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Irmãs restauram bonecas para Natal de crianças de comunidade onde nasceram

Dora na comunidade durante a entrega das bonecas - Acervo pessoal
Dora na comunidade durante a entrega das bonecas Imagem: Acervo pessoal

Mariana Araújo

da Universa, em São Paulo

02/12/2018 04h00

Há 7 anos, o bairro Itanguá, na cidade de Cariacica (ES), têm seu Natal transformado pelo Grupo Solidário Cypreste, uma iniciativa da assistente social Dora Cypreste, de 63 anos.

Ao lado da irmã, Dilcea, ela restaura bonecas antigas e as entrega às crianças do bairro, no esforço de compartilhar com a comunidade onde cresceu alguns dos privilégios que conquistou ao longo da vida, iniciada ali e permeada por dificuldades financeiras.

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A ideia das doações começou muito antes do projeto. Durante a infância do filho Felipe, hoje com 23 anos, Dora começou a sair com o menino às ruas para dividir com outras crianças os brinquedos que ele ganhava de tios e avós, mas com os quais não brincava mais.

Há 11 anos, a proposta solidária tomou forma com a criação do grupo familiar, composto por cerca de dez voluntários -- amigos próximos de Dora e sua irmã, Dilcea. Durante o ano, os trabalhos se estendem a outras tarefas de apoio aos moradores de Itanguá. No entanto, desde 2011, as irmãs já reaproveitaram e entregaram cerca de 300 bonecas às crianças da região.

“O grupo também se apoia na ideia de sustentabilidade, de reaproveitamento. Recebemos doações de bonecas que chegam sujas, com as roupinhas muito rasgadinhas, sem braços ou pernas. Faço o primeiro processo, às vezes, eu mesma as recolho na casa das pessoas, faço a limpeza, dou banho, passo álcool, coloco para secar às vezes até por uma semana. Quando estão cheirosas, penteadas, mando para a minha irmã”, explicou Dora à Universa sobre o processo de recuperação dos brinquedos, totalmente artesanal.

Dilcea durante o processo de confecção das roupas das bonecas - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Dilcea durante o processo de confecção das roupas das bonecas
Imagem: Acervo pessoal

“Ela é muito habilidosa. A cada semana, faz três ou quatro roupinhas, vestidos, macacõezinhos, às vezes costurando à mão. Enquanto isso, faço também acessórios, pulseirinhas. Nenhum modelo é igual. Temos noivinhas, outras com roupinha de quadrilha, de festas. Para este Natal, já estamos com 75 bonecas prontas”, revelou. Segundo Dora, cada membro do grupo não coloca dinheiro nas peças: elas são reco­nstituídas com sobras de materiais que eles possuem em ­casa, como retalhos de tecidos e botões antigos.

Toda a divulgação da proposta do grupo é feita no boca a boca, por amigos dos membros dos grupos. Assim, eles entram em contato com outros possíveis doadores dos brinquedos usados.

Dora usa sua experiência como assistente social para manter um cadastro das famílias da região, com nomes e idades dos membros que compõe cada casa. A ideia é não só adequar os brinquedos à faixa etária das crianças, mas garantir que o maior número possível delas receba doações.

“Temos um vínculo com a comunidade. Eu e meus irmãos somos deste bairro, em extrema vulnerabilidade social, à beira de um lixão. E a gente conseguiu ser pinçado por Deus e pelos nossos pais, conseguimos estudar, temos curso superior e, hoje, outra situação cultural e financeira. Por isso estamos dando retorno àquela comunidade, porque não gostaríamos que eles passassem pelo que já passamos”, justificou Dora.

O trabalho de restauração das bonecas é conduzido por duas irmãs, Dilcea e Dora Cypreste - Acervo pessoal - Acervo pessoal
O trabalho de restauração das bonecas é conduzido por duas irmãs, Dilcea e Dora Cypreste
Imagem: Acervo pessoal

Durante a realização deste trabalho, a assistente social conta que já se viu diante de situações curiosas e insólitas. “Às vezes, os idosos também pedem ‘traz uma boneca para mim’. Também já tivemos que devolver a boneca para o ex-dono. A pessoa a vê reformada e diz ‘ficou tão linda’”.

Para Dora, o principal resultado do projeto é a recuperação da autoestima da comunidade. “[Com a boneca], a gente pode trabalhar a autoestima da pessoa. Muitas vezes, ela não tem uma autoestima elevada porque etapas [do desenvolvimento] foram retiradas, ela não teve sonhos realizados”.

O Grupo Solidário Cypreste continuará recebendo brinquedos para o Natal de 2018 até a primeira semana de dezembro e doações podem ser combinadas com Dora através do e-mail doralipe123@hotmail.com. As entregas serão feitas no dia 16 de dezembro. Confira o resultado do trabalho de recuperação dos brinquedos na galeria: