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Deficientes ganham coleção de moda inclusiva: "Também queremos ter estilo"

Amanda Serra

Da Universa

08/06/2018 04h00

“Moda inclusiva nada mais é que uma moda com funcionalidade para todos”, explica a cadeirante Izabelle Marquez, a Belle, 25, à Universa. A administradora de empresas foi a responsável por levar o tema para a amiga e estilista Andressa Salome, 28, que lançou na última quarta-feira (6), a coleção “La Dolce Belle” – inspirada na trajetória de Belle.

Além de famosos como Preta Gil, Isabella Fiorentino, Di Ferrero, Arlindo Grund e Gianne Albertoni, cerca de dez pessoas da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) participaram do desfile que contou com 30 peças entre vestidos, macaquinhos, jaquetas e calças que podem chegar até R$ 1500 e são inclusivas. O valor das vendas realizadas até 15 de junho será revertido para a instituição. E até essa data, com desconto de 50%.

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Qual o diferencial?

A cantora Preta Gil e Belle no camarim - Divulgação - Divulgação
A cantora Preta Gil e Belle no camarim
Imagem: Divulgação

A linha de roupas da estilista quer contemplar também mulheres e homens que possuam alguma deficiência nos membros. Isso, no entanto, não significa desenvolver uma peça diferente, mas trajes com zíperes e botões. “É a mesma peça, mas com detalhes que facilitam a vida de um deficiente na hora de se vestir. Isso é inclusivo”, afirma Belle.

Tetraplégica, ela habituou-se desde criança ajustar as roupas que gostava para ficar mais confortáveis e atender suas necessidades. “Não mexo e não sinto da cintura para baixo. Vejo como funcionalidade uma calça jeans ter zíper ao lado ou botões no tornozelo para facilitar. Ou a área do joelho com um elástico que dê mobilidade”, diz. E foi num curso de moda inclusiva do Governo do Estado de São Paulo no Centro de Tecnologia e Inovação onde percebeu que não precisava ter sido sempre assim e acionou a amiga estilista.

Após o lançamento da primeira coleção (“La  Dolce Vita”), a estilista ficou curiosa para saber por que a amiga tinha encomendado três modelos do mesmo vestido em diferentes cores.

Nunca pensaram no segmento de moda para pessoa com deficiência. Temos muitas iniciativas na área da saúde, no mercado de trabalho, mas como a moda é vista por alguns como algo supérfluo, acaba em segundo plano. As pessoas esquecem que deficientes, antes de terem essa característica física, são humanos. Queremos ter um hobby, um estilo, assim como todos”, afirma Belle. “A Andressa criou peças inclusivas sem necessariamente pensar nisso. Ela não adaptou a roupa para um deficiente, mas fez uma roupa com detalhes funcionais que servem para todos. Essa é a verdadeira inclusão.”.

"O que existe para deficientes físicos é vestuário e não moda"

"Fui perguntar se queria que eu criasse outro modelo. Ela explicou que o vestido (que hoje leva o nome dela) era inclusivo, até então não tinha conhecimento disso. Aí percebi que vivia o mundo de Belle, mas não participava dele. Nunca tínhamos saído para comprar roupas juntas. Um choque para mim", revela Andressa, que foi se inteirar do assunto e teve ajuda de  professores de moda inclusiva da própria amiga.

"Descobri que o que existe para deficientes físicos é vestuário e não moda. A pessoa com deficiência entra em uma loja de sapato ortopédico e não em uma Louboutin (Christian), por exemplo. Minha ideia é manter pelo menos dois looks inclusivos em todas minhas coleções”, planeja a estilista. No mercado há um ano e meio, além de recursos de investimento, não lhe faltam ideias para incluir pompons e aplicações de cristais em moletons trabalhados como se fossem de alta-costura. 

Chega de roupas de crianças!

A jornalista Larissa Mariano, 22, uma das modelos convidadas para desfilar (ela cuida das redes sociais de Isabella Fiorentino), acha que deficientes físicos querem ser inseridos em um mercado do qual também são consumidores.

Queremos vestir algo que realmente temos vontade de usar, que seja confortável e bonito. Não queremos só uma adaptação, mas algo que seja fashion. Mais do que moda, estamos falando de equidade.

Com uma deficiência nas pernas que a impede de andar sem muletas, Larissa diz que um simples botão e um zíper podem complicar ou descomplicar sua vida.

“A gente tem tanto que se adaptar ao mundo que não percebe o quanto um simples fechamento que podemos fazer já ajuda. Dá autonomia para quem está vestindo e isso tem um significado claro: buscar independência com o fashion”, ressalta a social media, que usou um vestido de moletom customizado com lantejoulas e botões nos ombros, além de um par de sapatos específicos para sua dificuldade, mas estilizado. Todas criações de Andressa.