Ana Canosa: 'Deve-se falar de IST como saúde sexual e não julgamento moral'
No novo episódio do "Sexoterapia", podcast de Universa, Bárbara dos Anjos e Ana Canosa receberam a ginecologista Barbara Murayama, para conversar sobre dúvidas, questões éticas, morais e diagnósticos ligados ao HPV e a ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) de forma geral.
Ana Canosa: "É um tema difícil, há muito estigma ainda, quase que uma associação direta que as pessoas fazem com promiscuidade. De alguma maneira, há uma associação de que homens podem ter mais parcerias sexuais, mulheres não. Então quando uma mulher tem uma IST, já vem com o 'mulher faz sexo'".
Quando você fala de IST, as pessoas fazem um julgamento moral sobre o uso do preservativo, embora ninguém use no geral. Aquela velha hipocrisia brasileira. É muito difícil falar de IST ainda porque existe esse viés moral. A gente devia falar como saúde sexual e não como julgamento moral. Ana Canosa
Bárbara dos Anjos apontou que "além do emocional, há a questão médica". A apresentadora questionou a convidada o que os médicos gostariam que se soubesse antes de uma relação sexual.
Barbara Murayama: "IST é um assunto de saúde pública. A gente ainda não tem liberdade pra falar em todos os ambientes. HPV é uma das mais comuns e é uma das principais causas de câncer de colo de útero e pênis".
Ela destacou também a diferença que acontece entre mulheres de classes sociais distintas. "As pobres ainda morrem muito de câncer de colo de útero, porque não conseguem ter acesso ao mínimo. É um problema de saúde pública. Entre as mulheres de classe sociocultural melhor, tem a preocupação, mas menos, porém têm as lesões pré-câncer".
A médica apontou a vacina como método eficaz de prevenção. "O público-alvo prioriza meninas e meninos de 9 a 14 anos, perto da iniciação sexual, mas porque bioquimicamente eles transformam anticorpos em maior quantidade e isso é bom coletivamente".
Diferente do HIV, [HPV] é um vírus que tem cura. Às vezes você precisa tomar medicação, às vezes só vai ser orientada a ter melhores medidas de saúde para melhorar imunidade. Você pode pegar de novo o mesmo ou outro subtipo. Tive diagnóstico, devo tomar a vacina? Deve. Não para essa infecção, mas para o futuro. Barbara Murayama
Ana Canosa destacou a importância de se incluir os meninos no debate. "É importante porque começa uma questão muito grande na conscientização, especialmente na conscientização familiar porque os meninos podem ser os vetores do vírus".
"Devo contar para o meu parceiro que estou com HPV?"
No primeiro Manda Casos do episódio, analisou-se a história de uma moça que descobriu numa consulta de rotina que estava com verrugas de HPV, de baixo risco. Em um novo relacionamento, ela enfrentava o dilema de contar ou não para o namorado sobre o diagnóstico.
Ana Canosa opinou que sim. "Claro que ela vai contar pro novo namorado. Ele vai passar 30 dias viajando apenas, não dá tempo de fazer todo o tratamento", ponderou.
Barbara Murayama ainda apontou a questão da confiança. "Também tem a questão de no que você quer basear o seu relacionamento".
Para Ana Canosa, o receio das pessoas em falar sobre ISTs se dá porque, de cara, já pensam na infidelidade. Murayama ressaltou que suas pacientes mais saudáveis não necessariamente estão em relacionamentos monogâmicos. "Minhas pacientes mais saudáveis são as que usam camisinha. Mulheres profissionais do sexo, mulheres que têm relacionamento aberto..."
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Quero receberAna Canosa também destacou que há outra questão por trás do medo de falar sobre. "Tem também questão de assumir o sexo como prática de prazer. Muita gente ainda não dá conta".
Insegurança com "desbravar" o mundo do sexo
O segundo Manda Casos trouxe o caso de uma mulher solteira, que depois de emendar dois relacionamentos e ter tido apenas estes dois homens como parceiros sexuais, estava solteira pela primeira vez e insegura com "desbravar" o mundo do sexo. Ela contou ainda ter se sentido mais insegura após a irmã gêmea descobrir que tem HPV e porque há histórico de câncer na família.
Ana Canosa apontou que o sexo oral deve ser sempre com preservativo, e Barbara Murayama concordou: "Usar camisinha sempre, em qualquer sexo oral com pessoa com pênis".
A exigência do uso da camisinha também foi apontada como algo essencial e a camisinha feminina foi apontada como possibilidade.
Murayama entende que, para mulheres mais velhas, há dificuldade de se falar sobre o tema. "Se pras mulheres jovens já é difícil falar abertamente, imagina pra uma mulher que teve uma criação mais machista".
Ela também destaca a importância de a mulher assumir a frente, por ser quem mais sofrerá. "É trazer o sexo como nossa responsabilidade. Se você ficar doente, vai ter que passar por exames, vai ter o risco de ter infertilidade. Infelizmente, é a mulher que vai sofrer mais e é mais frequente. Se não assumir esse papel, inclusive em relacionamentos teoricamente fechados, começa a se complicar".
Clímax
Ao fim do episódio, Ana Canosa destacou os principais pontos.
"Aprendemos que cada um é responsável pela sua saúde sexual e também de suas parcerias. É muito triste desenvolver uma IST, trazendo pro sexo uma questão negativa, de culpa, de dor. Nem sempre é possível identificar parcerias que transmitiram vírus ou bactérias, mas é importante avisar", disse.
"Sexo sem prevenção você pode fazer, é uma escolha. Mas nem tudo convém", apontou.
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