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Dieta dos 21 dias

Imagem: iStock / Arte UOL

A Dieta de 21 dias é uma febre nas redes sociais e no Youtube. São dezenas de vídeos e blogs com texto semelhante e alegações que vão de queimar gordura sem fazer exercícios a reduzir a celulite. O método foi criado por Rodolfo Aurelio, descrito como naturopata, microfisioterapeuta, osteopata e um "assíduo pesquisador científico". Não há, contudo, registros de pesquisas suas nas principais plataformas de busca.

Imagem: Arte/UOL
A nutricionista Mariana Del Bosco, jurada do Ranking das Dietas do VivaBem, aponta que até existem teorias sobre como três semanas (21 dias) são tempo suficiente para fixar um novo hábito. No entanto, como essa dieta parece ser muito restritiva, não é uma boa pedida. "Para pacientes suscetíveis, a dieta de restrição pode ser um gatilho para compulsão alimentar e outros transtornos", explica a especialista.

Por isso, a dieta ficou em 22º lugar entre as 26 dietas apuradas por nosso júri no Ranking das Dietas 2020. Ou seja, é a quinta pior entre as elencadas.

Baseados nas poucas informações disponíveis sobre o cardápio sem de fato comprá-lo, conversamos com especialistas sobre suas bases —uma mistura de dieta low carb com jejum intermitente — e promessas. A principal preocupação é o fato de ser um cardápio fechado e com tempo determinado.

O que é a dieta dos 21 dias

Imagem: iStock
Existem muitos "desafios dos 21 dias" disponíveis na internet. Embora não dê para saber em detalhes o cardápio, em linhas gerais ele prega a exclusão de frituras e alimentos ultraprocessados por 21 dias, consumo de fibras e redução das calorias ingeridas durante o dia.
A dieta promete forçar o organismo a perder gordura, além de diminuir cintura, acelerar metabolismo, ter cabelo, pele e unhas mais saudáveis, melhorar o colesterol, reduzir a celulite e aumentar energia. Seus defensores alegam ainda que não é preciso fazer exercícios intensos e longos para obter estes resultados, basta seguir séries curtas (que você só descobre quais são pagando).

A propaganda é suspeita, e há, inclusive, vídeos ensinando as pessoas a vender a dieta na internet. Leigos explicam como montar e-books sobre a dieta com receitas low carb encontradas na internet para convencer os clientes em potencial.

A reportagem tentou contato com o autor da dieta pelas redes sociais —não há outro canal disponível — mas não obteve retorno.

Como funciona a dieta dos 21 dias

É um mistério. No site que vende a dieta, há uma tela inicial onde é possível colocar dados como preferência alimentar e nível de atividade física, o que indica que talvez haja algum nível de personalização do esquema, mas é difícil saber com certeza.

O questionário ainda pergunta que receitas a pessoa gostaria de comer de maneira mais saudável, entre cookie, pizza, bolo, pão e panqueca. Só que, no fim das contas, o usuário é redirecionado para um site onde insere apenas dados de contato e pagamento, para pagar R$ 97. No esquema de revenda, contudo, o valor pode ultrapassar R$200.

O comprador recebe e-books, vídeo aulas e um cardápio personalizado. Um programa de exercícios de 10 minutos ao dia, três vezes por semana, também está incluindo no pacote. No Youtube, os vendedores da dieta dizem que ela mistura low carb e jejum intermitente.
Nos primeiros dias, ocorre a redução dos alimentos ultraprocessados e à base de farinha branca. É permitido comer pequenas quantidades de carboidrato. A redução é gradual, e entre o quarto e o sétimo dia as fontes do macronutriente --como pão, macarrão e batata -- são limadas da dieta. Nesse período, a prática de atividades físicas é contraindicada.

Fast-foods, embutidos como presunto e salame, refrigerante e outras "porcarias" são proibidos.

A dieta é segura?

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Há riscos, mas vamos por partes. Quanto ao jejum intermitente, pode haver hipoglicemia, a queda brusca de açúcar no sangue, especialmente em gestantes, diabéticos e portadores de outras condições que exigem o controle adequado da glicose.

Outros grupos vulneráveis são idosos, jovens, pessoas que tomam medicamentos ou com histórico de transtornos alimentares. Para eles, pode haver outros efeitos negativos, como dores de cabeça e incapacidade de concentração.

A restrição brusca de carboidratos tem efeitos colaterais semelhantes. "O consumo do macronutriente está na base da nossa pirâmide alimentar justamente por conta de sua importância para o organismo", destaca Weruska Davi Barrios, nutricionista mestre pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O corpo até acha uma nova maneira de obter energia, mas o organismo fica num estado de estresse constante, que pode ser prejudicial. Fora que um cardápio engessado como esse pode desencadear episódios de compulsão alimentar, azedando assim a relação com a comida e a própria saúde mental.

A dieta dos 21 dias realmente emagrece?

Até emagrece, mas é pouco provável perder 10 quilos em 21 dias. Em um plano equilibrado e com mais chances de promover resultados duradouros, o ideal é perder entre dois e quatro quilos por mês --número que varia conforme peso, altura, idade e condições de saúde.
Outra questão é que, diferente do alegado, não são 10 quilos de gordura corporal eliminados - junto vai músculo e água. Ou seja, a história de transformar o corpo em uma máquina de queimar tecido adiposo não é bem assim, especialmente sem fazer exercícios, como prega o site da dieta.

"Além do déficit calórico, a atividade física resistida, de força, aumenta a massa magra do corpo, o que faz com que gastemos mais calorias durante o dia, consequentemente queimando mais gordura", destaca Camila Carvalho, nutricionista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Vale ou não fazer?

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O ponto mais positivo da dieta é a base de alimentos in natura. A combinação de fibras dos legumes e cereais integrais (enquanto eles podem ser consumidos), proteína e gorduras boas promove saciedade.

"Um ponto negativo muito importante é o fato de ser uma dieta fixa e generalista, que não leva em conta a individualidade de quem vai fazer a dieta, além de realizar cortes desnecessários, como o de carboidrato", comenta Carvalho.

21 dias também é considerado pelos especialistas um tempo curto para mudar o hábito alimentar, outra promessa da dieta -mesmo que algumas teorias apontem esse número de dias como ideal. Com tudo isso em mente, o ideal é apostar na boa e velha reeducação alimentar e no acompanhamento nutricional. Esses sim, emagrecem de verdade.

Fontes: Camila Carvalho, nutricionista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Renato Zilli, endocrinologista do Hospital Sírio Libanês; Werusca Davi Barrios, nutricionista.

Reportagem: Chloé Pinheiro

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