Cientistas detectam ecos diretos do Big Bang
Cientistas americanos revelaram nesta segunda-feira (17) a detecção pela primeira vez de ecos do Big Bang, ocorrido há 14 bilhões de anos, uma importante descoberta para entender as origens do universo.
A detecção da existência destas ondulações de espaço-tempo, primeiro eco do Big Bang, previstas na teoria da relatividade de Albert Einstein, confirma a expansão extremamente rápida e violenta do universo na primeira fração de segundo de sua existência, uma fase conhecida como inflação cósmica.
Esta teoria foi levantada pela primeira vez em 1979 pelo físico americano Alan Guth.
Verdadeiro avanço científico, é fruto de observações da radiação cósmica de fundo - uma baixa radiação remanescente do Big Bang - realizadas graças a um telescópio BICEP2 no polo Sul.
"É o local na Terra mais próximo do espaço, onde o céu é mais seco, mais claro e mais estável", explicam os autores do estudo. "É o ambiente ideal para observar as microondas difusas provenientes do Big Bang".
"A detecção destas ondulações é um dos objetivos mais importantes da cosmologia na atualidade e resultado de um enorme trabalho realizado por uma grande quantidade de cientistas", destacou John Kovac, professor de Astronomia e de Física no CfA e chefe da equipe de investigação BICEP2 (Background Imaging of Cosmic Extragalactic Polarization), que fez a descoberta.
"Era como encontrar uma agulha em um palheiro, mas em seu lugar encontramos uma barra de metal", disse o físico Clem Pryke, da Universidade de Minnesota, chefe adjunto da equipe.
Para o físico teórico Avi Loeb, da Universidade de Harvard, o avanço "representa um novo esclarecimento sobre algumas das questões mais fundamentais para saber por quê existimos e como o universo começou".
"Esses resultados não são apenas a prova irrefutável da inflação cósmica, mas nos informam sobre o momento exato desta expansão rápida do universo e da potência deste fenômeno", explicou.
Os dados recolhidos "confirmam também a relação profunda entre a mecânica quântica e a teoria da relatividade geral", ressaltaram esses astrofísicos. A física quântica descreve esses fenômenos em escala atômica que a relatividade geral não pode explicar.
"Notável e entusiasmante"
Ao se movimentarem, as ondas gravitacionais comprimem o espaço o que produz uma assinatura muito distinta na radiação cósmica de fundo. Como as ondas luminosas, elas são polarizadas, uma propriedade que descreve a orientação de suas oscilações.
"Nossa equipe procurou um tipo particular de polarização... própria da luz antiga", na pista de ondas gravitacionais cósmicas, indicou Jamie Bock, do California Institute of Technology da Califórnia, um dos co-autores desses trabalhos.
"Esta característica de uma polarização 'em vórtice' é a assinatura única das ondas gravitacionais... e é a primeira imagem direta dessas ondas através do céu primordial", ressalta Chao-Lin Kuo, um físico de Stanford, membro da equipe de pesquisadores.
Para Tom LeCompte, um físico especialista em altas energias no Cern e no Laboratório Nacional de Argone, perto de Chicago, que não participou dos trabalhos, essa descoberta "é o maior anúncio na física em anos".
"Ela poderia potencialmente valer o prêmio Nobel" a seus autores, declarou à AFP comparando esta descoberta ao do Boson de Higgs em 2012, a pedra angular da teoria do Modelo padrão, a partícula elementar que dá sua massa a inúmeras outras partículas.
Esta detecção direta de ondas gravitacionais é "notável e entusiasmante" na medida em que permite ver o que aconteceu "no primeiro instante após o Big Bang", considera.
"Isso vai além do que estamos tentando fazer com o Large Hadron Collider (o acelerador de partículas na Suíça) para ver como se comportava o universo em sua infância (...) Isto vai permitir olhar ainda mais para trás no tempo".