Topo

Jairo Bouer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sete questões em educação sexual que podem mudar sua forma de ver o mundo

iStock
Imagem: iStock

Colunista de VivaBem

03/04/2023 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Se você está na faixa dos 30-40 anos é bem possível que:

  • A. Você não teve nada de educação sexual na escola
  • B. Até teve, mas ela ficou focada na biologia do sexo e na prevenção de gravidez e de ISTs (infecções sexualmente transmissíveis), que, aliás, na "sua época" eram chamadas de DSTs.

Um artigo publicado esta semana no site The Conversation traz um painel interessante sobre esse tema.

Com informações mais truncadas, a vida sexual de muitos adultos hoje esbarra em preconceitos e distorções que, muitas vezes, dificultam a relação a dois. Muita gente aprendeu a duras penas com a vida, mas outros tantos seguem dando cabeçadas por aí.

O pior é que, com o sumiço dos programas mais abrangentes de sexualidade das redes públicas de ensino e das escolas particulares, atropelados em parte pela onda conservadora que tomou conta do país, nossos adolescentes podem estar fadados a enfrentar as mesmas dificuldades dos seus pais.

Assim, tento trazer, resumidamente, alguns desses conceitos centrais para uma experiência afetiva e sexual menos conflituosa nos dias de hoje. Vamos lá?

1. Desejo sexual normal não existe!

Tem gente que quer todo dia, tem gente que quer uma vez por mês, e tem gente que pode não querer nunca. As pessoas são diferentes e têm desejos distintos.

Nosso desejo pode ser influenciado por diversos fatores: hormônios, estresse, preocupações, estilo de vida, qualidade da relação, remédios, pílula, entre outros tantos. É importante entender essas oscilações e se comunicar com seu parceiro. Agora, se seu desejo sexual (ou a falta dele) está atrapalhando sua vida, é importante procurar um profissional de saúde.

2. Diálogo é fundamental!

É importante naturalizar as conversas sobre sexo com os amigos (não para contar vantagens e distorcer a realidade, mas para dividir experiências).

Mais importante ainda é falar com seu parceiro sobre o tema, checar expectativas, assumir os medos. Sexo, para muita gente, ainda é cercado de mitos e tabus, e essa posição precisa ser ultrapassada. Comunicação é a alma do negócio, melhora a intimidade do casal, a qualidade da relação afetiva e a satisfação sexual.

3. Fantasias fazem parte da vida!

Se você tem fantasias, preferências, fetiches, por que trancar dentro do armário e não dividir com seu parceiro? Se a proposta é melhorar a vida sexual, que tal deixar tudo mais claro?

Não é feio, sujo ou impróprio ter fantasias. Elas fazem parte da sua sexualidade ou podem fazer parte da sexualidade do parceiro. Só não vale fazer nada que deixe você desconfortável ou produza algum tipo de incômodo no parceiro. Mas, lembre-se, ampliar horizontes e possibilidades pode ser um caminho para melhorar e enriquecer sua experiência sexual.

4. Fluidez sexual é uma possibilidade

Os programas de educação sexual das décadas de 1980 e 1990 eram muito focados em um modelo binário, heterossexual e cisgênero, como se as pessoas vivessem em "caixinhas" pré-definidas. As populações trans, homossexual e não binária tinham dificuldade de se encaixar nessas discussões, o que só reforçava exclusão e preconceito.

De lá para cá muita coisa mudou e pensar em sexualidade hoje é trabalhar em um modelo muito mais amplo e dinâmico.

As pessoas são diversas, podem mudar e, apesar de haver uma maioria que se enxerga com uma única orientação e identidade sexual ao longo da vida, muita gente transita por várias possibilidades. Entender essa fluidez é importante para que as pessoas possam viver sua sexualidade de maneira mais tranquila!

5. Outras formas de amar

Não existe mais um único modelo para construir relacionamentos.

Embora as relações monogâmicas ainda sejam a pretensão para a maior parte dos casais, outras possibilidades surgiram. Trisais, relações poliamorosas, relacionamentos abertos, solteiros convictos, monogamias seriadas, entre outras possibilidades, fazem parte desse horizonte multifacetado.

O maior desafio é encontrar alguém que tope o mesmo modelo que você acredita, ou, que os dois descubram juntos um novo caminho.

6. Tecnologia impacta sua sexualidade

A internet e as redes sociais vão ocupar cada vez mais espaço na vida das pessoas e influenciar suas experiências afetivas e sexuais.

Muitas pessoas se conhecem hoje pelas redes e aplicativos de encontro. Muito mais gente (e muito mais cedo) acessa conteúdos eróticos e pornográficos na internet. As pessoas trocam nudes com relativa facilidade com quem mal conhecem. Os códigos mudaram e outras formas de se relacionar vieram junto com essas transformações tecnológicas.

Quando a gente pensa em educação sexual hoje é impossível dissociar esse processo da educação digital. É importante entender essa relação cada vez mais estreita entre tecnologia e sexualidade. As redes também mudaram a forma como as pessoas se informam sobre sexualidade, de uma maneira muito mais horizontal, muito mais pulverizada, com todos benefícios e riscos que esse processo pode trazer.

7. A melhor forma de prevenção é aquela que a pessoa consegue adotar!

Apesar de serem um dos focos principais dos antigos programas de sexualidade, as ISTs seguem presentes em nossa sociedade, algumas de forma bastante importante.

O discurso de prevenção focado exclusivamente no uso da camisinha e nas mudanças de comportamento teve resultado limitado nas últimas décadas. A maior parte das pessoas não adere ao uso consistente de preservativo, nem mesmo nas relações com parceiros eventuais.

Daí a importância de se considerar as estratégias de prevenção combinada, novas tecnologias que aumentam a proteção, o que inclui vacinas, testagens periódicas, tratamento das ISTs, profilaxias pré e pós exposição ao vírus HIV (PEP e PrEP), entre outras.

A melhor forma de prevenção é aquela à qual a pessoa consegue aderir em determinado momento da sua vida. E como tudo na vida sexual, isso pode variar ao longo da vida.

E você? Como está lidando com sua sexualidade nesse novo momento?