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Por que ofensa de Augusto Aras contra Miriam Leitão é machista

O procurador-geral da República, Augusto Aras; fala durante entrevista foi criticada - Antonio Augusto/Secom/TSE
O procurador-geral da República, Augusto Aras; fala durante entrevista foi criticada Imagem: Antonio Augusto/Secom/TSE

De Universa, em São Paulo

11/01/2023 09h43Atualizada em 11/01/2023 11h53

O procurador-geral da República, Augusto Aras, virou alvo de críticas após ofender a jornalista Miriam Leitão. A fala veio depois de ela publicar um texto em que informava sobre uma medida tomada por Aras sobre grupos da procuradoria que combatiam atos antidemocráticos.

"Essa senhora parece que tem um fetiche comigo, talvez porque eu não tenha atendido às matérias seletivas para ela e a família dela. Essa senhora foi cortada da seletividade que tinha na Operação Lava Jato. E, provavelmente, o jornal dela ganhou mais dinheiro do que com a novela das 8", afirmou Aras em entrevista ao site Bnews

Quando homens jornalistas são ofendidos, eles são chamados de 'militantes', 'parciais' ou 'burros', ofensas que estão, em sua maioria, ligada a capacidades cognitivas. Dificilmente eles são atacados pelas vidas pessoais, pela aparência ou sexualidade — esta última só ocorre envolvendo situações de transfobia ou homofobia. Essas ofensas, portanto, têm como intuito atacar o lado profissional do jornalista, indicando que não se pode confiar nele e no poder dele contar a verdade. Rafaela Sinderski, coordenadora do projeto Violência de Gênero Contra Jornalistas, da Abraji.

"Existe esse 'extra' do gênero. A ofensa não parte das qualidades da pessoa como profissional, mas de outro lugar. Elas são chamadas de 'feias, 'gordas', 'vadi**'. Nesses casos, tentam desqualificar o trabalho delas, ou descredibilizá-las, por questões que não são cognitivas. O foco foge do trabalho como uma jornalista, mas parte para questões mais pessoais", diz ela.

Rafaela ainda explica que chamar o trabalho de uma jornalista de "fetiche" é uma forma de tentar retirá-la do local profissional. "É uma maneira de dizer, entrelinhas, que aquele lugar de jornalista, de que fala sobre política, da esfera pública, não é um lugar para mulher. Insinuar que ela tenha um fetiche é uma forma de tentar envergonhá-la e descredibilizá-la."

Segundo o projeto de Rafaela que monitora ataques contra jornalistas:

  • 96.5% das vítimas de ataques são mulheres.
  • 63.2% do total de casos apurados, a vítima cobria temas políticos.
  • 29.9% dos agressores são do Poder Público.

Acredito que, socialmente, as mulheres sempre foram empurradas para um lugar de doméstico, de dentro de casa. A mulher incomoda quando está na esfera pública.