Otimista, Gates espera crise do coronavírus controlada até o fim de 2022
Sem tempo, irmão
- Em entrevista, cofundador da Microsoft mostrou empolgação com inovações médicas
- Sem elas, Gates estima que pandemia se alastrasse por cinco anos
- O bilionário também analisou os processos de desenvolvimento de vacinas e disse que remédios usaria se contraísse covid-19
Bill Gates está otimista com relação aos avanços científicos e inovações alcançados na corrida para tratar do novo coronavírus. O cofundador da Microsoft previu que uma pandemia estava para chegar. Agora, dá sua perspectiva para o final da crise sanitária no mundo: o fim de 2022.
Em entrevista à revista Wired, publicada na sexta-feira (7), Gates estimou que países ricos estarão livres da doença até o fim de 2021. O resto do mundo, acredita o segundo homem mais rico do mundo, provavelmente terá que esperar mais um ano para isso.
"Você tem que admitir que há trilhões de dólares de danos econômicos e muitas dívidas, mas o processo de inovação para aumentar a escala de diagnóstico, em terapêuticos, em vacinas é realmente impressionante", declarou Gates, que faz sua previsão na sequência. Para ele, esperar o fim da crise até o final de 2022 só é possível devido à escala da inovação.
Apesar deste sinal positivo, Gates está preocupado que se perderão muitos anos nos tratamentos à malária, poliomielite e HIV, além do endividamento e instabilidade em países de tamanhos diversos. Para o executivo, "levará anos para voltar a onde você estava no início de 2020", pois a crise causará danos negativos em uma magnitude semelhante a Primeira e Segunda Guerra mundiais — embora menores.
Se você achou o otimismo de Gates meio pessimista, ele explica: sem o ritmo de inovação atual, a pandemia se arrastaria por cinco anos, até que a população do mundo estivesse imune à doença.
Vacinas, remédios e bastidores com Trump
O cofundador da Microsoft analisou as vacinas que estão sob desenvolvimento em dois blocos: as de RNA (de Moderna, Pfizer/BioNTech e CureVac), que são mais difíceis de escalar a produção, e as escaláveis e de baixo custo (de AstraZeneca ou Johnson & Johnson). O primeiro bloco servirá para atender aos países ricos, enquanto o segundo ajudará no resto do mundo.
Gates avaliou que as primeiras fases de testes indicam que a covid-19 é uma doença cuja prevenção é possível a partir de vacinas, mas questões como a duração da proteção e eficácia para pessoas mais velhas ainda estão no ar. Outra dúvida é se há efeitos colaterais das vacinas, o que as terceiras fases de testes, que estão em andamento, devem indicar.
A pressa em tornar uma vacina disponível é um fator preocupante, na opinião do executivo. Gates destacou processos acelerados tocados na China e Rússia,enquanto considerou o profissionalismo da FDA (Food and Drug Administration), agência do governo americano que supervisiona segurança de, entre outros produtos, vacinas e remédios.
"Pode haver pressão, mas as pessoas estão dizendo não, garantindo que isso não é permitido. A ironia é que esse é um presidente [Donald Trump] que é cético sobre vacinas", comentou.
Ele lembrou conversas com Trump, nas quais o presidente mencionou um "cara maluco" que "odeias vacinas e espalha loucuras". Trump se referia ao criador do boato de que Gates estaria usando vacinas para implantar chips em pessoas. Recordando conversas com membros da administração Trump, Gates mostrou frustração que seus comentários eram ignorados, apesar de sua presença ter sido requisitada.
Ainda sobre o coronavírus, o bilionário revelou quais seriam as medicações que ele pediria caso contraísse a doença. O primeiro citado foi o antiviral Remdesivir, primeira droga aprovada por autoridades americanas para tratamento da covid-19 — e cujo estoque dos próximos meses foi comprado pelos Estados Unidos. Apesar de escolhê-la, Gates colocou um porém: "infelizmente os testes nos EUA foram tão caóticos que o efeito provado é meio pequeno".
Outra droga foi citada: o corticoide dexametasona, útil para casos avançados da doença.
Desinformação, TikTok e processos antitruste
Como exemplifica o caso (mentiroso) dos "chips implantados por vacina", Gates está no meio de boatos impulsionados em massa pelas redes sociais, particularmente os movimentos antivacina e negacionistas de mudanças climáticas. Ao criticar as redes sociais, o cofundador da Microsoft se concentrou em uma particularidade: mensagens criptografadas como as do WhatsApp.
"A ironia é que são as redes sociais digitais que permitem essas excitantes e supersimplificadas explicações de que 'existe uma pessoa do mau e isso explica tudo'. Quando você tem criptografia, não existe uma forma de saber o que é isso. Eu acredito pessoalmente que o governo não deveria permitir esses tipos de mentiras, fraudes ou pornografia [escondidos pela criptografia]", argumentou.
Os vetores de disseminação dos boatos são plataformas como Facebook, Google, Instagram, Twitter, WhatsApp e YouTube — nenhuma de propriedade da Microsoft. No entanto, a gigante da tecnologia cofundada por Gates parece estar prestes a comprar a operação americana do TikTok, que tem se apresentado como um novo meio para que a desinformação se espalhe.
Gates, atualmente conselheiro de tecnologia da Microsoft, não se mostrou muito empolgado com a possibilidade da aquisição, a qual chamou de "cálice envenenado". Ele ainda chamou de "bem bizarra" a tentativa de Trump "matar o único competidor" ao forçar que a chinesa ByteDance venda o TikTok a uma empresa americana.
Experiente nas discussões sobre práticas anticompetitivas e processos antitruste, Gates também lembrou quando depôs sozinho ao Congresso americano e comparou a experiência pessoal com o que os executivos-chefe de Amazon, Apple, Facebook e Google tiveram que passar no final de julho.
"Eu tive um comitê inteiro me atacando e eles tiveram quatro de uma vez. Quero dizer, Jesus Cristo, o que o Congresso está tentando fazer? Se você quer dar trabalho a um cara, dê a ele um dia inteiro em que ele tem que sentar na cadeira sozinho! E eles nem tiveram que pegar um avião!", comentou, em alusão ao depoimento coletivo e por videoconferência.
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