Opinião

Dia Mundial do Câncer: a vacina e a prevenção

Todos os anos, em 4 de fevereiro, diversas entidades ao redor do mundo realizam ações de conscientização para lembra o Dia Mundial do Câncer. A data tem como objetivo principal alertar sobre prevenção e fatores de risco, e garantir o acesso a diagnóstico e tratamento.

Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o Brasil vai registrar cerca de 704 mil novos casos da doença só em 2024. São números que, infelizmente, ainda apresentam alta ano a ano, que geram impactos econômicos, sociais, profissionais e emocionais.

Se de um lado precisamos garantir o melhor cuidado a estes pacientes em qualquer estágio do diagnóstico, é fundamental que trabalhemos na prevenção, para evitar que esta estatística cruel siga no caminho de crescimento.

O rastreamento para os cânceres de mama, próstata, colo de útero, intestino e pulmão pode, quando indicado, ser fator de extrema relevância para auxiliar no diagnóstico precoce e melhores prognósticos.

E já não há dúvidas que a adoção de um estilo de vida mais saudável, com uma dieta equilibrada, uma rotina de atividades físicas, sem consumo de álcool e de cigarro, é uma atitude importante na prevenção dos tumores mais incidentes.

Neste ponto, vale uma atenção especial para uma atitude simples que pode salvar vidas: a vacinação.

Quando me questionam sobre a eficácia da vacina contra o HPV, especialmente como estratégia para a erradicação do câncer do colo do útero, costumo citar o exemplo da Austrália. Lá, onde houve um esforço para que as campanhas de imunização atingissem porcentagem significativa da população, praticamente não existem novos registros da doença.

No início do ano passado, compartilhei os dados positivos aqui neste mesmo espaço: o país da Oceania registra apenas seis novos casos deste tipo de tumor por 100 mil mulheres e as mortes devem cair para uma por 100 mil mulheres até a próxima década.

Nos últimos dias, um estudo publicado no Journal of the National Cancer Institute chamou bastante atenção por confirmar que a imunização contra o HPV previne contra o câncer de colo de útero. E um ponto importante na conclusão dos pesquisadores: "as mulheres de áreas mais desfavorecidas se beneficiam mais da vacinação do que as de áreas menos desfavorecidas".

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Os cientistas analisaram o banco de dados da Escócia e cruzaram informações sobre o registro de câncer, imunização e condições socioeconômicas.

Segundo os resultados descritos, não houve casos de câncer de colo de útero em mulheres que haviam sido imunizadas aos 12 ou 13 anos de idade.

Entre aquelas vacinadas dos 14 aos 22 anos de idade e que receberam três doses da vacina bivalente, foi verificada uma redução significativa na incidência de tumores, em comparação com todas as mulheres não vacinadas.

Trata-se de mais um estudo robusto, comprovando a eficácia da vacina contra o HPV para a prevenção não apenas dos tumores no colo do útero, mas também de casos de câncer de pênis, canal anal e orofaringe, por exemplo.

Não podemos nos esquecer de mencionar, ainda, a vacina contra a hepatite B. O vírus HVB, causador deste tipo de hepatite, é um fator de risco importante para o desenvolvimento de câncer de fígado.

E, o mais importante, estas vacinas estão disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde). Segundo o Ministério da Saúde, a vacinação contra o vírus HPV vale para meninas e meninos de 9 a 14 anos; homens e mulheres transplantados; pacientes oncológicos em uso de quimioterapia e radioterapia, pessoas vivendo com HIV/Aids e vítimas de violência sexual.

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A imunização contra a hepatite B está disponível para toda a população, mas são necessárias três doses para garantir a proteção.

Lembre-se de manter a caderneta de vacinação e os exames periódicos em dia. O autocuidado é a melhor forma de prevenção contra o câncer!

*Fernando Maluf é diretor associado do Centro Oncológico da BP - Beneficência Portuguesa de São Paulo, membro do Comitê Gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e fundador do Instituto Vencer o Câncer. É formado em medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, onde hoje é livre-docente.

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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