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Jairo Bouer

O que a covid-19 e o sexo têm em comum?

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Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

13/07/2020 04h00

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Apesar de o número de casos e de mortes por covid-19 ainda estar muito alto, muitos brasileiros têm retomado, aos poucos, alguns hábitos anteriores à pandemia, seja pela abertura permitida pelas autoridades locais, seja pela tal "fadiga da quarentena".

Mas, ao se reunir com colegas, ou permitir que outras pessoas voltem a frequentar nossa casa, a gente deve lembrar que cada uma dessas pessoas também tem se relacionado com outras tantas. Se no meio dessa rede houver alguém doente, você também está em risco. Por isso, a recomendação é não abandonar a máscara, prestar atenção ao distanciamento físico, lavar sempre as mãos e manter o ambiente arejado. Cumprimentar com beijo e deixar as crianças compartilharem o mesmo copo são costumes que devem ser evitados, por enquanto.

Para quem trabalha com saúde ou educação sexual, é impossível não fazer um paralelo desse "novo normal" com a prática do sexo seguro. Após o diagnóstico de covid-19 ter sido anunciado pelo presidente Jair Bolsonaro, vários ministros e outras pessoas que estiveram com ele fizeram testes para saber se estavam infectados. Da mesma forma que devemos informar nossa rede de contatos sobre um eventual teste positivo para o coronavírus, é fundamental que toda pessoa com vida sexual ativa avise o(s) parceiro(s) ao descobrir que está com HIV, HPV, sífilis, gonorreia ou qualquer outra infecção sexualmente transmissível (IST). Esse tipo de procedimento facilita o controle de qualquer doença infecciosa transmissível.

Para um médico, não é nada incomum ter de lidar com situações de infidelidade em que é preciso reforçar para o paciente a importância da comunicação. Descobrir um caso extraconjugal pode ser doloroso, mas é muito pior ter a vida em risco por causa de uma infecção não diagnosticada. Quando não tratadas, ISTs podem causar infertilidade, câncer, demência e até morte, para não falar nos riscos ao bebê, quando a mulher está grávida.

Alguns especialistas, no mundo todo, têm usado o termo "redução de danos" ao se referir à covid-19. Como sabemos que ninguém vai conseguir se manter isolado por tempo indefinido, é preciso pensar em meios de reduzir as chances de transmissão, o que envolve regras de etiqueta, higiene e até mudanças no sistema de circulação de ar.

No universo do sexo, reduzir danos pode ter vários significados. Por exemplo: se você tem um(a) parceiro(a) fixo(a), com quem não usa camisinha, mas não consegue evitar a tentação de transar com outras pessoas, é fundamental que você use preservativo ou alguma outra forma de profilaxia (PrEP, por exemplo), nessas relações casuais. Além disso, é preciso que você faça alguns exames laboratoriais de rotina para ter certeza de que está tudo OK. Se algum resultado sair positivo, é preciso abrir o jogo.

Quem trabalha na área de sexualidade sabe que não basta ensinar os jovens sobre o funcionamento do aparelho reprodutivo e a importância do preservativo. É preciso ensinar, também, habilidades de comunicação: garotos e garotas devem aprender a dizer "não", fazer valer suas regras e avisar quando o outro avançou o sinal vermelho. O consentimento é essencial, é a regra de ouro, desde situações como o primeiro beijo ou a primeira transa até práticas como relações abertas e poliamor.

Informação, diálogo e acordos são fundamentais sempre, tanto para a saúde sexual quanto para a prevenção da covid-19. Se seu pai ou sua mãe sofrem de alguma doença crônica, e você já voltou ao trabalho, vai fazer tudo para não colocá-los em risco, certo? Se for internado ou pegar um avião, vai esperar alguns dias antes de fazer uma visita, ou vai tomar todos os cuidados possíveis para protegê-los caso a convivência seja inevitável. O mesmo deve valer para todas as suas relações sociais. Por isso, converse antes de marcar encontros, almoções em casa e estabeleça regras para que ninguém se sinta culpado ou se arrependa depois.