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BDSM fashion: desfile de moda fetichista tem aço, cordas e luzes pelo corpo

Jacqueline Elise

Da Universa

02/05/2019 04h00

A imagem do BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) no imaginário popular envolve algemas, chicotes e muito couro preto e vermelho. Pensando nisso, o Dominatrix Augusta, clube paulistano voltado para o público fetichista, aproveitou que a cidade estava no meio da 47ª edição da SPFW e decidiu promover, pela primeira vez, a São Paulo Fetish Week. O evento mostrou o trabalho de praticantes sadomasoquistas e artesãos de acessórios BDSM (coleiras, chicotes e outros adereços), promovendo performances e finalizando com um desfile, realizado no dia 27 de abril.

A sócia do Dominatrix Fernanda Benine, 31, explica que a intenção era ressaltar a importância que a moda tem no meio fetichista. "No fundo, todo mundo tem um fetiche, mas as pessoas ficam com medo de entrar num lugar 'feio'. Esse evento veio para quebrar essa imagem e mostrar que é possível incorporar essa moda no dia a dia e usar uma peça de látex na rua, se quiser", afirma. A intenção é que o São Paulo Fetish Week aconteça anualmente.

O espaço foi tomado por praticantes de sadomasoquismo e curiosos que passavam pela porta do clube, convidados a entrar pela hostess Pri Toledo. A casa estava lotada, o calor fazia as pessoas transpirarem sob as vestimentas de látex e couro. Alguns deixaram o pudor em casa e foram seminus: homens sem camisa ou de cueca, mulheres com os seios aparecendo e alguns bumbuns de fora. Todos bebendo, conversando e cumprimentando conhecidos da cena enquanto eram atendidos por Fernanda no bar e pela promoter Vivi Escarlate, que ajudou a organizar o desfile e o "backstage" improvisado no segundo andar do Dominatrix.

Foram mostradas roupas e itens feitos por personalidades e marcas conhecidas do meio: Steel Acessórios, ZP Latex, Maria Antonieta Atelier, Femme's Leather, TM Tamura, Alesha Artes e Lord Bondage. E não só de couro vive o BDSM: as roupas também eram feitas de metal, borracha, vinil, látex, cordas, plumas e até luzes piscantes.

Da Fashion Week para a Fetish Week

Lord Bondage, 51, tem 14 anos de envolvimento com o BDSM e é conhecido no meio por ministrar cursos de shibari, a técnica japonesa de amarrar pessoas. Ele também fabrica as próprias cordas e, no evento, teve a oportunidade de desenvolver, pela primeira vez, roupas feitas com amarrações. Mas ele não é navegante de primeira viagem no mundo da moda: já participou da SPFW em 2015, durante o desfile da estilista Paula Raia, e em 2016, a convite de Lenny Niemeyer.

São Paulo Fetish Week: Lola Steinhot - Felipe Gabriel/UOL - Felipe Gabriel/UOL
A modelo Lola Steinhot, 30, usa um dos looks feitos por Lord Bondage
Imagem: Felipe Gabriel/UOL

"Para esse desfile, eu tive que virar um 'serial killer' de tecido e cordas, porque apanhei demais deles para fazer essas peças", ri. "Eu planejei uma coisa, mas, na prática, não funcionou. O tecido era muito mole, o caimento não era bom, a corda era pesada. Inicialmente, comecei usando a corda de juta, que é a tradicional do shibari. Mas ela não estava dando o caimento, então tive que fabricar cordas de algodão. Para o tecido, usei jeans, que é mais resistente". Depois dessa experiência, ele pensa em criar sua própria linha de "roupas shibaristas".

Homem e mulher de aço

Ana Steel, 28, e Lord Steel, 53, são os artesãos proprietários da Steel Acessórios, que fabrica itens feitos sob medida com couro e metal. "Eu buscava produtos de qualidade para as práticas, mas era preciso importar tudo. Só que os produtos importados eram muito caros, e os nacionais eram de baixa qualidade. Foi aí que eu comecei a fazer meus próprios acessórios, e os amigos foram pedindo e espalhando para os outros", conta Lord Steel. Eles possuem uma loja física no segundo andar do Dominatrix Augusta.

São Paulo Fetish Week: Ana e Lord Steel - Felipe Gabriel/UOL - Felipe Gabriel/UOL
Ana e Lord Steel fabricam adereços de BDSM com couro legítimo e aço inox
Imagem: Felipe Gabriel/UOL

Ana conta que uma das maiores dificuldades ao mexer com produtos fetichistas é combinar o bonito com o resistente e o funcional. "Nem sempre estes três itens conversam --muitas vezes o resistente e funcional não é bonito. Mas a gente gosta de desafios. Por exemplo, o cinto de castidade tem de cumprir sua função de restrição, mas tem que ter o mínimo de conforto. Ele é sempre feito em vários moldes, é testado no corpo até chegar no resultado final", explica. Ana usava, no evento, um dos cintos feito por ela e por seu dominador, com detalhes dourados e um grande cadeado.

Para o desfile, eles desenvolveram os harness (tipo de 'armadura' que adorna o tronco da pessoa) de couro legítimo, acessórios em aço inox, além de tiaras e adereços para o rosto e corpo.

Moda é fetiche, e vice-versa

São Paulo Fetish Week: Mistress Mahara - Felipe Gabriel/UOL - Felipe Gabriel/UOL
A dominatrix Mistress Mahara desfila cm um look feito em couro branco
Imagem: Felipe Gabriel/UOL

A dominadora profissional Mistress Mahara, 24, desfilou com um harness de couro branco e um chicote cravejado de cristais. "Geralmente, o fetiche está muito ligado ao underground até mesmo no visual, tudo é preto e vermelho, mas o desfile foge um pouco disso. O fetichismo veio para libertar nossas definições de prazer e trazer o novo nessa moda é seguir essa ideia de fetichismo. A moda também é fetiche: tem quem goste de usar botas ou látex ou se vestir inteiro de jeans", pensa.

Um dos looks de Mistress Charlotte, 32, que também é dominatrix, era um sutiã feito inteiramente em aço dourado acompanhado de saia de látex. "Às vezes, a pessoa nem sabe que tem fetiches, mas o look de alguém do meio chama a atenção. A moda fetichista te ajuda a criar sua persona no BDSM, passa a sua imagem para os outros. E aqui é um espaço onde as pessoas podem explorar justamente isso".

E Charlotte está certa: na São Paulo Fetish Week, até o público espectador mostrou que a proposta funciona. Submissos portavam suas "coleiras" em público com orgulho, enquanto dominadores adotaram um visual imponente --até mesmo quando havia nudez ou roupas que deixavam pouco para a imaginação.