Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
É só uma gordurinha no fígado? Entenda por que não devemos subestimá-la
Ignorada por muitos, aquela gordurinha acumulada no seu fígado pode causar complicações e progredir para quadros mais sérios.
A esteatose hepática, mais conhecida como gordura no fígado, ocorre quando o fígado apresenta um acúmulo excessivo de gordura em suas células. Essa alteração hepática contribui para aumentar o risco de desenvolver diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares (infarto, AVC) e diversos tipos de câncer.
A grande preocupação é que essa condição, apesar de não manifestar sintomas na maioria dos casos, não é nada inocente! A esteatose hepática pode evoluir para graus progressivos de inflamação no órgão, causando esteato-hepatite, cirrose, câncer de fígado e até mesmo levar à necessidade de transplante hepático. Daí a importância de não subestimá-la e intervir o quanto antes!
Os principais fatores associados ao acúmulo anormal de gordura no fígado são excesso de peso, sedentarismo, consumo excessivo de álcool, diabetes e maus hábitos alimentares.
Apesar de ser mais comum nesse grupo de risco, pode ser identificada em pessoas magras e também vem sendo observado aumento expressivo de casos em crianças e adolescentes, geralmente como resultado de um estilo de vida ruim.
Logo, se você está acima do peso, apresenta aumento da circunferência abdominal, é sedentário, é portador de pré-diabetes/diabetes, ou ainda, não consegue controlar suas taxas de colesterol e triglicerídeos, sugiro que procure avaliar a saúde do seu fígado.
Este ano, o dia 9 de junho foi eleito como o Dia Internacional de Conscientização sobre a Doença Hepática Gordura Não Alcoólica (International NASH Day), com a finalidade de aumentar a visibilidade e lançar um alerta sobre a importância do diagnóstico precoce dessa condição. Quando prontamente tratada, o quadro pode ser revertido, sem gerar maiores complicações.
Atualmente, a esteatose hepática é considerada uma epidemia silenciosa, por ser uma das doenças mais comuns do fígado, já afetando 115 milhões de pessoas em todo o mundo, geralmente assintomáticas.
Pelo seu caráter silencioso, muitos pacientes descobrem o problema incidentalmente através da realização de ultrassonografia de abdome ou da dosagem de enzimas hepáticas (TGO e TGP) no sangue em avaliações de rotina.
O aumento do número de casos de gordura no fígado apresenta forte correlação com o crescente aumento da obesidade e das suas repercussões metabólicas. Diante desse fato, especialistas na área têm sugerido a modificação da sua nomenclatura para Doença Hepática Gordurosa Metabólica (DHGM).
Últimos dados já apontam a DHGM como a doença hepática mais comum em todo o mundo e a terceira causa de câncer no fígado nos Estados Unidos, sendo ainda a segunda maior causa de transplante hepático, com a perspectiva de liderar esse ranking em um futuro próximo.
Diante de números tão alarmantes, em indivíduos portadores de obesidade ou síndrome metabólica (hipertensão, dislipidemia, diabetes), recomenda-se a triagem para esteatose hepática com enzimas hepáticas e/ou ultrassonografia como rotina inicial de investigação.
Mas calma! É possível reverter esse quadro, sobretudo nas fases iniciais. O pilar essencial do tratamento consiste na manutenção de um peso adequado através de exercícios físicos regulares e de uma alimentação rica em fibras, legumes, frutas e verduras.
Perdas discretas em torno de 5% do peso corporal já são potencialmente capazes de melhorar a esteatose e as alterações hepáticas. Por exemplo, para um homem de 100 kg cujo peso ideal seria 80 kg, a redução do peso para 95 kg já traria benefícios para a saúde hepática, mesmo sem atingir o peso adequado. No entanto, perdas mais significativas precisam ser estimuladas, pois quanto maior a perda de peso (> 5-7%), maior a resposta na redução da inflamação e estabilização da fibrose.
Por fim, é fundamental definir o grau de acometimento hepático de cada paciente, com o intuito de entender os riscos e direcionar a melhor abordagem. Assim, com identificação e intervenção precoces, essa condição pode ser passível de controle ou, até mesmo, de reversão.
Referências
1. https://www.international-nash-day.com
2. Anstee QM, Reeves HL, Kotsiliti E, Govaere O, Heikenwalder M. From NASH to HCC: current concepts and future challenges. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2019;16(7):411-28.
3. Chalasani N, Younossi Z, Lavine JE, Charlton M, Cusi K, Rinella M, et al. The diagnosis and management of nonalcoholic fatty liver disease: Practice guidance from the American Association for the Study of Liver Diseases. Hepatology. 2018;67(1):328-57.
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