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Mancha Vermelha em Júpiter é fonte intensa de calor, diz estudo

Em São Paulo

27/07/2016 21h36

Conhecida por ser a maior tempestade de todo o Sistema Solar, a Grande Mancha Vermelha na superfície de Júpiter é também uma imensa fonte de energia. A temperatura na atmosfera acima dela é centenas de graus mais alta que em qualquer outro lugar do planeta, segundo um novo estudo publicado nesta quarta-feira, 27, na revista Nature.

Utilizando telescópios localizados na Terra, os cientistas observaram emissões infravermelhas de Júpiter e descobriram que a temperatura na parte superior da atmosfera, acima da Grande Mancha Vermelha, é de aproximadamente de 1300°C - centenas de graus mais quente que em qualquer outro lugar do planeta.

Os cientistas, liderados por James O’Donoghue, da Universidade de Boston, afirmam que a tempestade gigante na Grande Mancha Vermelha pode ser a fonte de energia dessa parte excepcionalmente quente da atmosfera joviana.

No artigo, os autores concluíram que a Grande Mancha Vermelha produz dois tipos de ondas turbulentas de energia - ondas gravitacionais e ondas acústicas -, que colidem e aquecem a parte superior da atmosfera.

Segundo os autores do estudo, a descoberta é a última peça de um quebra-cabeças que tem deixado os cientistas perplexos desde 1973, quando a nave Pioneer 10, da Nasa, sobrevoou Júpiter e fez as primeiras medições de temperatura de sua superfície. Na época, eles concluíram que sua atmosfera é muito mais quente do que o esperado caso o Sol fosse sua única fonte de calor.

Como Júpiter está cinco vezes mais longe do Sol que a Terra, de acordo com os cálculos dos cientistas, esperava-se que a energia solar que chega ao planeta deixasse a temperatura da parte superior de sua atmosfera em torno de 73°C negativos. Mas a temperatura medida, na época, foi de cerca de 570°C.

Com o aquecimento solar descartado, nós desenhamos um estudo para mapear a distribuição de calor sobre todo o planeta, para buscar anomalias nas temperaturas que poderiam ajudar a explicar de onde vem essa energia."

James O'Donoghue.

Os astrônomos mediram a temperatura do planeta observando suas emissões invisíveis de radiação infravermelha. O topo das nuvens que podem ser observadas sobre Júpiter estão a cerca de 50 quilômetros de sua superfície. As emissões infravermelhas medidas vinham de uma região 800 quilômetros acima.

"Vimos quase imediatamente que as temperaturas máximas em grandes altitudes estavam justamente sobre a Grande Mancha Vermelha, que gira lá embaixo. Seria uma coincidência, ou uma pista importante?", disse O'Donoghue.

Crise

Resolver o mistério da "crise de energia" em Júpiter tem implicações para todo o Sistema Solar e também para planetas de outros sistemas, segundo os cientistas. Eles afirmam que as temperaturas mais altas do que as esperadas apenas com a radiação solar não ocorrem apenas em Júpiter, mas também em Saturno, Urano, Netuno e provavelmente em todos os planetas gigantes da galáxia.

"A transferência de energia de baixo para o alto da atmosfera já foi simulada em modelos planetários, mas não havia sido sustentada por observações. As temperaturas extremamente altas observadas sobre a tempestade parecem ser a evidência concreta dessa transferência de energia, indicando que o planeta todo pode produzir calor e fornecendo uma explicação plausível para a 'crise de energia'", disse O'Donoghue.

A Grande Mancha Vermelha foi descoberta no século 17, depois que Galileu Galilei introduziu na astronomia o uso do telescópio. Com seu padrão de gases coloridos que giram, ela é frequentemente chamada de "furacão perpétuo".

A tempestade tem variado em tamanho e cores ao longo dos séculos. Com tamanho três vezes maior que o diâmetro da Terra, a Grande Mancha Vermelha tem ventos que levam seis dias para completar uma volta. O próprio planeta Júpiter, com massa 300 vezes maior que a da Terra, também gira incrivelmente rápido, completando uma volta a cada dez horas.