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Arqueólogos encontram peças de 18.500 anos no Chile

Ferramenta feita a partir de pedra encontrada no Chile com idade entre 15.000 e 16.000 anos - objeto foi utilizado para carpintaria - Tom Dillehay/Divulgação/Vanderbilt University
Ferramenta feita a partir de pedra encontrada no Chile com idade entre 15.000 e 16.000 anos - objeto foi utilizado para carpintaria Imagem: Tom Dillehay/Divulgação/Vanderbilt University

Do UOL, em São Paulo

30/11/2015 18h47

A arqueologia moderna pode ser sacudida outra vez por descobertas recentes no Chile. Novas escavações feitas no Monte Verde, famoso sítio arqueológico no sul do país sul-americano, indicam que humanos nômades habitaram ou ao menos passaram pela região há até 18.500 anos. A pesquisa contraria uma visão tradicional no mundo científico: de que as primeiras migrações para a América do Sul ocorreram não antes de 14.000 anos atrás. Tal pensamento tem sofrido questionamentos nos últimos 40 anos, entretanto.

Os novos desdobramentos de escavações na região foram divulgados por Tom Dillehay, da Universidade de Vanderbilt, na revista científica PLOS One, em 18 de novembro. Em parceria com colegas de diferentes países do mundo e áreas (geógrafos, botânicos e arqueólogos), Dillehay trabalha na região desde 1977. O anúncio de agora é mais um de outros já feitos oriundos de pesquisas no Monte Verde e que desafiaram o que os cientistas conhecem sobre os antigos fluxos de pessoas.

A razão que levou os cientistas a colocarem em dúvida a história da povoação sul-americana é o achado de objetos utilizados por humanos na região em um período de 4.000 anos que engloba pelo menos entre 18.500 e 14.500 anos atrás. As novas descobertas no Chile incluem 39 artefatos de pedras, nove deles com idade entre 18.500 e 17.000 anos. Há ainda quatro pedras retiradas de solo com 25.000 anos que precisam de mais evidências para serem contabilizadas. As idades dos objetos foram descobertas graças a medidas de carbono e análise do solo onde foram escavados.

Os achados sacodem ainda mais a famosa “cultura Clovis”, teoria que por muito tempo ficou em voga no âmbito da arqueologia. De acordo com ela, os primeiros povos teriam entrarado no continente americano durante caças pelo Estreito de Bering, uma ponte de gelo na América do Norte entre a Sibéria e o Alaska, há no máximo 13.500 anos, e depois se espalharam para outras regiões. Achados perto da cidade de Clovis, no Novo México, nos Estados Unidos, fizeram tal teoria surgir. As descobertas do Chile, paulatinamente, transformam o pensamento sobre as migrações.

A maioria das ferramentas encontradas recentemente no Chile servia para raspar e cortar outros objetos, de acordo com os pesquisadores. Algumas pedras redondas poderiam ter sido utilizadas como estilingues. Ainda foram encontrados, na região da escavação, restos de animais cozidos, além de evidências de plantas e fogueiras. Todas as ferramentas encontradas diferem das utilizadas pelos povos da “cultura Clovis”. Também de acordo com a pesquisa, 34% dos objetos achados não eram locais, o que indica uma população altamente móvel.

Anteriormente, a descoberta nos anos 70 de um fóssil datado de 13.000 anos em Minas Gerais, apelidado de “Luzia”, já mostrava a presença de humanos na América do Sul fora da chamada “cultura Clóvis”. As descobertas de Dillehay e sua equipe foram recebidas com certo ceticismo pela comunidade científica, mas os novos dados devem dar mais força à teoria de que o continente foi habitado antes do que se imaginava.

É possível que, a partir da informação divulgada pela equipe que trabalha no Monte Verde, outros fósseis mais antigos sejam encontrados. Os pesquisadores alertam que os arqueólogos devem ficar atentos a ferramentas simples e acampamentos pequenos, ao contrário dos já encontrados que descendem da “cultura Clovis”, que normalmente ocupavam grandes áreas e continham instrumentos mais desenvolvidos.