Paraplégico chuta bola com exoesqueleto de Nicolelis, mas quase ninguém viu
O brasileiro paraplégico Juliano Pinto, de 29 anos, chutou a Brazuca na abertura da Copa do Mundo de 2014, em São Paulo, nesta quinta-feira (12). Mas quase ninguém viu. A transmissão ao vivo estava na festa e, de repente, mostrou o chute, com a bola já em movimento, e o homem em pé com braço erguido. Um segundo, e a câmera voltou para a festa.
O momento esperado da ciência demonstra o exoesqueleto - uma estrutura metálica que dá sustentação ao corpo e reage a comandos do cérebro, como andar e chutar - criado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis. O estudo iniciado em 2001 tem sua primeira exibição pública.
Ainda serão publicados os estudos científicos que embasam e explicam a tecnologia usada para fazer com que uma pessoa que não consegue movimentar os membros por uma ruptura na medula possa, com impulsos do cérebro, comandar uma estrutura robótica.
Na internet, muitas pessoas reclamaram da pouca exibição, que não mostrou o paciente levantar da cadeira de rodas, andar e chutar a bola, como havia sido intensamente prometido. A TV Globo tentou, depois, se redimir ao reprisar e narrar o chute, mas como não havia mais imagens gravadas, não conseguiu mostrar o paciente andando e chutando a bola. No pouco mais de 1 segundo, só é possível ver um pequeno movimento e a bola já em movimento.
Nicolelis não comentou as críticas à má exibição de sua pesquisa e apenas comemorou na rede social: "Nós conseguimos", disse em inglês. Em entrevista ao Jornal Nacional, o pesquisador afirmou que a Fifa disponibilizou apenas 15 segundos para seus anos de pesquisa e que a TV não registrou.
Em comunicado, ele disse: "Foi um grande trabalho de equipe e destaco, especialmente, os oito pacientes, que se dedicaram intensamente para este dia. Coube a Juliano usar o exoesqueleto, mas o chute foi de todos. Foi um grande gol dessas pessoas e da nossa ciência".
O presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia), Glauco Arbix, disse estar satisfeito com a demonstração: "A Finep se orgulha de ter investido R$ 33 milhões no projeto Andar de Novo, que vem sendo desenvolvido há cerca de dez anos. Foi um verdadeiro gol da ciência brasileira, que mostrou para o mundo do que é capaz. Acompanhamos os testes do exoesqueleto e sempre tivemos a melhor expectativa possível, e isso foi confirmado hoje".
Paraplégico chuta a Brazuca com exoesqueleto de Nicolelis
Segundo o pesquisador, os testes foram concluídos com sucesso no último dia 28 de maio: "o exoesqueleto, sobre comando da atividade cerebral de um operador, realizou movimentos naturais e fluidos que produziram, em todos os pacientes, a sensação de que eles estavam caminhando com as próprias pernas".
Oito pacientes da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) testaram o exoesqueleto desde janeiro de 2014. Juliano, o escolhido, é atleta de Gália (SP) e teve a lesão causada por acidente de carro em 2006. Também participaram dos testes: Bruno Rodrigues, 26 anos, atleta de Salto (SP), com lesão por acidente de moto em 2008; Carlos Eduardo de Oliveira, 32 anos, de Santo André (SP), com lesão por arma de fogo em 2009; Éric Vlatkovic, de 36 anos, de São Paulo (SP), com lesão por queda de altura em 2011; Patrícia Lopes Pimentel, de 29 anos, autônoma e estudante de São Paulo (SP), com lesão por atropelamento em 2003; Raimundo Reis de Macedo, de 38 anos de São Paulo (SP), com lesão por acidente de moto em 2009; Sheila Batista, de 31 anos, autônoma de São Paulo (SP), com lesão por queda de altura em 2001; e Yves Carbinatti, de 27 anos, atleta de Rio Claro (SP), com lesão por acidente de carro em 2008.
O projeto
A interface cérebro-máquina é feita por meio de uma touca com eletrodos que captam os sinais elétricos do couro cabeludo, com a técnica do eletroencefalograma (EEG), de forma não invasiva. De acordo com Nicolelis, esse procedimento é suficiente para impulsionar, com o exoesqueleto, a realização de movimentos de membros inferiores. Os sinais cerebrais dos pacientes que usaram o exoesqueleto foram processados em tempo real, decodificados e utilizados para mover condutores hidráulicos.
O Projeto Andar de Novo é um consórcio formado por universidades e institutos de pesquisa do mundo todo, sob o comando científico do neurocientista brasileiro. O objetivo do projeto é desenvolver uma tecnologia de interface cérebro-máquina que permita a pessoas com mobilidade restringida – como paraplégicos – voltar a andar usando a mente para controlar um equipamento externo, que substituiria os membros inferiores.
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