Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Depressão na infância e adolescência deve acender alerta
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A depressão na infância e adolescência pode aumentar o risco do aparecimento de uma série de problemas de saúde na vida adulta, inclusive com maior risco de morte precoce. É o que diz um novo trabalho científico de fôlego feito na Suécia por mais de 30 anos.
O estudo investigou quase 1,5 milhão de jovens e os resultados foram publicados na última semana no Jama Psychiatry (Journal of the American Medical Association).
O trabalho identificou que 2,5% dos jovens com idade entre 5 e 19 anos tiveram um diagnóstico de depressão. Eles foram acompanhados até a vida adulta e comparados a um grupo controle. Mesmo descontando fatores como outras comorbidades psiquiátricas (abuso de substâncias e transtornos de ansiedade, por exemplo), a depressão na infância e adolescência continuou a apresentar riscos importantes para o futuro da saúde de muitos deles.
Dos 37 mil jovens identificados com depressão, 67,5% eram do sexo feminino. A média de idade do primeiro diagnóstico foi entre 16 e 17 anos.
A pesquisa avaliou 69 condições de saúde dos adultos, bem como taxas de mortalidade. A depressão nos jovens aumentou o risco relativo do aparecimento de 66 dessas doenças e maior risco de morte precoce. As associações mais fortes foram com automutilação (principalmente em mulheres), desordens do sono, hepatites virais, suicídio e mortalidade por todas as causas.
Explosão de casos de ansiedade e depressão em jovens
Importante lembrar que quadros de depressão e ansiedade entre os jovens já preocupam especialistas e autoridades em saúde pública há algum tempo —e têm aumentado de forma importante na última década.
Múltiplos fatores podem estar envolvidos com o crescimento do número de casos, como a maior distância afetiva e o menor tempo passado com os pais, individualismo e competição entre os adolescentes, cobrança sociais para que o jovem seja cada vez mais multitarefas, uso maciço de redes sociais com maiores riscos de exposição exagerada, cyberbullying, padrões de imagem corporal e de felicidade distorcidos, dependência de telas, rejeições e exclusões seriadas (cancelamentos), entre outros.
O estudo sueco investigou jovens nascidos entre 1982 e 1996, acompanhados na vida adulta até 2013, e os dados foram analisados entre 2019 e 2020. Portanto, os jovens foram avaliados antes da atual fase mais crítica da depressão, que segundo a OMS enfrenta uma explosão de casos principalmente na última década.
Pandemia
E o que já vinha mal ficou ainda pior com o coronavírus. O resultado do estudo é particularmente importante em um momento em que a saúde mental de muitos jovens, que já vinha fragilizada, está sob maior pressão. O sofrimento psíquico deles só piorou com o isolamento social, a mudança de rotina e a distância da escola.
A geração que vive nas redes sociais pareceu sentir de maneira mais impactante a separação física dos amigos e colegas do que as faixas etárias mais velhas da população. A resiliência dos jovens para uma fase tão longa de afastamento e reclusão não é infinita.
Quem atende crianças e adolescentes relata que nos últimos meses, com o prolongamento das medidas de restrição de contato social e as incertezas sobre o retorno a uma certa normalidade (inclusive a volta às aulas), percebe um agravamento de casos de depressão e ansiedade. Com a piora da situação no Brasil nas últimas semanas, o cenário pode ficar ainda mais agudo.
Se os resultados da Suécia forem replicáveis mundo afora e em condições de absoluta excepcionalidade como a que estamos atravessando, as autoridades em saúde e educação vão ter que acender o sinal de alerta e ampliar o radar da rede de diagnóstico, suporte e atendimento em saúde mental dos jovens, sob o risco dessa se tornar uma geração de adultos que vai adoecer muito mais no futuro (no corpo e nas emoções) e enfrentar riscos reais de mortalidade mais precoce. Atenção!
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