Futuro chegou? Usei carro elétrico aqui e nem tive drama para fazer recarga
A eletrificação dos automóveis parece um caminho sem volta e, aos poucos, há uma oferta crescente de carros movidos a eletricidade, como nos Estados Unidos e em nações da Europa. A infraestrutura própria para tal mercado é um fator que joga esses lugares lá na frente. Afinal, fornecer sistemas de recargas das baterias dos veículos é mais do que fundamental para que isso dê certo.
E era justamente esse o meu temor quando soube que ficaria uma semana testando um Volvo XC40 Pure Electric por São Paulo: o medo de não ter onde "abastecer" o carro e vê-lo parado por falta de energia, uma vez que onde moro não é possível instalar um ponto de recarga.
A resposta que ouvi foi um "fique tranquilo, há muitos lugares para recarga em São Paulo". E depois da experiência posso dizer: não tive problemas.
Um carro (quase) comum
Olhando o SUV compacto de fora, o ponto que mais o difere de um carro tradicional está na frente: ao contrário dos modelos movidos por motores a combustão, a grade do XC40 Pure Electric é fechada. A explicação para isso é que os motores elétricos (sim, motores, como já falaremos adiante) não necessitam de ar para o funcionamento em si e para a refrigeração.
Outro motivo é que o carro testado utiliza dois motores e nenhum deles fica na posição convencional, mas sim instalados nos eixos dianteiro e traseiro do carro.
No Volvo, o espaço debaixo do capô é destinado a um porta-volumes, ou um "miniporta-malas", como preferir. Já as baterias, de 78 kWh, ficam instaladas no assoalho do carro, entre os eixos.
Ao entrar no carro, levei o meu primeiro choque (com o perdão do trocadilho): em tese, ele está ligado o tempo todo. Não há chave para girar, nem botão de partida.
Como os motores, por razões óbvias, estão sempre conectados à bateria, tudo que se precisa fazer é selecionar a marcha à frente —os carros elétricos não têm um câmbio convencional, apenas um seletor que permite escolher se o carro se moverá para frente ou para trás— e acelerar para que o carro se mova.
O segundo choque veio em seguida: o silêncio quase absoluto dentro do carro. Não há ronco do motor, apenas um leve zunido e o som dos pneus percorrendo o asfalto.
Fora isso, o primeiro contato com o carro não causou outras surpresas: confesso que esperava um interior mais "nave espacial". Há de se destacar o painel, totalmente digital e minimalista, quase todo tomado pelo mapa da região e possíveis rotas do navegador, e a central multimídia que funciona de maneira independente do seu smartphone.
Basta fazer login em uma conta do Google —o carro roda sistema operacional Android e se conecta por conta à internet—, baixar os aplicativos que desejar e pronto.
A sensação de normalidade, porém, sofreu um duro golpe quando eu me deparei com uma avenida mais vazia e pensei: por que não apertar o acelerador até o fim?
Como um raio
O XC40 Pure Electric trabalha com dois motores elétricos síncronos com ímã permanente. Cada um deles tem potência de 150 kW (ou 203 cavalos) e um torque 33,6 kgfm. Mas o que essa sopa de números e letras significa?
Somando tudo, temos 408 cv de potência e 67,3 kgfm de torque, números superiores a de carros esportivos como as versões mais mansas do Porsche 911 o que, por si só, impressiona. Afinal, falamos de um SUV compacto com números superiores aos de um esportivo.
E a tal acelerada que eu dei rendeu um belo susto: o carro simplesmente dispara, o corpo cola no banco e seu cérebro, acostumado a processar a situação acompanhada de um ronco do motor, entra em parafuso.
Essa aceleração brutal tem uma explicação: toda a força dos motores elétricos estão disponíveis instantaneamente. Isso faz com que o XC40 Pure Electric chegue aos 100 km/h em 4,9 segundos, uma marca invejável.
Outra surpresa se dá na hora que tiramos o pé do acelerador. Ao contrário de carros comuns, fazer isso nesse Volvo significa praticamente brecar.
Explico: o carro tem um sistema que transforma a energia cinética do movimento do carro em eletricidade. Assim, quando você tira o pé do acelerador, tanto os motores elétricos quanto o inversor fazem essa conversão e realimentam a bateria do modelo e isso causa uma força de desaceleração que lembra a de uma pisada normal no freio.
Hora da verdade: a bateria
Enquanto trazia o carro para casa, num percurso de pouco mais de 15 km com trânsito intenso, não parava de pensar sobre onde faria a recarga do modelo.
Se por um lado a autonomia de mais de 400 km da bateria do carro passava uma certa confiança, por outro parecia inevitável que em algum momento ele teria que ser recarregado.
Chegando em casa, a primeira coisa que fiz foi ver qual era o posto elétrico mais próximo. Isso pode ser feito tanto por aplicativos como o Google Maps —inclusive, a própria interface do carro indica os postos mais próximos— quanto por aplicativos dedicados como o Plugshare ou o Chargemap, disponíveis para smartphones.
E, felizmente, os temores começaram a se dissipar: ao menos no centro expandido de São Paulo, a oferta de pontos de recarga é boa. Além de concessionárias de carros —como as da própria Volvo e também de outras marcas—, supermercados e shoppings têm vagas para carros elétricos e permitem que eles fiquem sendo recarregados enquanto estão parados.
A situação ficou ainda melhor quando descobri que poderia fazer isso "do lado" de casa: em um centro automotivo da seguradora Porto Seguro que fica a menos de 800 metros da minha residência.
A recarga da bateria do carro
Dias depois de andar com o modelo (e fazer a bateria chegar a menos de 20%), tudo que precisei foi levar o carro até lá, parar na área destinada à recarga, plugar o conector e deixar o carro no local durante uma tarde. Sem qualquer custo.
Na hora de pegar de volta, umas cinco horas depois, a bateria marcava pouco mais de 80% — quanto mais a carga se aproxima da capacidade máxima da bateria, mais ela demora para ser carregada.
Limitações
Dirigir um carro elétrico e ter contato com todas as partes positivas da experiência tende a fazer com que pensemos que esses veículos podem ser a solução para mais problemas do que eles, de fato, são capazes de solucionar. Na realidade, porém, eles ainda enfrentam limitações.
Em um carro convencional, você leva coisa de cinco minutos para encher completamente o tanque e a capilaridade dos postos de combustíveis é enorme.
Qualquer viagem mais longa com um carro elétrico demanda um nível de planejamento maior e, caso haja a necessidade de recarga no meio do caminho, você ainda terá que procurar bem algum ponto para isso e também esperar muito mais tempo para poder sair com o carro.
E nem todo mundo terá a possibilidade de fazer como fiz na minha experiência: ter um ponto de recarga próximo de casa e disponibilidade para deixar o carro lá no meio do dia por várias horas.
Apesar disso, falamos de um segmento que traz novidades em progressão geométrica. Há cinco ou seis anos, a autonomia de um modelo do tipo era de pouco mais de 100 km e, por aqui, a rede de pontos de recarga era infinitamente menor. A tendência é que esses aspectos continuem a melhorar no futuro.
A limitação relacionada a viagens mais longas com o carro elétrico também tende diminuir. Prova disso é que na última quarta-feira (15), a própria Volvo anunciou um plano de criação de "corredores elétricos" em estradas brasileiras.
A meta é instalar pontos de recarga com carregadores rápidos nas principais rodovias do país que ligam capitais e destinos importantes. A instalação será feita em em locais de parada e conveniência. É um plano com cinco fases e a primeira delas será concluída no início de 2022.
Esses carregadores rápidos gratuitos têm potência de 150 kW e são capazes de recarregar um veículo como o testado em menos de 40 minutos.
Além disso, a marca anunciou que, só venderá no Brasil o XC40 em sua versão elétrica. É um passo ousado, considerando que esse é o carro mais vendido da marca no Brasil.
Passada a semana de teste, posso dizer sem dúvidas que essa foi uma das experiências mais interessantes que já tive envolvendo carros. Ter contato com "o futuro" é algo que empolga. E meus temores eram, acima de tudo, infundados.
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