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Conheça Ilona Szabó, voz potente pela descriminalização do uso de drogas

Ilona, diretora-executiva do Instituto Igarapé - Ricardo Borges/Folhapress
Ilona, diretora-executiva do Instituto Igarapé
Imagem: Ricardo Borges/Folhapress

Natacha Cortêz

Do UOL, em São Paulo

24/10/2017 04h00

Foi por causa de uma reportagem sobre um livro do antropólogo inglês Luke Dowdney, que comparava crianças envolvidas com o tráfico a soldados em uma guerra, que Ilona Szabó mirou os olhos na segurança pública e nunca mais os desviou. Ali, disse para si: "É com isso que quero me envolver". Na época, usou o que leu no jornal como início de sua dissertação de mestrado na Suécia. O ano era 2003.

Ilona perseguiu o sonho. 14 anos depois, aos 39, é cofundadora e diretora-executiva do Instituto Igarapé. A organização com sede no Rio de Janeiro é referência internacional em pesquisa e soluções na área de segurança pública e política de drogas. Não é exagero dizer que Ilona representa hoje uma das vozes mais influentes pela descriminalização do uso de drogas e combate à violência. E não estamos falando apenas de Brasil, mas de todo o mundo.

Seu nome é conhecido e reconhecido onde quer que esses assuntos sejam o foco da discussão. Ao seu lado, estão importantes lideranças. Como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, iniciativa privada e organizações civis.

A caminhada de Ilona

  • Aos 26 anos: coordenou a campanha nacional de entrega voluntária de armas, fomentando parcerias com Congresso, igrejas, polícias federal e estadual e ONGs de todo o país.
  • Aos 30 anos: coordenou o secretariado da Comissão Latino-americana sobre Drogas e Democracia, liderada pelos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (Brasil), Cesar Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México).
  • Aos 33 anos: fundou, junto com o marido, o cientista político canadense Robert Muggah, o Instituto Igarapé; passou a coordenar a Comissão Global de Políticas sobre Drogas, liderada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e outros 8 ex-presidentes e lideranças globais como Kofi Annan e foi co-roteirista do documentário "Quebrando o Tabu".
  • Aos 37 anos: foi nomeada Jovem Líder Global pelo Fórum Econômico Mundial.
  • Aos 38 anos: lançou "Drogas: as histórias que não te contaram", com a jornalista Isabel Clemente e prefácio de Drauzio Varella. O livro mistura ficção e realidade para contar como o tráfico internacional de cocaína impacta a vida de todos.

Biografia rápida de Ilona

Batizada com o nome da avó húngara, Ilona nasceu em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. É filha de uma jornalista e um engenheiro, suas primeiras referências em "contestar". Aos 17, escolheu fazer intercâmbio na Letônia, onde viveu por um ano. "Queria passar um ano diferente." Em 1997, Ilona saiu de Nova Friburgo para o Rio de Janeiro, onde cursou a faculdade de Relações Internacionais e começou a trabalhar em um banco como estagiária de câmbio. Aos 24, foi para Suécia fazer mestrado em Estudos de Conflito e Paz. Ali, oficialmente começava sua caminhada por "um novo desenho de paz no Brasil". Além de autoridade no que se compromete a fazer, Ilona ainda é mãe. Em 2014 teve, e de parto natural, sua filha Yasmin Zoe.

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Quem ela impacta

Sua contribuição é, digamos, pulverizada: acontece quando Ilona reúne líderes improváveis em pró de uma causa (como foi o caso de Fernando Henrique Cardoso na legalização da maconha), quando tem seu TED sobre Guerra às drogas visto mais de um milhão de vezes; mas ainda quando, com a biografia impressionante que carrega e atuando em setores de costumeiras lideranças masculinas, é uma mulher. "Somos poucas nesses lugares. Eu mesma já fui muito descreditada por ser mulher e falar do que falo, meter onde me meto".

Mas tem mais. Ao longo dos últimos anos, Ilona falou incansavelmente na tentativa de formar uma nova opinião sobre temas tabu, da legalização da maconha ao sistema carcerário. O instituto dirigido por ela e o marido, desenvolveu pesquisas, lançou publicações, assinou artigos na imprensa nacional e internacional, organizou dezenas de eventos, fez articulações com políticos, criou quatro aplicativos para smartphones; um deles, ainda em fase piloto, é destinado a monitorar a ação da polícia.

O Brasil é campeão em homicídios. Uma pessoa é morta de forma violenta a cada 9 minutos. Não podemos nos enganar, guerra às drogas é uma guerra às pessoas.