Criança de 9 anos ajuda a ensinar educadores sobre a juventude "queer"
Quando uma professora da terceira série do Texas perguntou aos seus alunos de cerca de 8 anos o que eles queriam ser quando crescessem, um deles escreveu na lousa: "drag queen"
A resposta veio de Keegan, hoje com 9 anos, uma criança com "gênero criativo", nas palavras da mãe, ilustrando apenas um dos desafios de educadores à medida que eles precisam se adaptar à variedade de identidades de gênero que os estudantes podem expressar.
A Reuters concordou em não identificar a família e a escola a pedidos deles próprios para que se evitasse potenciais assédios.
Educadores que, por séculos, têm dividido seus alunos entre meninos e meninas agora estão pensando jeitos melhores de lidar com estudantes que são não-binários, de gênero fluido ou que não se encaixam em nenhum dos gêneros, além de crianças transgênero, aquelas que a identidade de gênero é diferente daquela com a qual eles foram determinados no nascimento.
Segundo uma pesquisa, cerca de 3% dos jovens de Minnesota se encaixam em alguma destas categorias, se identificando com nenhum gênero, com ambos, ou trans, ou apenas contrariando as opções binárias de masculino/feminino.
Alguns departamentos de educação dos Estados Unidos estão usando linguagem mais neutra em relação a gênero, chamando seus estudantes com os pronomes escolhidos por eles, que pode ser "they," (que quer dizer "eles" ou "elas") "them," ("deles" ou "delas") "theirs" ("seus" e "suas") para um indivíduo, ou termos inventados, como "zie," "zir," "zirs".
O grau de aceitação para estes estudantes pode ser literalmente uma questão e vida ou morte, dizem especialistas.
Uma pesquisa nacional com 34 mil jovens da comunidade LGTQ entre 13 e 24 anos publicada na semana passada revelou que 39% deles pensou em suicídio nos últimos 12 meses, como mais da metade dos transgêneros e não-binários, de acordo com o Trevor Project, um grupo pró-LGBTQ focado na prevenção de suicídios.
Outro estudo, publicado no Journal of Adolescent Health em 2018 e baseado em dados de 129 trans e não binários entre 15 e 21 anos, descobriu que as tentativas de suicídio cairiam 35% e sintomas de depressão 71% se eles pudessem usar seus nomes escolhidos na escala, em casa, no trabalho e entre amigos.
O problema surge muito antes da adolescência uma vez que a identidade de gênero é manifestada tipicamente em crianças no jardim de infância.
"O que está em questão é nada menos que a vida futura dessas crianças e a saúde de todas como uma sociedade", diz Eliza Byard, diretora-executiva da GLSEN, um grupo nacional de defesa de estudantes lésbicas, gays, bissexuais, trans e queer.
"Ainda vivemos em um mundo em que os mais marginalizados ainda não recebem apoio e afirmação que eles precisam para crescer academicamente e pessoalmente. E todos nos beneficiaremos quando essa não for mais a realidade", disse Byard.
"Parte do que um drag faz, para mim pelo menos… é, se você não está gostando do que vê no espelho, é porque algo está errado. E se eu preciso me olhar no espelho por três horas, é melhor que eu goste do que eu vejo".
Os direitos dos transgêneros têm se tornado mais populares nos últimos anos e a comunidade LGBTQ se prepara para o marco do aniversário de 50 anos do levante de Stonewall, em 28 de junho de 1969. Os protestos de frequentadores de um bar gay em Nova York, que lutaram contra agressões da polícia, é considerado o nascimento do movimento moderno pelos direitos LGBTQ.
Keegan é um dos estudantes que se beneficiaram do legado Stonewall.
"Ele joga futebol e videogame e também gosta de se vestir como uma menina, usando o nome drag Kween-Kee-Kee, dizem seus pais. Entre seus mentores há um par de adultos drag queen. Ele normalmente usa os pronomes "ele" e "dele".
Keegan encontrou aceitação e apoio em sua escola num subúrbio conservador e cristão em Austin, Texas, diz sua mãe.
"Esperávamos muita oposição da escola e alguma intolerância, mas fomos bastante surpreendidos", diz a mãe de Keegan.
A professora de Keegan prestou muita atenção durante a aula de educação financeira, quando outros estudantes disseram que queriam ser médicos e dentistas e Keegan escreveu "drag queen"
"Um dos alunos perguntou 'o que é isso?' e Keegan respondeu 'eu não sei' e seguiu", disse sua professora.
"Mas eu vejo alguns sinais de que ele está tentando mostrar para as pessoas algo que ele é, algo que ele faz".
Nem a professora de Keegan, nem o diretor relataram ter recebido qualquer treino formal sobre educação para estudantes não-binários e trabalharam com intuição e observação.
A professora quer que Keegan levante o assunto "em seu próprio ritmo".
Seus pais, também, quiseram "deixar Keegan ser ele mesmo" e não impõem qualquer norma sobre ele. Eles disseram que se surpreenderam na sexta-feira quando, cinco anos depois que ele começou a usar vestidos e um ano depois de participar de um projeto de um fotógrafo, ele disse que era gay.
As escolas públicas de Minneapolis oferecem alguns dos guias mais completes para professores, estudantes e pais como parte de seu programa de apoio a crianças LGBTQ, expondo políticas sobre pronomes, atividades e ambientes voltados para elas, além de esclarecimentos sobre segurança e bullying desenvolvidos ao longo de 20 anos, diz Jason Bucklin, coordenador do programa Out4Good.
Cerca de 2,7% dos alunos do ensino médio de Minnesota se identificam como transgênero ou não-binários, de acordo com um estudo da Universidade local, de 2017.
Um currículo que inclua todos os gêneros pode prevenir o bullying que se desenvolve no colégio e pode envolver homofobia no ensino fundamental e assédio sexual ou violência no colegial, diz Bucklin.
"Isso não é somente sobre estudantes trans", diz Bucklin. "É sobre envolver trazer todo mundo para a sala de aula e ter a capacidade de se sentir um sucesso"
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