Coronavírus e mulheres cientistas viram tema de livro de passatempos
Em meio à quarentena e ao distanciamento social provocado pela pandemia de covid-19, seis professoras doutoras da área de ciências exatas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) elaboraram o livro de passatempos "Mulheres Cientistas: Coronavírus", repleto de informações relevantes apresentadas de forma lúdica e com linguagem acessível. Nele, estão palavras-cruzadas, caça-palavras e desenhos para colorir criados a partir de um minucioso trabalho de pesquisa.
A publicação, com 72 páginas, é uma ação do projeto de extensão universitária Meninas e Mulheres nas Ciências, da UFPR. "É um material feito por mulheres cientistas sobre mulheres cientistas para todas as pessoas. Um trabalho colaborativo que visa à valorização das mulheres na ciência ao longo da história, que por muito tempo foram 'invisibilizadas'", afirma a professora Camila Silveira, do departamento de química da universidade e coordenadora do projeto.
As reuniões para a realização do livreto foram todas virtuais. O material não foi impresso, está disponível gratuitamente no blog do projeto e nas redes sociais @mulheresnasciencias.ufpr.
Camila conta que estão em busca de recursos financeiros para a impressão do livro, pois sabe bem que boa parte da população brasileira não tem acesso à internet. "Queremos fazer uma campanha de distribuição para que ele chegue aos excluídos digitalmente. O livro é para todas as idades e vem sendo usado em algumas escolas de ensino fundamental e ensino médio."
Caça à cientista
Na seção de caça-palavras, por exemplo, os textos dos enunciados trazem trajetórias de cientistas e seus feitos. Há atividades inteiras dedicadas às brasileiras Ester Sabino e Jaqueline Goes, que, em apenas dois dias, conseguiram sequenciar o genoma do novo coronavírus.
Outra seção é dedicada à virologista escocesa June Hart, que descobriu, em 1964, em Londres, o primeiro coronavírus humano. Foi ela também que visualizou o vírus da rubéola, estudou a hepatite B e, no final dos anos 1980, ajudou a registrar imagens do vírus HIV.
Machismo estrutural na ciência
As autoras fizeram questão de abordar episódios de machismo estrutural no campo da ciência, "o que ainda ocorre com muitas cientistas". Uma das grandes injustiças foi vivida pela química inglesa Rosalind Franklin, especialista na técnica de difração de raios-X, que permite "ver" a estrutura de moléculas. A partir desse meio, Rosalind fez a imagem da molécula de DNA, um feito inédito. Porém, seus relatórios acabaram nas mãos de outros cientistas, que chegaram a receber o Prêmio Nobel de Medicina, em 1962, pela "descoberta".
No livreto, não faltam atividades sobre o pioneirismo das mulheres na ciência e na saúde. Entre elas, a italiana Florence Nightingale, considerada a criadora da enfermagem moderna, tornando a enfermagem uma profissão, a baiana Anna Nery, patrona da enfermagem do Brasil, e a bióloga e geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e células-tronco e do Instituto Nacional de Células-Tronco em Doenças Genéticas.
Diversas definições e conceitos são apresentados de um jeito simples e claro, assim como um panorama sobre a corrida pelo desenvolvimento de vacinas e medicamentos que possam vir a combater a covid-19.
Quem assina as belas ilustrações é o estudante do curso de graduação em física da UFPR Marcelo Jean Machado. Questionado sobre a experiência, ele deixa no ar uma dose de esperança: "O que eu achei mais interessante foi descobrir mulheres tão importantes e incríveis para o progresso da ciência e da sociedade que passam despercebidas para o público. É triste saber que há inúmeras cientistas que foram ofuscadas por serem mulheres. Então, fico muito feliz em participar desse projeto, foi incrível trazer à tona essas mulheres tão marcantes".
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