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Mesmo com atraso, movimento #MeToo ganha força na China

Mulheres usaram a hashtag #MeToo também em protesto em Paris contra abuso sexual  - Bertrand Guay/AFP
Mulheres usaram a hashtag #MeToo também em protesto em Paris contra abuso sexual Imagem: Bertrand Guay/AFP

Jesús Centeno

da EFE, em Pequim

17/08/2018 11h15

Apesar da censura de certas autoridades que temem iniciativas espontâneas, o movimento #MeToo ("Eu também", em inglês) decolou na China com uma várias denúncias de abusos sexuais que estão conseguindo espaço nas redes sociais do país.

Tudo começou em janeiro deste ano, quando a estudante Luo Xixi disse no Weibo, rede social chinesa parecida com o Twitter, que um professor da Universidade de Beihang tentou estuprá-la.

Desde então, muitas outras mulheres passaram a compartilhar histórias de agressão sexual em um país que até agora não estava tão habituado a este tipo de denúncia.

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"Isto é só o começo do #MeToo na China. A estrutura patriarcal está em todas as esferas, a cultura dos abusos sexuais é muito poderosa e não é fácil denunciar, porque na maioria das vezes os assediadores ameaçam as mulheres", disse à Agência Efe a advogada Li Ying, especializada em assuntos de gênero.

Conforme uma pesquisa realizada pela organização Vozes Feministas na popular rede social Wechat, cerca de 80% das vítimas não pediram ajuda depois de um assédio sexual porque tinham medo de represália ou sentiam vergonha.

No entanto, as denúncias não pararam de aparecer e passaram a surgir em empresas, ONG, meios de comunicação e inclusive em comunidades religiosas.

Um dos casos mais polêmicos foi o de uma mulher que acusou um famoso apresentador da Televisão Central da China de abuso na época em que ela era estagiária na emissora. Outro fato que viralizou foi a demissão de um gerente da IDG Capital após acusações de que ele havia assediado mulheres no trabalho.

Até um dos monges budistas mais conhecidos do país, o Mestre Xuecheng, presidente da associação que regula a religião na China, foi acusado na semana passada de abusar sexualmente de religiosas em um dos templos que dirige.

Apesar da força que ganhou, o movimento também se desenvolve na China sob outros nomes, já que os usuários das redes têm certeza de que o governo chinês enxerga a iniciativa como uma ameaça diante do medo de que as acusações cheguem aos seus funcionários.

Há alguns meses, os censores entraram em ação e proibiram a hashtag #MeToo no Weibo e apagaram alguns depoimentos, enquanto a plataforma Douban foi obrigada a fechar um link no qual pedia para os usuários denunciarem casos de abuso.

É por isso que ativistas começaram a utilizar hashtag alternativas, como #MiTu, cujos caráteres em chinês representam uma tigela de arroz e um coelho, pela semelhança com a pronúncia #MeToo em inglês.

O último caso a ser divulgado foi o de um gerente da Mobike, empresa líder do setor das bicicletas compartilhadas, denunciado por abusar sexualmente de três funcionárias e de "utilizar o seu poder para reprimir quem atuasse contra os seus desejos".

"Nem todo mundo tem coragem de levantar a voz depois de ser abusado. Se isso acontece em uma empresa desse tamanho, o que não acontece em outras menores?", comentou um usuário do Weibo em um post sobre o caso.

Em 2005, o termo "assédio sexual" passou a fazer parte de uma lei revisada sobre a proteção dos direitos da mulher no país. Mas para as vítimas, apresentar uma queixa é caro e complexo, e os processos raramente resultam em punição.

A hashtag #MeToo foi usada pela primeira vez pela ativista Tarana Burke há dez anos, mas foi a atriz Alyssa Milano que a popularizou em outubro do ano passado no Twitter, após a divulgação dos escândalos sexuais do produtor Harvey Weinstein.

A campanha encorajou muitas mulheres, e alguns homens, a abrirem as experiências traumáticas que tiveram e, em alguns casos notórios, apontar os envolvidos.