Mulheres religiosas fazem vigília no STF pela descriminalização do aborto
Mais de cem mulheres se reuniram em frente ao STF (Supremo Tribunal Federal) na madrugada de segunda-feira (6). Entre elas, diversas representantes de grupos religiosos discursarem a favor da descriminalização do aborto. Nesta segunda, acontece a segunda parte da audiência pública da ADPF 442, em que discursarão representantes de entidades religiosas.
A advogada cristã Anjuli Tostes, de 32 anos, discursou sob a luz de velas e defendeu que o STF precisa ser laico e decidir pelo que a sociedade quer. "Mulheres que abortam estão desesperadas e com medo do estigma social de ser mãe solteira ou mãe adolescente. Ninguém é a favor do aborto, somos a favor da sobrevivência dessas mulheres", afirma.
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Ela acredita, ainda, que a religião precisa ser misericordiosa. "Meu Jesus é um Jesus de amor e compaixão. Ele olha para cada uma dessas mulheres e diz: "Eu te amo, não te condeno", diz. "Nós queremos políticas de redução de danos, e, não, jogar mulheres na cadeia. Estamos aqui hoje resistindo pela vida de todos".
Em vigília desde a uma da manhã, a mãe-de-santo Giovanna, de 33 anos, veio de Goiânia para apoiar o movimento. À Universa, ela conta que, na Umbanda, o aborto também é visto como crime.
"É uma discussão de preconceitos. A gente vê que os que se denominam pró-vida não são pró-vida, realmente, mas, sim, pró-nascimento. O aborto já acontece, sendo legalizado ou não. Acontece clandestinamente. As mulheres que ousam buscar ajuda em hospitais públicos, quando acontece alguma complicação, são maltratadas -- isso quando não são presas. É uma questão de saúde pública", afirma.
Representante da Frente Evangélica pelo Direito de Decidir, a estudante Camila Mantovani, de 23 anos, veio do Rio de Janeiro para a audiência. "Tenho fé que a audiência traga resultados positivos, mesmo com um cenário negativo. Entre os 13 convidados da audiência de hoje, 11 são contra a descriminalização do aborto. Contudo, só de ter essa audiência, já é um passo importante", diz.
Segundo Camila, o que falta para a mudança na Constituição é laicidade. "É problemático que a fala de grupos religiosos tenha peso nas decisões do Supremo. Estamos falando de uma questão social. A laicidade do nosso Estado é tão frágil que dificulta o debate sobre isso", conta.
Membro da igreja Batista, a estudante e o grupo sofrem ataques diários nas redes sociais. "Xingam a gente o tempo todo, recebemos, inclusive, ameaças de morte. Sei que há um discurso de ódio gigante por aí, o que nos resta é resistir".
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