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Vítima de anestesista foi comunicada de crime e tomou medicamento anti-HIV

Marcela Lemos

Colaboração para Universa, no Rio de Janeiro

14/07/2022 10h25

A paciente que aparece em vídeo sendo estuprada pelo médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra dentro de um centro cirúrgico no Hospital da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, já sabe do crime e recebeu medicamento de prevenção ao HIV com o objetivo de evitar uma possível contaminação em decorrência do abuso sofrido.

A informação foi confirmada a Universa na manhã desta quinta-feira (14) pela delegada Bárbara Lomba, titular da Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher) de São João de Meriti, responsável pelo inquérito que apura também outras possíveis vitimas do médico. Bárbara também contou que conversou com a vítima por telefone. "Ela está muita abalada psicologicamente, chorou no telefone comigo, mas disse que tem condições e vai prestar declarações", afirma.

A delegada explicou também sobre o medicamento: "é um protocolo em caso de violência sexual". A Profilaxia Pós-Exposição (PEP) é uma estratégia de prevenção de emergência utilizada caso a pessoa tenha se exposto ao risco de ter contraído o HIV. Por se tratar de urgência, o paciente tem até 72 horas após a exposição para iniciar o tratamento, que é feito também com medicamentos e dura 28 dias. O medicamento é distribuído gratuitamente na rede pública de saúde.

Responsável pelo caso, Lomba descreveu o médico como um "criminoso em série": "Pela repetição das ações criminosas que nós observamos e pela característica compulsiva das ações do indiciado, nós podemos dizer que é um criminoso em série. Com todas as informações que coletamos até agora, tudo indica que a sedação era feita para a prática do estupro."

Além do estupro flagrado em vídeo, a Deam de São João de Meriti investiga outros cincos casos —dois deles teriam ocorrido no mesmo plantão em que ocorreu a filmagem da gestante sedada sendo abusada. Outros três casos são de mulheres que procuraram a delegacia para relatar adoção de procedimentos incomuns praticados pelo médico.

Entenda o caso

Giovanni Quintella Bezerra, de 32 anos, foi preso em flagrante na madrugada de segunda-feira (11) pelo crime de estupro de vulnerável.

Um vídeo gravado com um celular escondido na sala de cirurgia do Hospital da Mulher, em Vilar dos Teles, em São João de Meriti (RJ), mostra o profissional colocando o pênis na boca da paciente, que está dopada para o nascimento do bebê.

O vídeo foi gravado e entregue à polícia por enfermeiras da unidade, que desconfiaram da quantidade de sedativo usado pelo anestesista em outras ocasiões e da movimentação dele próximo à paciente, segundo a Polícia Civil.

Nas imagens gravadas, a mulher aparece deitada e inconsciente durante o parto. Do lado direito do lençol, sempre usado em cesarianas, o médico aparece colocando o pênis para fora e introduzindo o órgão da boca da mulher. O ato dura dez minutos. Do outro lado do lençol, a menos de um metro de distância, está a equipe médica trabalhando no nascimento do bebê.

A reportagem teve acesso às imagens, mas optou por não publicá-las para preservar a vítima.

As imagens flagraram o estupro. A Deam foi acionada e Giovanni foi preso em flagrante e teve a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça do Rio, em audiência de custódia. A Deam pretende concluir o inquérito sobre o estupro em dez dias, mas as investigações continuarão para identificar outras possíveis vítimas do médico. Ele vai responder por estupro de vulnerável cuja pena varia de oito a 15 anos de prisão.

No momento, Bezerra está preso em Bangu 8, na zona oeste do Rio, em uma cela destinada a presos com curso superior.