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Celular pode ajudar a achar vítimas de Brumadinho; bateria no fim é entrave

Helton Simões Gomes

Do UOL, em São Paulo

28/01/2019 18h00

O celular pode ser um aliado na busca por vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho (MG), que deixou dezenas de mortos e centenas de desaparecidos. Como tem de estar constantemente em comunicação com alguma antena, o aparelho emite sinais de radiofrequência que indicam a região onde pode haver alguém. Mas, há limitações.

A Justiça Federal de Minas Gerais obrigou, a pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), as operadoras de telefonia a compartilhar os sinais de celular captados na região. Mais de 72 horas após a tragédia, há incerteza sobre as informações. As empresas de telefonia afirmaram que enviaram os dados, mas a Defesa Civil, por sua vez, não soube informar se há aparato para que eles sejam usados.

Agentes israelenses trouxeram ao Brasil equipamentos capazes de ler ondas de radiofrequência, mas o alcance deles é limitado a quatro metros de profundidade. Ante tudo isso, há uma questão que não pode ser contornada: a bateria dos aparelhos deve estar acabando.

A decisão judicial foi emitida no sábado (26), um dia depois da tragédia ter ocorrido. Um dos responsáveis pelo pedido, Marcus Castro, da AGU, afirmou que os dados só poderiam ser liberados mediante autorização judicial, porque o sigilo das comunicações é protegido pela Constituição. Em uma situação como esta, no entanto, ele considerou que a busca por sobreviventes deveria ser prioridade.

Com essa informação, as equipes de socorro podem saber quais aparelhos se mantiveram ativos após a tragédia, e quais estão inativos desde então

Foram intimadas a cumprir a decisão as operadoras Algar Telecom, Claro, Nextel, Oi, Sercomtel, Tim e Vivo. Nesta segunda-feira (28), o SindiTelebrasil, sindicado das empresas de telecomunicações, informou que as companhias "apresentarão a relação dos assinantes e números de telefone conectados às Estações Rádio Base (ERBs) nas imediações da Mina de Córrego de Feijão, solicitados pela União". Não informou, no entanto, quando elas fariam isso.

Elas deveriam enviar os sinais de celular captados na região entre quinta-feira (24) e sexta-feira (25).

Carlos Nazareth, diretor do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), explica que o sinal dos celulares das vítimas do soterramento pode ser usado para localizá-las.

As operadoras conseguem informar com qual ERB o celular está se comunicando. Não conseguem determinar a região específica, mas podem dizer a região em que esse telefone está presente.

O professor afirma que, como uma ERB pode ser composta por diversas antenas, é possível ainda detalhar qual delas atendia uma determinada linha de celular. Isso ajudaria a restringir ainda mais a provável área em que aquele aparelho poderia estar, já que cada antena atende um setor dentro do raio de atuação da ERB, que chega a dezenas de quilômetros.

Eles dão um raio aproximado: 'Olha, ele está sendo atendido por essas ERBs aqui e a área de cobertura é essa aqui'. Com isso, a Defesa Civil e os bombeiros conseguem ver que tais usuários estão dentro da região coberta pela ERB.

Além disso, o aparelho celular e a ERB mantém uma comunicação constante, chamada de canal de serviço. Essa conexão é feita por meio de um sinal de radiofrequência, ou seja, ondas enviadas do aparelho para a antena. Elas não fornecem a localização do aparelho, mas informam à antena que há um dispositivo ligado a ela.

Você não está fazendo uma ligação telefônica, mas o seu telefone está constantemente em conexão com a rádio-base dizendo que ele está dentro da área de cobertura daquela ERB.

Ajuda de Israel

Nesta segunda, começaram a trabalhar também equipes de resgate israelenses, especializadas em atuar em áreas de desastre. Dentre os vários equipamentos que trouxeram, está um capaz de identificar sinais de celulares emitidos a até quatro metros de profundidade.

Se você está vendo a ERB, não há nada entre vocês, só o ar. A perda de sinal nesses casos é pequena. Mas, se você estiver submerso, a onda eletromagnética não consegue se propagar, porque o meio é muito denso e a atenuação da onda é muito grande

Carlos Nazareth

Outro problema, além da profundidade, é que esses sinais são emitidos só enquanto os dispositivos estiverem ligados. Aqui a corrida é contra o tempo, já que o acidente ocorreu na sexta-feira à tarde. Aparelhos de celular, quando usados intensamente, dificilmente funcionam por tanto tempo sem uma nova recarga. Mas há exceções.

Os aparelhos móveis com maior autonomia são aqueles com baterias de 5.000 mAh. Testes realizados pelo UOL Tecnologia mostraram que eles podem aguentar até dois dias de uso moderado. Outros modelos, ainda que não estejam equipados com baterias tão potentes, podem chegar a cinco dias de autonomia, porque seus recursos drenam menos energia. Sem tanto uso, porém, os aparelhos podem ficar ligados por mais tempo do que isso, só que essa sobrevida é incerta.

Antenas reforçadas

As operadoras de telefonia celular informaram também que passaram a permitir que quaisquer celulares se conectem às antenas da região. Geralmente, os aparelhos se ligam às antenas da operadora responsável pela linha de celular ou às estações de companhias parceiras.

As prestadoras estão mobilizadas desde o ocorrido em Brumadinho, atuando com suas equipes e em conjunto, para garantir a continuidade dos serviços.

Para reforçar a cobertura, as empresas informam ainda que enviaram novas antenas à região e acionaram geradores movidos a combustível para garantir que as estações funcionem em regiões onde a energia elétrica foi cortada.