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#MeToo segue vivo com Weinstein de volta a júri; o que está em jogo agora?

Harvey Weinstein vai enfrentar novo julgamento de assédio sexual em Los Angeles - Carlo Allegri
Harvey Weinstein vai enfrentar novo julgamento de assédio sexual em Los Angeles Imagem: Carlo Allegri

Victoria Borges

Colaboração para Universa, em São Paulo

11/10/2022 14h58

Cinco anos após as primeiras denúncias por crimes sexuais contra Harvey Weinstein, que deram origem a um dos maiores escândalos sexuais de Hollywood, o ex-produtor de cinema enfrenta um novo julgamento em Los Angeles. O processo teve início ontem (10) e deve durar cerca de dois meses.

Mas qual a diferença já que ele cumpre atualmente uma sentença de 23 anos?

Weinstein foi condenado em 2020, em Nova York, após ser considerado culpado por violentar sexualmente a ex-assistente de produção Mimi Harleyi em 2006, e por estuprar a atriz Jessica Mann em 2013. O que ele tem pela frente são novas acusações em Los Angeles que podem ampliar o prazo de prisão para até 140 anos.

Em Los Angeles, tem outras 11 acusações de mulheres. Os casos teriam acontecido entre 2004 e 2013 e há relatos de estupro e de sexo oral forçado pelo ex-diretor.

Weinstein enfrenta também processos por agressão sexual no Reino Unido. Ainda não se sabe se o ex-produtor será extraditado para ser julgado por um tribunal britânico.

Outras diversas acusações que ocorreram no final da década de 1970 prescreveram e não puderam ser julgadas.

Quem é Harvey Weinstein?

Considerado uma das figuras mais influentes de Hollywood, Weinstein é cofundador da Miramax, empresa de entretenimento que começou como produtora e distribuidora independente de filmes.

Esteve por trás de reconhecidas obras dos anos 90, como Pulp Fiction e Shakespeare Apaixonado, que ganhou sete estatuetas no Oscar de 1999, incluindo o prêmio de melhor filme. Também foi o responsável direto pelas quatro indicações do filme Cidade de Deus em 2004.

O estúdio foi vendido a Walt Disney Company em 1993. Em 2005, criou a The Weinstein Company junto com seu irmão, Bob Weinstein.

Sua fortuna chegou a ser estimada em US$ 150 milhões. Foi reconhecido por contribuir com campanhas contra doenças como a aids, a diabetes juvenil e a esclerose múltipla, além de financiar campanhas de Barack Obama e Hillary Clinton.

Durante décadas, Weinstein teve o poder de construir e arruinar carreiras na indústria do cinema — e usou essa influência para silenciar as vítimas.

As denúncias

Foi em outubro de 2017 que a verdade sobre Weinstein veio à tona.

A primeira reportagem, publicada no jornal The New York Times, detalha as histórias das atrizes Rose McGowan e Ashley Judd. As acusações indicavam que os abusos já aconteciam há décadas.

Em pouco tempo, os relatos se multiplicaram. A revista New Yorker divulgou mais treze denúncias contra Weinstein, incluindo três acusações de estupro.

Diversas atrizes, modelos e funcionárias que passaram pelas produtoras Miramax e The Weinstein Company também disseram ter sido vítimas do produtor.

Nomes como Angelina Jolie, Cara Delevingne e Léa Seydoux contam histórias de assédio envolvendo o produtor. Asia Argento, Lucia Evans, Rose McGowan e Paz de la Huerta relataram ter sido estupradas. Já Mira Sorvino e Ashley Judd alegam que Weinstein destruiu suas carreiras.

A atriz Salma Hayek, que interpretou Frida Kahlo no filme biográfico da artista mexicana, expôs que o produtor chegou a ameaçá-la de morte: "por muitos anos, ele foi meu monstro".

Weinstein pediu desculpas após o ocorrido e atribuiu seu comportamento à cultura em que foi criado. "Cresci nos anos 1960 e 1970 quando todas as regras sobre o comportamento e os lugares de trabalho eram diferentes", disse em declaração ao Times.

Após as acusações, o poderoso chefão de Hollywood se internou em um centro de reabilitação para "curar sua dependência de sexo", foi demitido de sua própria empresa e expulso da Academia de cinema dos Estados Unidos, que é responsável por organizar o Oscar.

O julgamento

No dia 25 de maio de 2018, Weinstein se entregou à polícia.

Dois anos depois, foi sentenciado a 23 anos de prisão por um juiz de Nova York, após ser considerado culpado de duas das cinco acusações de má conduta sexual às quais respondia.

Weinstein foi condenado por estupro em terceiro grau e ato sexual criminoso em terceiro grau.

Ele foi inocentado, no entanto, das acusações mais graves de estupro em primeiro grau, quando o acusado causa danos sérios à integridade física da vítima — crime que poderia sentenciá-lo a prisão perpétua.

Globalização do debate sobre assédio

O caso Weinstein impulsionou o movimento #MeToo (em português, "eu também'') nas redes sociais. Por meio da hashtag, milhares de mulheres ao redor do mundo passaram a denunciar casos de abuso e violência sexual.

A corrente de protestos colocou em evidência a má conduta por parte de homens poderosos e influentes nas áreas do entretenimento, política e negócios.

Cerca de um ano após a criação do movimento, o The New York Times publicou que 201 homens perderam seus cargos de chefia por acusações semelhantes à de Weinstein.

Um relatório publicado pelo jornal L'Humanite aponta que, desde 2017, houve um aumento de 82% nas denúncias de assédio na França. A matéria diz que, ao menos no país, "o silêncio das mulheres já não é mais regra".

O movimento se desdobrou em outras iniciativas feministas, como o Time's Up (Chegou a hora), que é voltada para combater o assédio sexual e a desigualdade de gênero em ambientes de trabalho.