Conheça a filósofa brasileira de 25 anos que vai chefiar a rede social Tumblr no país

O Brasil já é o segundo país com maior presença no Tumblr, mistura de rede social com blog que conta hoje com 40 milhões de usuários no mundo. Destes, 8 milhões são brasileiros e passam em média 32 minutos no serviço a cada visita - contra 23 do resto do mundo. Para entender e aproveitar o potencial desse mercado, os executivos do Tumblr, decidiram abrir no país o seu primeiro escritório fora dos Estados Unidos. E a paulistana Gina Gotthilf, de 25 anos, foi a escolhida para comandá-lo.

Meiga, fã de tecnologia e um pouco tímida, Gina contou para o UOL Tecnologia que a filosofia e a neurociência (!) a levaram para o caminho das mídias sociais e explicou como foi descoberta pelo Tumblr. E talvez tenha conseguido dar a melhor (e definitiva, talvez?) explicação sobre o que é, afinal, o Tumblr (veja aqui sua definição).

Confira a seguir trechos da entrevista concedida no Social Media Week (SMW), um evento sobre mídias sociais realizado em fevereiro em São Paulo. 

Durante palestra no SMW, Gina indicou alguns dos seus blogs favoritos no Tumblr. Confira: 

Fã de tecnologia

"Eu sempre gostei muito de coisas bem nerds. Fui uma das primeiras da turma a usar ICQ, jogava Zelda quando era pequena, sempre procurava me manter informada quanto às tecnologias novas. Nunca foi meu sonho trabalhar com isso, mas achava que era uma área com muito potencial e na qual eu podia ser boa.

Também me interesso pelas interações entre as pessoas e culturas. As mídias sociais têm muito desse lado. Todo mundo acha que ser estrategista de mídia social é simplesmente postar coisas no Facebook, passar o dia lá, mas é muito mais que isso. Você precisa entender o comportamento das pessoas, descobrir que tipo de coisas elas querem saber, como e com quem querem interagir."

Da filosofia para a neurociência 

“Fui para os Estados Unidos em 2004, com 18 anos, e me formei em filosofia na Universidade Brandeis, em Boston. Na faculdade, comecei a fazer aulas de neurociência sociocultural e uma professora me convidou para trabalhar no seu laboratório, onde passei um ano fazendo pesquisas nessa área. Eu era a única aluna que não era de biologia ou medicina. 

Queria entender o comportamento e o pensamento humano e as duas coisas foram bem complementares. Pude começar a pensar de uma maneira ampla e lógica, mas também encontrar respostas quase que moleculares para as questões.”

O primeiro contato com o Tumblr

"Tenho um Tumblr desde 2009. Descobri o serviço de uma maneira muito boba, quando eu era estagiária de mídia social numa agência nos Estados Unidos. Uma menina que trabalhava comigo me mostrou e disse 'olha que legal isso aqui!'. Como eu estava querendo muito que as pessoas gostassem de mim porque eu era estagiária e queria conseguir um visto de trabalho nos país, me empenhava em fazer tudo funcionar e em descobrir tudo o que era possível sobre mídia social na época.

Acabei fazendo um para mim, achei interessante e depois vi que tinha muito potencial para ser usado para as marcas de revista com as quais eu trabalhava. Então fui procurar o Mark Coatney, que hoje é o diretor de mídia do Tumblr e na época foi um dos pioneiros a usar o serviço para promover marcas jornalísticas, com a Newsweek."

Mochilão

"Eu voltei para o Brasil há dois meses porque queria fazer um mochilão ao redor do mundo. Ia para a Nova Zelândia, Austrália, Indonésia, Camboja, Laos, Tailândia, Coreia do Sul, Índia... Queria morar um tempo na China para conseguir fluência na língua. Estudei chinês por três anos na faculdade. Já tinha comprado parte das passagens, ainda bem que não comprei todas de uma vez. Já estava de mochila feita, havia tirado o visto, tomei sete vacinas. E então recebi o convite do Tumblr."

O convite

“Pouco antes da viagem, o Mark, com quem ainda mantinha contato profissional, me mandou um e-mail dizendo que viria para o Brasil com a equipe do Tumblr e me pedindo para apresentá-los a alguns contatos. Eu li a mensagem na praia, deitada na rede.  Não estava esperando. Eles mencionaram que estavam procurando alguém para o escritório no Brasil e eu falei ‘que legal, pena que eu já comprei minha passagem para viajar! Mas adoraria ajudar vocês a encontrar alguém.’ Eles me contrataram por uma semana para ajudá-los a entender o mercado brasileiro e cheguei a ajudá-los a entrevistar candidatos. Então, uma semana antes da minha viagem, eles começaram a insistir para eu ficar e eu dizia sempre que não podia. Mas aí a gente conversou bastante, eu curti muito a equipe e acredito muito no Tumblr. No fim, ficou muito difícil recusar o convite e desfiz minha mala.”

A fama repentina

“Não estava preparada para essa atenção toda que tenho recebido, é meio estranho. Mas sou muito grata pela maneira como fui recebida pela comunidade digital no Brasil, pelos usuários do Tumblr e pelas pessoas em geral. Porque eu sou brasileira, mas estou morando fora há um tempo, então é muito legal o interesse que as pessoas têm em falar comigo e entender o Tumblr. Mas é muito legal e o pessoal tem falado muito comigo por e-mail, mostrando seus Tumblrs, fazendo perguntas, comentando sobre como têm usado o serviço e é isso mesmo que eu quero saber.” 

Facebook x Tumblr

“Isso é opinião minha, não do Tumblr. Mas eu acho que, apesar de o Facebook ser muito bom para descobrir o que meus amigos estão fazendo, essa não é a plataforma perfeita para colocar todas aquelas imagens que as pessoas têm postado agora. Fica meio bagunçado, você se perde no meio daquilo tudo. Eu acho que o Tumblr é muito melhor para isso. As pessoas estão lá para descobrir conteúdo novo, ver coisas que não só seus amigos, mas também outras pessoas com interesses parecidos com os seus estão vendo. A oportunidade de descobrir coisas novas é maior e a maneira como ele é desenhado é muito simples e limpa. Mas não acho de forma alguma que o Tumblr substitua o Facebook ou vice-versa – são duas coisas complementares. O Facebook é uma coisa mais de amigos, o Tumblr é de interesses. No Tumblr, você pode se expressar sem se preocupar tanto com o que sua mãe vai achar – porque, se você não quiser, ela nem vai te achar.”