Bruaca, abortos e sexo: Isabel Teixeira, a grande revelação de 'Pantanal'
Maria —ex-Bruaca— foi, de longe, a grande revelação de "Pantanal", que termina nesta sexta-feira (7).
Não que a personagem de 1990, vivida por Ângela Leal, tenha passado despercebida. Mas a atual, interpretada pela brilhante Isabel Teixeira, 48 anos, ganhou o Brasil.
O carinho do público foi tanto que, nas redes sociais, ela ganhou apelido —Mary Bru— e torcida para que se vingasse logo do marido, Tenório (Murilo Benício), depois de descobrir que ele tinha outra família há quase 30 anos. A até então submissa Bruaca paga a traição na mesma moeda se envolvendo com um peão e, depois, com outro, por quem acaba se apaixonando: Alcides (Juliano Cazarré).
Na internet, Maria foi a mais querida da novela depois de Juma (Alanis Guillen), a protagonista que, por óbvio, ganha a maioria dos holofotes. Segundo a plataforma Keyword Planner, do Google, que analisa as buscas sobre determinado termo, Mary Bru só fica atrás da mulher-onça.
Ao longo de 170 capítulos de novela, a dona de casa que mal saía da cozinha virou uma mulher corajosa, que vai à Justiça buscar seus direitos, se entrega ao sexo e ao amor de maneira mais livre e enfrenta o ex-marido, inclusive rechaçando o apelido que recebeu dele a vida toda: "Bruaca é tua mãe", disse a ele, mais de uma vez.
Em entrevista a Universa, Isabel —estreante em um papel de destaque na teledramaturgia, mas veterana do teatro— resume a trajetória da personagem como um "grito de libertação".
"Ela passa por um abalo sísmico quando descobre que a vida que tinha, na verdade, só existia na cabeça dela, que aquele casamento estava só na cabeça dela. Essa descoberta faz com que tudo se estremeça", diz.
"No meio do caos, ela tem um encontro caótico com a sexualidade dela e não sabe muito bem lidar com aquilo", percebe Isabel. "Ela não vai operar o peito que caiu, fazer uma harmonização facial e botar para quebrar. Essa mulher não sabe seduzir da forma que estamos acostumados a ver na TV. A sexualidade dela é outra, menos estética."
A revelação de "Pantanal": quem é Isabel Teixeira
Isabel Teixeira escolheu a carreira de atriz aos 11 anos —desaconselhada pela mãe, a também atriz Alexandra Corrêa— e desde então atuou em 25 peças de teatro, parte delas na Europa. Foi com "Pantanal", aos 47 anos, que ela se apresentou para o maior público de sua carreira: mais de 6 milhões de pessoas todos os dias, ao longo de mais de 170 capítulos.
A atriz comemora o sucesso da personagem e só reclama se ouve que o "casamento" recente com a televisão é o auge de sua carreira: "Pelo amor de Deus, não me coloca esse fardo. Tenho tanta coisa para aprender", diz, em conversa com Universa por vídeo.
Se eu tivesse feito televisão aos 20 anos, não teria a experiência que estou tendo agora. Mas a gente está numa sociedade em que parece que, se não fizer o que tem que fazer na profissão até os 30, já era. Estou aqui para provar o contrário - Isabel Teixeira, a Maria Bruaca de "Pantanal"
Nesta entrevista, feita entre as viagens de Isabel a Mato Grosso do Sul para gravar a novela, ela diz que sua personagem "com certeza" abre caminhos para um novo mundo, em que a atenção dada a uma mulher não se resume à sua aparência ou juventude. "Quando a Maria tira a roupa, não estou olhando se ela tem celulite ou bunda caída, estou olhando para uma mulher nua na felicidade de estar ali, naquele lugar."
Sai para lá harmonização facial
Isabel está longe dos padrões estéticos da maioria das revelações da TV, de barriga chapada e rosto simétrico típico de quem passa por harmonização facial. E diz que não tem no horizonte planos de se submeter a qualquer procedimento para mudar sua aparência, muito menos se a demanda vier do showbusiness.
"Se a televisão vira para mim e fala: 'Olha, Isabel, não dá mais, não tem espaço para você', se não me quiser porque eu não tenho sei lá o quê, não vou morrer, vou para outro lugar", fala, às gargalhadas. "Não acredito em moldes. Se um dia eu fizer alguma intervenção, vai ser uma vontade minha."
Abortos na juventude: 'Decidimos juntos, minha família e a do meu namorado'
Há pouco mais de um mês, Isabel Teixeira contou à revista "Marie Claire" que fez dois abortos na juventude e que seus dois filhos, Diogo, 18 anos, e Flora, 11 anos, "vieram na hora que eu escolhi".
"[Os abortos] foram acidentes. Acontece. Mas o que tem de ser frisado é que, apesar de eu ter todas as informações a que tive acesso sendo criada por uma mulher muito informada, com uma cabeça muito aberta, aconteceu. E, comigo, aconteceram duas vezes. Duas, pô."
A Universa, Isabel contou que passou pelos dois procedimentos com o apoio da mãe e envolvendo o então namorado e a família dele. Juntos, eles e os pais dos dois tomaram a decisão pela interrupção da gestação.
"A gente decidiu juntos: as duas famílias, sentadas em volta de mesa. Todos chamados para a responsabilidade, num país em que isso é proibido, um tabu."
Hoje eu sei o que é ter filhos porque escolhi muito bem a hora de ter os meus dois. Eles foram combinados, planejados com o meu parceiro, queridos. E é difícil, imagina tão nova
Quando a declaração dada à revista foi publicada, em uma edição que trazia foto de Isabel na capa, a atriz conta que se surpreendeu com a repercussão. O aborto era um assunto comum para ela, pauta de conversas sinceras com a mãe e, agora, entre ela e os filhos —assim como qualquer outro tema. Daí a surpresa da atriz ao perceber que, da porta para fora de sua casa, a história é bem diferente.
"Não sabia que aborto era um tabu tão grande. Soube quando saiu a entrevista, porque essa foi uma declaração no meio da reportagem, entre várias outras, e foi só o que ganhou destaque."
"Quando entendi que uma experiência pessoal minha tinha essa dimensão, pensei: 'Será que digo isso de novo?'. Mas estou repetindo para você e, se me perguntarem, afirmo de novo: essa deveria ser uma escolha de todas as mulheres", crava, diminuindo a velocidade da fala nas palavras finais.
Bisavó interrompeu gravidez com agulhas de crochê
A bisavó, que ficou viúva cedo e namorava escondido porque não poderia se casar novamente, engravidou por acidente e decidiu fazer um aborto —na época, realizado em casa, no sigilo, por ela mesma, com agulhas de crochê. "Minha mãe me contava essa história no contexto de falar abertamente sobre prevenção de gravidez, para eu não correr o risco de engravidar por falta de informação."
Durante a adolescência, Isabel diz que recebeu toda informação possível sobre contracepção —inclusive porque passou a juventude na mesma década em que a Aids ainda era um medo e viu a mãe perder amigos para a doença, incluindo o melhor amigo, padrinho de Isabel.
Filha de mãe solo e relação com pai famoso por telefone
Durante toda a entrevista a Universa, Isabel menciona diversas vezes a avó materna e a mãe, a quem ela se refere como "mãe solo" —a atriz é filha de Alexandra Corrêa e do cantor Renato Teixeira, mas conta que sua relação com o pai se deu, ao longo da vida, pelo telefone, e que cabia à mãe administrar a criação da filha.
"Era muito difícil para a minha mãe ser uma mulher divorciada com uma filha e com sonhos na cabeça."
Um pouco antes de ver a mãe doente morrer, em 2006, aos 56 anos, Isabel descobriu um álbum de fotos do casamento da avó e teve duas surpresas: uma das convidadas da festa era Patrícia Galvão, a Pagu —escritora e "musa" do modernismo brasileiro— e a noiva não se casou de branco, mas de vermelho.
"Na hora, falei: 'Mãe, você já pensou na hipótese de a vovó também não ter se casado virgem?'", conta, aos risos, imitando a reação espantada de sua mãe.
Mensagens de mulheres que se reconhecem em Bruaca são diárias
A relação de muitas mulheres com suas mães e avós, aliás, foi transformada graças à atuação de Isabel em "Pantanal": ela conta que, desde o início da novela, recebe mensagens de gente falando que, a partir da empatia com Maria Bruaca, pôde compreender mulheres da própria família.
Mas, mais do que isso, ela recebe relatos de mulheres que estão passando pela mesma situação da personagem: maus-tratos do marido, divórcio, descoberta da própria sexualidade. "Isso é muito bonito e forte. E não foi uma ou duas vezes, é quase todos os dias."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.