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Paola Machado

Cinesiofobia: como medo de se movimentar pode atrapalhar a saúde

Dor lombar é um problema que costuma afetar pessoas sedentárias - iStock
Dor lombar é um problema que costuma afetar pessoas sedentárias Imagem: iStock

Colunista do VivaBem

29/09/2020 04h00

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Como já expliquei, a cinesiofobia pode ser definida como um estado em que a pessoa sente um medo excessivo, irracional e debilitante do movimento físico ou de uma determinada atividade, pelo receio de sentir dores ou sofrer lesões.

É importante entender que o medo é uma reação natural do corpo, que tem objetivo de protegê-lo, mas passa a ser considerado um transtorno quando incapacita ou prejudica a qualidade de vida da pessoa, interrompendo o andamento de tratamentos ou interferindo diretamente em suas atividades de vida.

Geralmente, a cinesiofobia está associada a baixos níveis de atividade física e a dores crônicas no corpo. Em clínicas e consultórios médicos, é um aspecto importante que influencia diretamente em estratégias de reabilitação, impactando no sucesso de um tratamento. Pessoas acometidas por cinesiofobia grave podem ficar limitadas em suas atividades e param de realizar tarefas comuns, o que as leva a um ciclo de mais sedentarismo e inatividade física.

Esse comportamento de evitação afasta a pessoa não só de se manter física e mentalmente saudável, como pode prejudicar também o tratamento de diversas doenças. Veja a seguir quais são as principais dela.

Dor Lombar Crônica

O problema, que várias vezes já abordei aqui na coluna, é muito comum no mundo todo. Quando se pensa em tratamento de dores lombares crônicas, o padrão ouro conservador é o exercício —fisioterapia. Porém, quando se pensa em tratar uma pessoa com dor lombar associado a um quadro com cinesiofobia, é preciso considerar um trabalho de reeducação de crenças desse indivíduo.

Quem tem dores crônicas geralmente consegue já criar um padrão de reconhecimento de movimentos ou determinadas posições que geram alívio da dor na região lombar, mas da mesma forma, acreditam que certos movimentos provocam a dor ou até ocasionam uma lesão na coluna. Esse medo leva o indivíduo a evitar esses movimentos e, no pior dos casos, a evitar se movimentar de forma geral, gerando a redução de força e controle da atividade muscular nas costas e no abdômen, prejudicando completamente o andamento do tratamento.

Osteoporose

Outro tema já abordado na coluna foi sobre essa doença esquelética sistêmica que causa enfraquecimento dos ossos e aumenta o risco de fraturas. O que a osteoporose pode ter a ver com medo de dor ao movimento?

Acredite, essa doença pode ser diretamente impactada pela cinesiofobia. A falta de informação ou educação adequada sobre uma doença pode criar expectativas e crenças ilógicas que limitam o tratamento. Muitas pessoas acometidas pela osteoporose e até osteopenia possuem um medo irracional de fraturar ossos com algum exercício físico e com cargas. Estudos apontam que indivíduos com osteoporose apresentam níveis significativamente mais elevados de cinesiofobia, em comparação a indivíduos saudáveis.

Enxaqueca

Estudos relatam que a prevalência de cinesiofobia em indivíduos com enxaqueca é de 53%, e esse quadro ainda é associado a alodinia cutânea grave, isso é, uma maior sensibilidade ao toque associado ao desconforto.

No caso da enxaqueca, o que mais chama atenção nos indivíduos acometidos é a crença de que a atividade física não poderia ajudar a controlar ou até aliviar a dor. Ainda, os que indivíduos com enxaqueca e cinesiofobia acreditam que o exercício possa ser prejudicial à dor de cabeça.

Impacto da cinesiofobia na saúde e reabilitação clínica

  • É importante entender que cerca de 50% a 70% dos casos de dores crônicas desenvolvem a cinesiofobia.
  • Geralmente, a cinesiofobia vem acompanhada do efeito nocebo, que é o ato de gerar uma expectativa negativa de que algo fará a pessoa piorar, levando à catastrofização da dor.
  • Estratégias específicas de educação devem ser implementadas, já que crenças negativas relacionadas ao exercício estão presentes.
  • Pacientes com depressão apresentaram maior intensidade de dor, maior medo de movimento e de realizar atividades físicas.

A atividade física é essencial para manter a saúde muscular, articular, óssea e todos os demais aspectos da saúde não só associados aos quadros que citamos.

Os indivíduos devem ser educados e aconselhados sobre a importância da atividade para superar a cinesiofobia e assim realizar o tratamento mais adequado. Muitas vezes, pode ser necessário o suporte e acompanhamento psicológico. É comum que quem possua cinesiofobia não seja aderente a um tratamento que envolva exercícios e opte apenas por seguir o tratamento medicamentoso —considerado mais "seguro". O tratamento com abordagem multidisciplinar é eficaz nesses casos de cinesiofobia.

*Colaboração Dra. Juliana Satake Fisioterapeuta da LA POSTURE e Dra. Renata Luri Fisioterapeuta Phd pela Unifesp.

Referências:

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