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Testosterona foi responsável pela mudança facial dos homens das cavernas

Peter Schouten/Efe
Imagem: Peter Schouten/Efe

Do UOL, em São Paulo

25/08/2014 06h00

Os rostos dos seres humanos que habitam a Terra nos dias de hoje são bem diferentes daqueles ancestrais que viveram há milhares de anos, e isso poderia ser explicado pela diferença no nível de testosterona do Homo sapiens atual comparado ao do homem das cavernas.

Um estudo feito por um grupo de pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, sugere que a diminuição dos níveis do hormônio pode estar relacionada ao desenvolvimento das capacidades cooperativas dos seres humanos. Ou seja, na medida em que as relações sociais foram se tornando menos agressivas, o homem foi desenvolvendo ferramentas avançadas e aprendendo a trabalhar em conjunto, os níveis de testosterona foram decrescendo, fazendo com que ele perdesse as características faciais de um homem das cavernas.

O estudo, publicado na revista Current Anthropology, é primeiro a sugerir que o crescimento da tolerância social e o decréscimo dos níveis de testosterona resultaram na redução do tamanho facial da Idade da Pedra Média, há cerca de 50 mil anos.

Para comprovar a teoria, o pesquisador Robert Cieri e seus colegas pesquisadores mediram o cume da testa, o formato do rosto e volume interior de mais de 1.400 crânios modernos e antigos, alguns deles com mais de 80 mil anos, derivados de 30 diferentes etnias. Eles compararam dois grupos de crânios fósseis: 13 de 200 mil a 90 mil anos atrás, e 41 de 10 mil a 38 mil anos atrás.

Os cientistas encontraram uma tendência: ao longo do tempo, o tamanho do cume da testa começou a diminuir e as porções superiores do rosto começaram a se encurtar, algo que indica uma menor atuação de testosterona no corpo, segundo pesquisas realizadas anteriormente.

“A testosterona tem efeitos generalizados sobre morfologia, especialmente nos ossos da mão e região craniofacial, além de também ter efeitos sobre temperamento e comportamento. Estudos psicológicos do homem moderno associam altos níveis de testosterona a agressão, domínio, rebelião contra a autoridade. Altos índices de testosterona também podem reduzir certos tipos de cognição social, como empatia social”, diz Cieri.

Os pesquisadores basearam suas conclusões em estudos anteriores sobre testosterona e domesticação de animais, que incluem a análise das diferenças comportamentais entre bonobos e chimpanzés, à luz dos níveis do hormônio.

Robert Cieri, no entanto, afirma que o novo estudo possui limitações, como o fato de que não há muitos crânios humanos disponíveis para medição, além da impossibilidade de se medir os níveis hormonais de um homem que viveu há milhares de anos. “É fascinante que uma mudança simples e relativamente rápida nos níveis de testosterona possa ter sido responsável por tanta inovação comportamental”, afirma.

O estudo não convenceu a todos. O professor de antropologia da Universidade de Yale, Richard Bribiescas, afirmou que muitos outros fatores além da cooperação social poderiam ter atuado sobre a diminuição nos níveis de testosterona. “Está bem estabelecido que os níveis de testosterona do corpo são influenciados por uma vasta gama de fatores ambientais, como alimentação e atividades. Fazer associações sobre comportamento em seres humanos que viveram há milhões de anos é extremamente difícil”, acredita.