jogo com seus altos e baixos, mas a boa notícia é que os criadores souberam usar bem o tempo para acrescentar um conteúdo que enriquece a experiência como um jogo de RPG.
Sem entrar muito em spoilers, mas para citar algo que exemplifica isso muito bem: a função de mercenário do protagonista Cloud, nada aproveitada no jogo original, agora é realmente explorada em missões paralelas. A população que vive na cidade de baixo de Midgar (os Slums, do original) precisa se defender de criaturas selvagens e nada melhor do que um mercenário para dar cabo do perigo.
Esse tipo de abordagem é o que há de melhor no remake, porque aproveita características não exploradas no original e que fazem sentido, sem parecer forçado. São nesses novos contextos, também, que surgem momentos memoráveis, que serão lembrados tanto ou até mais do que o jogo original.
O remake também gasta um bom tempo desenvolvendo personagens secundários, e com razão, porque o jogador vai querer ser amigo dos três integrantes extras da Avalanche: Jessie, Wedge e Biggs. Além deles, novos rostos também são apresentados.
Algumas dessas figuras inéditas estou até agora tentando entender por que estão no jogo, como o vilão Roche, mas a maioria se encaixa muito bem e só deixa aquele mundo mais interessante de interagir. As aventuras pelo Wall Market, por exemplo, ganham novas narrativas muito bem-vindas por conta de novos personagens.
Se por um lado o híbrido entre ação rápida e estratégia seja a decisão perfeita para deixar as lutas divertidas, alguns aspectos me deixavam frustrado quanto mais eu jogava
Já o combate foi o aspecto que mais me trouxe sensações conflitantes, amando e odiando diferentes características nele. Se por um lado o híbrido entre ação rápida e estratégia seja a decisão perfeita para deixar as lutas divertidas, outros aspectos me deixavam frustrado quanto mais jogava.
A câmera poderia ser melhor? Poderia. Cairia bem uma opção para determinar o comportamento dos outros membros do grupo quando não estão sendo controlados diretamente pelo jogador, evitando algumas dores de cabeça nas lutas contra os chefes mais avançados do jogo.
Ainda assim, entra fácil nos melhores sistemas de combate que a série já teve. Fora o esquema de evolução de armas, que vai deixar os mais aficionados por estratégias bons minutos nos menus do jogo.
Igual, mas diferente
Todo mundo gostaria de ter de novo aquela experiência de jogar algo que marcou sua vida, mas não importa quantas vezes rejogamos um Mario, um Fallout ou um Resident Evil, nunca será a mesma coisa.
Imagina, então, quando tentam recriar um dos jogos mais importantes, como é Final Fantasy VII. O mínimo de vacilo seria a ruína. Só que esse Remake é um jogo de milagres, e chegar tão perto disso é mais um deles.
O Remake não traz a exata mesma experiência, é claro, mas causa a sensação de jogar de novo um clássico pela primeira vez. Isso acontece principalmente pela construção de mundo do jogo, que usa bem de temas e narrativas pouco exploradas no game original e que estavam só esperando para serem mais bem trabalhadas no remake.
A própria cidade de Midgar é um exemplo claro. Como todo o remake se passa por lá, é explorado mais a fundo o conceito de uma metrópole dividida entre a cidade de cima, rica e próspera, e a cidade de baixo, mais simples e periférica.
"Se essa plataforma não estivesse aí poderíamos ver o céu", dizia Barret no jogo original. Em Final Fantasy VII Remake, basta olhar para cima na cidade baixa e se deparar com a imponência das imensas plataformas suspensas que formam a cidade alta em forma de pizza, dividida em setores e engolindo os céus. É fascinante e também assustador.
Outro tema que é mais aprofundado no remake, e de uma maneira muito boa, são as consequências dos atos da Avalanche. Logo após a primeira missão do jogo, de destruir o reator, o game faz questão de colocar o jogador nas ruas de Midgar cheia de escombros, testemunhando crianças assustadas e feridas, mostrando também o peso da culpa nos personagens, já que as ações deles causaram estragos colaterais graves.
São também nesses momentos expandidos e mais bem trabalhados em que o remake se sobressai, reinterpretando a obra original e entregando uma experiência mais completa e até relevante para os dias de hoje.
Para muitos, a simples existência de Final Fantasy VII Remake vai ser admirável pelos anos de espera e rumores. O fato de ele não ser uma decepção vai ser um alívio para outros, até porque a Square Enix brincou com a sorte e enfrentou problemas no desenvolvimento, tanto que o estúdio Cyberconnect2 (da série Naruto Ultimate Ninja Storm) saiu da produção por não atingir a qualidade desejada.
Final Fantasy VII Remake existe, ainda incompleto, mas não é uma decepção e ainda é um bom RPG por suas mecânicas, construção de mundo e personagens. Um verdadeiro milagre. Amém, Tetsuya Nomura.
Lançamento: 10/04/2020
Plataformas: PlayStation 4
Preço sugerido: R$ 250
Classificação indicativa: 14 (conteúdo sexual e violência)
Desenvolvimento: Square Enix
Publicação: Square Enix
Jogue também: Final Fantasy XV, Persona 5, Dragon Quest XI
*Cópia para análise foi cedida pela Square Enix ao START.
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